Temer suspende negociação com Europa para receber refugiados sírios

 O governo provisório de Michel Temer (PMDB), por meio do Ministério da Justiça, suspendeu negociações que mantinha com a União Europeia para receber famílias desalojados pela guerra civil na Síria.

Mais de 900 refugiados já faleceram em naufrágios este ano no Mediterrâneo

No governo da presidenta eleita Dilma Rousseff, o Brasil buscava obter recursos internacionais para alojar cerca de 100 mil pessoas que fugiram do conflito na região. Agora, de acordo com fontes da BBC Brasil, o ministro da Justiça de Temer, o tucano Alexandre de Moraes, ordenou a suspensão.

Segundo as fontes citadas pela BBC, a decisão segue uma nova – e mais restritiva – postura do governo quanto à recepção de estrangeiros e à segurança das fronteiras. Temer defende a tese de militarização das fronteiras. A orientação dele e de seus ministros, José Serra (Relações Exteriores) e Alexandre de Moraes, ambos tucanos, vem sob a fachada de "coibir a entrada de armas e drogas e combater a violência dentro do país".

A atuação brasileira no conflito era considerada referência pelo Acnur (agência da ONU para refugiados). Enquanto vários países endureciam suas políticas migratórias em meio a preocupações com a segurança, o Brasil demonstrava solidariedade.

Em março deste ano, o então ministro da Justiça Eugênio Aragão visitou o embaixador da Alemanha no Brasil para tratar da recepção de sírios. A proposta era acolher cerca de 100 mil refugiados nos próximos cinco anos.

Essa política era encabeçada pela presidenta Dilma que reforçou que o país estava de "braços abertos" para acolher refugiados. Em 2013, o governo passou a facilitar o ingresso de sírios ao permitir que viajassem ao país com um visto especial, mais fácil de obter (a modalidade também é oferecida a haitianos). Desde então, cerca de 2 mil chegaram ao país.

O Ministério da Justiça não se manifestou oficialmente sobre a suspensão da negociação. Mas a repercussão já é negativa. Um diplomata europeu citado pela BBC disse lamentar a decisão brasileira e afirmou que a União Europeia segue disposta a tratar do tema.

Para Camila Asano, coordenadora de relações internacionais da ONG Conectas, é preocupante a nova postura do governo. o "Brasil não pode se furtar a ser parte da solução da crise síria".

"Embora o país passe por restrições econômicas, ainda somos uma das principais economias do mundo e não há nenhuma desculpa para que o governo interino reduza os esforços para acolher refugiados", disse.

Segundo Asano, o Brasil se tornou uma referência internacional pela forma com que trata o assunto, encarando-o como uma "obrigação humanitária e criando mecanismos para que refugiados sírios cheguem ao país de maneira segura".