Até FMI reconhece: políticas neoliberais aumentaram desigualdade

O neoliberalismo aumenta a desigualdade e não gera crescimento. A avaliação – feita há anos por economistas à esquerda – agora parte até mesmo do Fundo Monetário Internacional. Em estudo publicado esta semana, economistas da instituição fazem uma autocrítica e apontam equívocos nas políticas neoliberais, prescritas pelo próprio FMI. O mea-culpa acontece justamente quando as forças atrasadas à frente do golpe no Brasil propõem uma restauração dessa doutrina.

Temer FMI

Intitulado “Neoliberalism: Oversold?” – algo como “Neoliberalismo: superestimado?” – o artigo resgata um debate que há anos é feito por alguns economistas sobre as experiências fracassadas das políticas neoliberais, que tiveram seu apogeu a partir dos anos 80, nos chamados países em desenvolvimento.

"Os benefícios de algumas políticas que são uma parte importante da agenda neoliberal parecem ter sido um pouco exagerados", reconhecem os economistas.

"Em vez de gerar crescimento, algumas políticas neoliberais aumentaram a desigualdade, colocando em risco uma expansão duradoura", constatam.

Os três autores – Jonathan D. Ostry, Prakash Loungani e Davide Furceri – membros do departamento de pesquisa do FMI, dizem que a abordagem tradicional que a entidade vinha pregando aos países em desenvolvimento – que previa corte de gastos do governo, privatização, livre comércio e abertura de capital – podem ter custos "significativos" em termos de maior desigualdade.

“Os custos em termos de crescente desigualdade são evidentes (…) As políticas de austeridade não só geram custos sociais substanciais, como também prejudicam a demanda e assim agravam o desemprego”, concluem.

De acordo com o texto, o aumento da desigualdade prejudica o nível e a sustentabilidade do crescimento. "Mesmo que o crescimento seja o único ou principal objetivo da agenda neoliberal, os defensores dessa agenda devem prestar atenção nos efeitos de distribuição".

Embora os três economistas reconheçam pontos positivos na agenda neoliberal, eles são categóicos ao apontar a supervalorização do neoliberalismo por parte de seus defensores.

“No caso da abertura financeira, alguns fluxos de capital, como o investimento estrangeiro direto, parecem ter os benefícios esperados. Mas para outros, particularmente os fluxos de capital de curto prazo, os benefícios em relação ao crescimento são difíceis de verificar, enquanto que os riscos, em termos de maior volatilidade e maior risco de crise se mostram crescentes.”

Segundo os autores, de 150 casos desde a década de 1980 de economias emergentes que tiveram um forte aumento dos fluxos de capital, 20% resultaram em crise financeira. Além disso, a abertura financeira gera um aumento considerável da desigualdade na população do país, alertaram.

Nesta quinta (02), o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Maurice Obstfeld, defendeu que "ninguém quer austeridade desnecessária" e admitiu que a organização está a avaliar a forma como pensa, mas não alterou a sua abordagem.

O fato é que a análise dos pesquisadores do fundo vai de encontro aos que mesmo economistas mais ortodoxos têm percebido ao reavaliarem suas teses e aceitarem o papel do Estado como elemento indutor e regulador da economia.

O Brasil, contudo, regrediu no debate, o que fica claro nesses pouco mais de 20 dias de governo Temer. O programa do governo provisório, assim como o "pacote de maldades" anunciado pelo novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, apontam para reduzir gastos sociais – mesmo em áreas como Saúde e Educação -, eliminar direitos trabalhistas, reduzir salários, congelar as despesas primárias do governo, reiniciar um ciclo de privatizações e abrir brecha para entregar o pré-sal às multinacionais.

Significa que, neste momento, o país está diante da uma encruzilhada.  Responsáveis por votar o processo de impeachment, alguns senadores têm nas mãos o poder de decidir que caminho o país tomará. Se optarem por afastar definitivamente a presidenta Dilma Rousseff, não restam dúvidas de que estarão conduzindo o país de volta aos tempos das políticas reconhecidamente fracassadas e de enorme custo social.