Felipe Bianchi: O estádio é o meio e nossas lutas são a mensagem

Foi-se o tempo em que o brasileiro apaixonado por futebol e pela cultura de arquibancada precisava garimpar livros e vasculhar a web em busca de relatos, casos e histórias envolvendo manifestações políticas no futebol.

Botafoguenses protestam no Mané Garrincha

E não raramente, ter de voltar as atenções ao estrangeiro, como no caso da icônica e flamejante rivalidade entre Livorno e Lazio, que chegou a opor comunistas e fascistas não só nas tribunas, mas também nos gramados da Itália (Cristiano Lucarelli, do lado dos livornesi, e Paolo Di Canio, pelos laziali).

Acompanhar os ultras do Borussia Dortmund levantarem faixas com mensagens de solidariedade aos refugiados sírios é apaixonante, mas agora não precisamos mais, necessariamente, olhar pra fora. Há um incandescente movimento nas arquibancadas brasileiras que, para além da paixão incondicional por determinado clube, tem detonado protestos políticos e soltado a voz sobre temas que 'a Globo não mostra' e debates que a mídia monopolista omite, interdita e, não raramente, manipula.

Esta coluna já repercutiu, em artigo publicado no dia 4 de maio, as manifestações contra o papel golpista exercido pela Rede Globo na cobertura do processo ilegal de impeachment da presidenta democraticamente eleita Dilma Rousseff. Nesta semana, foi a vez das mulheres e dos movimentos feministas transformarem as arquibancadas em suas próprias mídias para dizer não ao estupro e ao feminicídio vigente em nossa sociedade.

Torcidas de Atlético Mineiro, Botafogo do Rio e Ceará foram algumas das que levaram faixas aos estádios. Nos últimos dias, outras torcidas têm se manifestado, também, com a palavra de ordem #ForaTemer. Parece que o golpismo eclodiu, de vez, os ânimos nas arquibancadas – ao contrário do que pode aparentar o início deste artigo, não se trata de o brasileiro ser alienado, até porque os torcedores acostumaram-se a enfrentar, nos últimos anos, recorrentes proibições e repressão policial de qualquer manifestação política nas arquibancadas.

O jogo mudou. Ainda que seja apaixonante acompanhar o que rola nas canchas e tribunas da Europa, da Ásia e de outros países da América Latina, já não nos calam como antes. O ladrão de merenda, o traiçoeiro e vampiresco presidente golpista, os machistas e fascistas podem ter certeza de que há muitos de nós que amamos o futebol na mesma medida em que os detestamos. O estádio também é uma mídia, e é nossa.