Foto de vítima da ditadura militar do Chile vence concurso em 2016

A foto que venceu o concurso FotoPrensa2016 no Chile é de uma vítima da ditadura militar de Augusto Pinochet. Esta mulher que aparece refletida no vidro ao lado de um militar teve seu rosto queimado pelos agentes da ditadura em 1986. Trata-se de Carmen Gloria Quintana, que sobreviveu à tortura e voltou para denunciar o crime.

Por Mariana Serafini

FotoPrensa 2016 - Marcelo Hernández

Segundo um dos jurados do concurso, o diretor da Escola de Fotografia do Instituto Arcos, Héctor López, “essa é uma ferida que sempre vem à tona”. E por isso os jurados escolheram premiar esta foto, que segundo eles, os “representa como país”.

O autor da imagem, o fotógrafo Marcelo Hernández, registra a chegada de Carmen Gloria ao Palácio La Moneda, sede do governo chileno. Ao lado dela aparece também refletido um policial militar.

Depois de sobreviver à tortura, Carmen se exilou no Canadá e após uma série de tratamentos médicos, voltou ao Chile para contar sua história. Em entrevista à BBC, ela lembra que quando foi capturada estava acompanhada da irmã e de alguns vizinhos, eles iriam participar de um protesto contra a ditadura. “Era um dia nublado, por volta das 7h30 da manhã saímos para caminhar pela vizinhança porque iríamos em marcha até a Universidade de Santiago”.

Ela e o amigo Rodrigo Rojas de Negri foram capturados pelos agentes da ditadura de Pinochet. Os oficiais primeiro jogaram combustível e depois atearam fogo neles vivos, apenas Carmen sobreviveu para contar a história.

Ao jornal local La Tercera, o jurado do concurso diz que “o tema dos Direitos Humanos no Chile não está completamente resolvido”.

A premiação aconteceu nesta quarta-feira (15). As fotos vão ficar em exposição no Espaço Fundação Telefônica, em Santiago, capital do Chile, até o dia 24 de julho. As imagens escolhidas retratam desastres naturais, a vitória do Chile na Copa América do ano passado e as manifestações estudantis de 2011.

O sangue nas mãos de Pinochet

A ditadura militar de Augusto Pinochet começou em 11 de setembro de 1973 e só terminou em 1990. Neste período, 35 mil pessoas foram presas, destas, 28 mil torturadas, quase 3 mil assassinadas e mais de mil permanecem desaparecidas. Outras 200 mil foram exiladas.

Além do presidente Salvador Allende, assassinado dentro do Palácio La Moneda, durante o golpe, outra morte marcante foi a do músico Victor Rara. Relatos dão conta que ele foi preso, junto com seus alunos, enquanto dava aula e levado a um ginásio na região central de Santiago. Lá, teve suas mãos destruídas a golpes enquanto os oficiais o obrigavam tocar seu violão.