Trabalhadores franceses se manifestam contra o golpe no Brasil

Os trabalhadores da França estão em permanente luta contra a austeridade do governo diante da crise economica mundial que afetou em cheio o país. A classe trabalhadora em pé de guerra contra a reforma laboral, em solidariedade aos brasileiros e à democracia, lançaram um manifesto dando apoio e relatando o ambiente de crise política instaurado no Brasil e o perigo de grande retrocesso de direitos conquistados pelo povo com um governo golpista no poder.

Trabalhadores franceses
No texto, os franceses denunciam as novas formas de golpe de Estado que a classe política conservadora e neoliberal está aplicando na América Latina, o golpe institucional, sem uso de armas. Eles tratam ainda no texto sobre o conluio destas forças, aliados aos políticos corruptos para afastar a presidenta legitimamente eleita. Segundo a nota, o “novo” governo de Michel Temer foi formado por brancos, velhos e corruptos, muitos deles investigados por corrupção. Logo nos primeiros dias de governo, diz a nota, Temer extinguiu importantes ministérios como da “Cultura, das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, e anunciou uma redução significativa nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS)”.

Confira a íntegra do manifesto abaixo:


 
Contra o golpe de Estado constitucional, afirmamos nosso apoio e nossa solidariedade à democracia e aos movimentos sociais brasileiros

Os movimentos sociais brasileiros estão sendo diretamente atacados. Eles estão sujeitos a uma ofensiva política de grande amplitude que leva o Brasil a um extenso período de regressão democrática. Desde o início de maio, Dilma Rousseff, Presidenta eleita com 54 milhões de votos, foi afastada do poder pelas duas câmaras do Congresso Nacional. Parlamentares, deputados e senadores amplamente envolvidos em casos de corrupção, instauraram um processo de impeachment contra a presidente, acusando-a de irregularidades contábeis para camuflar o deficit nas contas públicas. Essa prática, rotineira de todos os governos brasileiros, não constitui nenhum dos crimes de responsabilidade previstos pela Constituição brasileira.

É por esse motivo que os movimentos sociais, os sindicatos e todas as forças progressistas do país caracterizam a destituição de Dilma Rousseff como golpe de Estado institucional.

A Operação Lava Jato, escândalo de corrupção ligado à empresa nacional de petróleo, Petrobras, envolvendo políticos brasileiros e construtoras no financiamento de campanhas eleitorais, indignou, merecidamente, o povo brasileiro. Todos os partidos políticos estavam envolvidos em tal operação, e os deputados de direita que lideraram a campanha contra a presidente estão dentre os mais comprometidos nesse escândalo. Se apoiando nas mobilizações populares, a direita avaliou que tinha chegado o momento de iniciar uma grande ofensiva para eliminar o Partido dos Trabalhadores (PT), cujas vitórias eleitorais eles nunca aceitaram. O processo de impeachment contra Dilma Rousseff contou com o apoio de poderosas igrejas evangélicas, que possuem grande influência dentro do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), assim como dentro de diversos outros partidos de direita menores, que juntos possuem a maioria em ambas as câmaras do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal).

A prática do golpe de Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Após Honduras e Paraguai, foi a vez do Brasil. Essas novas formas de golpe de Estado sem o uso de armas se apoiam sobre uma classe política conservadora e neoliberal. Apesar dos ganhos sociais obtidos nos anos 2000 na América Latina, a direita e a extrema direita continuam sendo forças políticas poderosas, capazes de mobilizar grandes grupos através do apoio dos meios de comunicação dominantes, que por sua vez são completamente controlados pelos conglomerados industriais e pelas oligarquias nacionais. Alguns chegam a pedir a abolição do programa social Bolsa Família e das medidas implementadas pelo PT para reduzir as desigualdades.

O atual presidente interino, Michel Temer (líder do PMDB), já formou seu governo, composto unicamente por homens brancos, ricos e de meia-idade. Logo em seus primeiros dias, o governo de Temer aboliu o Ministério da Cultura e o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, e anunciou uma redução significativa nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS), equivalente à Seguridade Social na França.

A direita brasileira está comprometida com uma agenda de extrema radicalização. Ela fala sobre a necessidade de “erradicar” o PT e, especialmente, os movimentos sociais que o apoiaram, tais como os sindicatos de trabalhadores e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Mesmo que muitos deles critiquem a política econômica, social e ecológica conduzida pelo governo do PT, os movimentos sociais se opõem ao que é de fato um golpe de Estado constitucional. Sobretudo porque o eventual retorno da direita ao poder pode significar uma grande ofensiva contra as conquistas sociais, e provavelmente até mesmo a criminalização das dissidências e das ações sociais, práticas que eram a norma antes da eleição de Lula em 2002.

Em apoio à democracia brasileira, afirmamos junto aos movimentos sociais brasileiros:

"NÃO AO GOLPE, FORA TEMER!"

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Para ler a versão em francês:

· Christophe Aguiton, Attac France

· Claire Angelini, artiste et cinéaste

· Christian Azaïs, LISE – CNRS / CNAM

· Geneviève Azam, économiste, membre du conseil scientifique d’Attac

· Luc Boltanski, sociologue, directeur d’études à EHESS

· Pierre Beaudet, Université d’Ottawa

· Susana Bleil, sociologue, maître de conférence à l’université du Havre

· Stella Bierrenbach, artiste

· Erika Campelo, Autres Brésils

· Mathias Cassel aka Rockin’ Squat, chanteur

· Bernard Cassen, président d’honneur d’Attac, secrétaire général de Mémoire des luttes

· Henryane de Chaponay, CEDAL

· Jean-François Claverie, Observatoire des Changements en Amérique Latine

· Thomas Coutrot, économiste, membre du conseil scientifique d’Attac

· Mazé Torquato Chotil, chercheuse et écrivaine

· Dr Fabien Cohen, chirurgien dentiste de santé publique, secrétaire général de France Amérique Latine

· Bernard Dreano, Assemblée européenne des citoyens

· Jean-Pierre Duret, réalisateur

· Marilza de Melo Foucher- docteur en Économie, journaliste et blogueuse

· Afrânio Raul Garcia Jr., antropologue, CESSP/EHESS

· Susan George, présidente du Transnational Institute

· François Gèze, éditions La Découverte

· Franck Gaudichaud, Président de France Amérique Latine, universitaire

· Jean-Marie Harribey, économiste, Université de Bordeaux.

· Jean-Jacques Kourliandsky, chercheur à Institut de Relations Internationales et Stratégiques (IRIS-Paris)

· Kamal Lahbib, Forum des alternatives Maroc

· Jean-Louis Laville, sociologue

· Frédéric Lebaron, sociologue, professeur à l’Université de Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines

· Gustave Massiah, Cedetim/Ipam, membre du Conseil international du Forum social mondial

· Gilles Maréchal, Pacé, économiste, consultant

· Gérard Mauger, directeur de recherche émérite CNRS

· Patrice Pinell, directeur de recherche, CESSP

· Louis Pinto, sociologue

· Ignacio Ramonet, journaliste Le Monde Diplomatique

· Messaoud Romdhani, Forum Tunisien pour les Droits Économiques et Sociaux (FTDES)

· Pierre Salama, économiste, professeur émérite université Paris XIII

· Andrea Santana, réalisatrice

· Alexis Saludjian, professeur IE- UFRJ

· Glauber Aquiles Sezerino, sociologue, Autres Brésils

· Christophe Ventura, enseignant à l’Institut d’études européennes de Paris 8, Mémoire des luttes

· Patrick Viveret, philosophe, citoyen impliqué

· Freddy Vitorino, producteur

· Eric Toussaint, CADTM

· Célina Whitaker, Collectif Richesses