Mensagens mostram que Samarco-Vale sabia de problemas em barragem

Com base em troca de mensagens entre ex-presidente da Samarco-Vale, Ricardo Vescovie a cúpula da empresa, a Polícia Federal concluiu que a empresa sabia da existência de problemas na barragem de Fundão, em Mariana (MG), antes de a estrutura se romper e, portanto, agiram com negligência.
 

Samarco VAle Baixo Guandu Espírito Santo

Considerado o pior desastre ambiental do país, o rompimento da barragem, em 5 de novembro, deixou 19 mortos, centenas de desabrigados e poluiu o Rio Doce, que percorre diversas cidades até atingir o mar do Espírito Santo.

As mensagens foram apreendias pela polícia na sede da mineradora e é uma das provas usadas para indiciar Vescovi por suspeita de crime ambiental. Além dela, outras sete pessoas foram indiciadas, além das empresas Samarco, a Vale e a consultoria VogBR.

Nas mensagens trocadas em agosto de 2014, um dos diretores da empresa, Kleber Terra, avisa Vescovi sobre "trincas no maciço onde desviamos o eixo".

"O quê??? Ai, ai, ai Fica esperto", respondeu o ex-presidente da Samarco-Vale, que pergunta ainda que tipo de trinca era. "Só no maciço ou conecta com o interior da barragem?". Terra responde que era só no maciço (parede externa da barragem) e que tudo estava controlado.

Mas mensagens trocadas em 2011 evidenciam que o problema era antigo. Na conversa, Vescovi combina um jeito de mostrar que os problemas da barragem não pioraram e que a empresa estava apenas sendo mais "crítica na avaliação da severidade" desses problemas.

Por meio de nota enviada ao Estadão, que publicou o diálogo, o advogado do ex-presidente da Samarco-Vale, Paulo Freitas Ribeiro, disse que Vescovi "jamais recebeu qualquer aviso ou alerta sobre eventual comprometimento da segurança da barragem de Fundão e tampouco tentou esconder informação de qualquer sorte".

"Pelo contrário, as informações que recebeu sobre incidentes naturais de operação indicavam que a barragem se encontrava rigorosamente dentro dos padrões de segurança, conclusão alçada por diversos especialistas", afirma o advogado à publicação. Ele ainda classificou o relatório da PF como "provisório" e de "entendimento unilateral".

De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, a Samarco-Vale também fraudou documentou ao pedir o licenciamento para a barragem de Fundão. Segundo a Promotoria, a barragem também não tinha licença ambiental para receber rejeitos de minério da Vale, dona da Samarco junto à anglo-australiana BHP Billiton.

Ainda de acordo com a promotoria, a consultora VogBR, responsável pelo último atestado de estabilidade de Fundão, omitiu informações em estudos submetidos ao licenciamento ambiental, levando os órgãos ambientais.

A companhia também teria omitido condicionantes de funcionamento ao pedir a revalidação da licença de operação da barragem.

O Ministério Público destaca também que as obras que eram feitas no local onde a barragem se rompeu não tiveram autorização da Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente), órgão responsável pela fiscalização da estrutura.