Penélope Toledo: "Musa uma ova, ela é atleta"

A tenista russa Maria Sharapova venceu sua partida em Roland Garros, mas a página de Esportes do jornal Folha de S. Paulo, em vez de destacar a vitória, ressaltou as “celulites” da moça. As coberturas televisivas dos esportes femininos, sobretudo no vôlei, comumente fazem closes no corpo das atletas, obrigadas a usar roupas curtas e que realçam a silhueta.

Por Penélope Toledo*

Atleta Rosângela Santos

O novo uniforme do Atlético Mineiro foi apresentado por mulheres seminuas, vestindo apenas a camisa e uma calcinha de biquíni. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos em que a mulher é objetificada sexualmente.

No esporte, o que importa no corpo é a sua desenvoltura, mobilidade, resistência, agilidade, força, quando preciso. A beleza do corpo é supérflua e valorizá-la é uma forma de secundarizar o talento, a técnica e os esforços das atletas. A moça treina, repete sucessivamente cada movimento, chega ao limite da exaustão para se aperfeiçoar e alcançar a mestria na sua modalidade esportiva, mas eis que a dedicação é desmerecida pela sociedade machista, para quem o que importa é a mulher ser bonita e gostosa.

“Carla Perez que se cuide”, protestaram as jogadoras da seleção feminina de vôlei em 1998, diante do micro uniforme de cinco centímetros abaixo da virilha. “Muito curto, expõe muito o nosso corpo”, “a gente fica preocupada o tempo todo em puxar o short para baixo” e “é desconfortável” foram algumas reclamações.

No futebol, o comprimento do uniforme foi igualmente motivo de polêmica. Após a declaração do coordenador da CBF na modalidade feminina do esporte bretão, Marco Antônio Cunha, ao jornal canadense The Globe and Mail em 2015, de que maquiagem e shorts curtos ajudariam o futebol das mulheres a crescer, as reações foram imediatas. O coro uníssono foi o de que o uniforme tem que ser confortável, não sensual, afinal, são atletas e não modelos.

A vaidade também fica no banco de reservas nos esportes individuais e sem bola. A australiana Jana Rawlinson, campeã mundial dos 400m com barreiras, por exemplo, tirou os implantes de silicone dos seios para melhorar seu rendimento nas Olímpiadas de Londres.

E quando não fica, traz problemas, como aconteceu com a saltadora Maurren Maggi em 2003, a poucos dias do Pan de Santo Domingo. Devido ao uso de uma pomada cicatrizante para depilação definitiva, traços do esteroide anabolizante clostebol apareceram no seu exame antidoping e ela foi suspensa por dois anos.

Como se vê, ter ou não celulites não faz a menor diferença na carreira das esportistas. O que vale é ter um corpo saudável e apto a contribuir para o bom desempenho esportivo.

A verdade é que essas coisas não deveriam importar para mulher nenhuma, porque a imposição social de que temos que estar sempre impecavelmente bonitas e adequadas a determinados padrões de beleza é um tremendo machismo! É tão absurdo, que à mulher não é permitido sequer envelhecer ou engordar. Sem falar nas consequências patológicas, com moças adoecendo física e psicologicamente para se encaixar nos ideais estéticos.

Portanto, parem com essa história de “musa” disso, “musa” daquilo. Respeitem as atletas enquanto tal e entendam: as jogadas e os lances é que têm que ser bonitos, elas não precisam. O esporte feminino não existe para satisfazer os hormônios masculinos. Nem as mulheres. Vai ter celulite sim!