Delator diz que Camargo Corrêa deu propina em dinheiro vivo ao PSDB

A delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado atingiu em cheio lideranças de diversos partidos que articularam o golpe, entre eles o campeão de citação por delatores, o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Machado disse que recebeu R$ 350 mil em dinheiro vivo de Luiz Nascimento, da Camargo Corrêa, para o PSDB. Em valores atuais, a cifra equivale a cerca de R$ 1,5 milhão.

Aécio Neves

Segundo a colunista Mônica Bergamo, no depoimento Machado disse que na campanha eleitoral de 1998, “uma das empresas que fizeram repasses de valores ilícitos foi a construtora Camargo Corrêa” e ele detalhou que “numa tarde daquele ano, fui à casa de Luiz Nascimento, que me entregou um pacote de dinheiro de R$ 350 mil para o PSDB”.

Ele reforçou ainda que “a Camargo Corrêa ajudava fortemente, e sempre foi um grande doador das campanhas tucanas”.

Investigada na Lava Jato e apontada como integrante do “clube das empreiteiras” – que articulava o esquema de propinas – a Camargo Corrêa já foi citada por outros delatores. Durante a acareação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, em agosto do ano passado, reafirmaram ter feito pagamento de R$ 10 milhões ao PSDB para evitar uma CPI no Congresso, em 2009.

Segundo os delatores, a propina foi paga para esvaziar uma CPI criada para investigar a Petrobras. Segundo Youssef, o valor de R$ 10 milhões foi pago pela empreiteira Camargo Correia ao então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, falecido em 2014.

Machado, por sua vez, disse que participou da campanha de captação de recursos para bancar a eleição de Aécio para que conseguisse a presidência da Câmara dos Deputados, em 2001. Essa afinidade com os tucanos se deve ao fato de que antes de se filiar ao PMDB, Machado foi do PSDB, onde iniciou a sua carreira política ao lado do tucano Tasso Jereissati (Ceará).

Ele disse que ficou acertado entre ele, Aécio e Teotônio Vilela Filho – na época presidente do PSDB – que levantariam recursos para cerca de 50 deputados a se elegerem e, assim viabilizar o apoio à eleição de Aécio para a presidência da Câmara. Esse esquema é o mesmo que muitos delatores acusam que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tenha feito para se eleger presidente da Câmara em 2015.

De acordo com Machado, o dinheiro foi solicitado à campanha nacional de Fernando Henrique Cardoso, que se reelegeu em 1998 como presidente do Brasil, chegando a R$ 7 milhões.

“Esses recursos ilícitos foram entregues em várias parcelas em espécie, por pessoas indicadas por Mendonça [ex-ministro das Comunicações de FHC]; que os recursos foram entregues aos próprios candidatos ou a seus interlocutores; que a maior parcela dos cerca de R$ 7 milhões arrecadados à época foi destinada ao então deputado Aécio Neves, que recebeu R$ 1 milhão em dinheiro”, detalhou Machado.

Machado também citou outros esquemas de propinas, como o notório “esquema de Furnas”, também citados por outros delatores. Ele disse que parte do dinheiro para a eleição de Aécio para a presidência da Câmara veio justamente de Furnas, à época comandada por Dimas Toledo.

“Todos do PSDB sabiam que Furnas prestava grande apoio ao deputado Aécio Neves via o diretor Dimas Toledo, que era apadrinhado por ele durante o governo Fernando Henrique Cardoso e Dimas Toledo contribuiu com parte dos recursos para a eleição da bancada da Câmara à época”, disse.