Em Jaraguá do Sul, UBM ocupa as ruas em defesa das Mulheres

A União Brasileira de Mulheres – UBM de Jaraguá do Sul tomou as ruas da cidade, no sábado (04) para fazer história como o primeiro movimento em defesa da mulher que toma as ruas através do ato denominado “ Pelo Fim da Cultura do Estupro”. Na rede social o evento teve mais de 12.000 convites sendo que mais de 1200 pessoas apoiaram o evento confirmando ou demostrando interesse.

mulhers contra a violencia

O ato teve como motivador o abominável estupro coletivo ocorrido na cidade do Rio de Janeiro contra uma garota de 16 anos por 33 homens. Mesmo que em uma cidade distante, esta violência liga o alerta para que casos desta natureza possam ocorrer em qualquer lugar. Mulheres são estupradas em igrejas, casas, escolas, ruas e em qualquer lugar inimaginável por homens trabalhadores, por padres, políticos, professores.

Outras violências, também chamam atenção, pois aparentemente representam um perigo menor a vida. No entanto as violências psicológicas e físicas podem desencadear sérios sofrimentos mentais nas mulheres, como depressão, abuso de substâncias psicoativas, entre outros agravos de saúde mental que terminam por influenciar em todos aspectos da vida de quem é atingida e de pessoas próximas.

Apenas no ano de 2015, foram registrados 2.379 casos de violência contra as mulheres, incluindo violências psicológicas, físicas e casos de estupro.

Durante a semana em que foi realizada a divulgação do evento as organizadoras da UBM foram intimidadas pelas redes sociais.

_ "Nos acusaram de ser benevolentes com mulheres promiscuas". afirma Joice Pacheco coordenadora da UBM

Mas o caso que mais nos mostrou que ainda temos muito a fazer na cidade sobre este assunto foi o ataque direto a coordenadora presidenta da UNA LGBT do município, Caroline Chaves. Integrante da União da Juventude Socialista – UJS e da UMB ela foi atacada pelas redes sociais.

Um internauta sugeriu que ela deveria ser estuprada, mas que não merecia. E ao fazer uma resposta pública utilizando os “prints” da mensagem do internauta a mesma foi ameaçada de processo.

Durante o ato foram inúmeras vezes que este episódio foi relatado e Caroline durante a sua fala que explicou o que é a cultura do estupro respondeu ao internauta agressor:

_ “Sou mulher, sou lésbica sempre tentam me oprimir. Mas eu não vou me render ao machismo porque a causa é muito maior. Estou esperando o processo! ” Todas as presentes fizeram gritos de apoio. 

Mariana Pires, coordenadora Presidenta do Núcleo da UBM Jaraguá do Sul e coordenadora Regional da UBM – região Sul deu o comando para de mais de 150 pessoas entre mulheres cis e LBTs, homens cis e GBTs seguissem pelo centro da cidade com gritos de guerra, batuque e protestos: “ Vamos à luta!”.

O retorno a Praça Angelo Piazzera teve grito ordem FORA TEMER por todos envolvidos!! E na sequencia ato simbólico de quebra das correntes da violência contra a mulher. 

O encerramento ocorreu com o pronunciamento de Mariana Pires, Caroline Chaves, Carolina Araújo. Mariana Pires ressalta o que muitos tentam abafar: “Hoje foi a vez de Jaraguá mostrar sua revolta. A violência existe em diferentes formas, e o estupro é a pior e mais abominável delas. Contra a cultura do estupro! ”

Carolina Araújo é filiada da UBM, representante do movimento de mulheres negras e foi escolhida por todas para fazer o fechamento do evento dando visibilidade à mulher negra.

Jaraguá do Sul tem em torno de 14% de população negra que se tornam invisíveis, pois em sua maioria ocupam as periferias da cidade, algo não diferente das demais cidades do Brasil. Sua fala emocionante trouxe a todas e todos as lágrimas.

Iniciou falando sobre os dados da violência contra as mulheres negras. E ressalta a distância entre a luta das mulheres brancas e a das mulheres negras.

_ ”Enquanto as mulheres brancas lutam para poder utilizar qualquer roupa, nó mulheres negras lutamos para sermos reconhecidas pelas nossas características, para que a textura de nossos cabelos sejam respeitados e a nossa cor. Enquanto a mulher branca luta pelo direito ao aborto, nós mulheres negras lutamos para não morrer em verdadeiros a açougues onde são realizados os abortos nas periferias. Lutamos para não sermos apenas fetiches de carnaval! ”

No fechamento foi lida, a Carta Aberta a População Jaraguaense em defesa da vida das mulheres, que será enviada para todas as autoridades da cidade cobrando ações do poder público para garantir a proteção das mulheres.

CARTA ABERTA A POPULAÇÃO JARAGUAENSE EM DEFESA DO DIREITO DA VIDA DAS MULHERES.

Nós mulheres Ubeemistas conclamamos a população jaraguense para unirem-se a nós neste ato Pelo Fim da Cultura do Machismo, pois não iremos permitir que atos de violência como o ocorrido na cidade do Rio de Janeiro aconteçam em nossa cidade.

No ano de 2015, em nossa cidade foram registrados nas delegacias da cidade 2.379 casos de violência contra a mulher. Sabemos que pelas estimativas este número deve representar apenas 20% dos casos. Pois é de reconhecimento de pesquisadores e principalmente pelas mulheres que as mulheres não realizam os registros por pena do agressor, seja por vergonha, medo ou dificuldade em realizar a denúncia. Segundo o Portal Brasil, do governo federal 70% das mulheres brasileiras sofrerão algum tipo de violência ao longo de suas vidas.

Para que possamos combater a cultura machista de nossa sociedade necessitamos do comprometimento de todos, famílias, sociedade e Estado. Sendo que o Estado possui o papel fundamental para propor meios e ações que possibilitem a mudança da sociedade. E assim a UBM enumera ações que considera fundamentais a serem executadas em nosso município:

 Criação e implantação da Política Municipal de Política Públicas para as Mulheres;

 Secretaria Municipal das Mulheres, ordenadora da política municipal de políticas públicas para as mulheres;

 Adequações legislativas e aprovação do novo regimento do COMDIM, 

 Criação e implementação de uma Política Municipal de Educação sobre Gênero, objetivando o amplo debate nas escolas e fomentando a construção de cidadãos livres da cultura machista;

 Criação e implantação de formas de combate a violência obstétrica com a contratação de Doulas para a maternidade que atende ao SUS, na cidade de Jaraguá do Sul;

 Delegacia da Mulher 24horas, nos 7 dias da semana, com profissionais capacitados ao acolhimento de mulheres cis e trans vítimas de violência; 

 Casa de acolhida exclusiva para mulheres cis e trans vítimas de violências para que elas, filhas e filhos sejam protegidas(os) de seus agressores.

 Capacitação permanente para profissionais do SUS, SUAS e Educação sobre violência contra a mulher, criança e adolescentes e população LGBT.

 Planejamento de curto prazo para ampliação das vagas em centros de educação infantil para crianças de 0 a 4 anos. O mesmo para escolas integral para crianças de 4 a 12 anos.

Certas que a sociedade Jaraguaense deseja combater a cultura machista vigente em nossa sociedade. Cidade de mulheres que lutam e trabalham na construção desta  cidade nos colocamos a disposição do poder público para construir todas as Mulheres Ubeemistas do Núcleo Jaraguá do Sul

Jaraguá do Sul, Junho de 2016