Em 1998, Brizola fez abaixo-assinado contra desvios de Cunha

As denúncias contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nas investigações da Lava Jato são recorrentes quando avaliamos a sua trajetória política. Em dezembro de 1998, Leonel Brizola, então presidente do PDT, rechaçou publicamente Anthony Garotinho, na época governador do Rio e filiado à leganda, de nomear Cunha para a Secretaria da Habitação. Ele organizou um abaixo-assinado entre os militantes do PDT para pressionar Garotinho.

Brizola e Cunha - Reprodução

O motivo do rechaço de Brizola era por conta dos desmandos orquestrados por Cunha à frente da Cehab (Companhia Estadual de Habitação).

“Veja este problema, com tantas denúncias e reclamações, talvez seja a pior parte do governo", disse Brizola, informando que enviou abaixo-assinado pedindo o afastamento de Cunha, "devido à má-gestão e também aos seus antecedentes".

Antes de comandar a pasta da habitação, Cunha foi presidente da Telerj, a companhia telefônica estadual. Chegou ao cargo indicado por pelo então presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992). Tal indicação era considerada por Brizola uma mácula no currículo de Cunha, que se somava às denúncias de irregularidades à frente da Cehab, um dos maiores orçamentos do governo.

Não demorou muito para os fatos demonstrarem que Brizola estava certo. Em 2000, dois anos depois, Cunha foi afastado da Cehab por conta de denúncias de irregularidades em licitações. O processo contra ele por improbidade administrativa acabou arquivado no fim de 2014, por prescrição de prazo para punição.

Cunha chegou ao cargo por indicação de um importante apoiador da campanha de Garotinho, o deputado federal evangélico Francisco Silva. Dono da rádio Melodia, o parlamentar fez fortuna produzindo a Atalaia Jurubeba, bebida popularizada pela publicidade.

Rico com a venda da bebida, mas convertido, Francisco Silva teria levado Cunha para os cultos da igreja Sara Nossa Terra, onde ele também se converteu ao pentecostalismo. Atualmente, Cunha afirma que é membro da Assembleia de Deus em Madureira.

O aparelhamento de pessoas ligadas às igrejas evangélicas também foi um dos fatos repelidos por Brizola no abaixo-assinado. “O governo tem de ser mais discreto, está vivendo um protestantismo exagerado”, declarou ele na época.

“Qual a legitimidade de tantos pastores no governo?”, questionou Brizola. “Vivem posição ambígua, se queixam de tudo, começam a fazer denúncias, mas não deixam os cargos que ocupam. Ora, se o caminhão tá ruim, é só pedir para desembarcar”, completou.