Reginaldo Nasser: “Não existe ideia de América Latina neste governo”

“Teve a onda vermelha, agora é a onda da direita”. É com esta frase que o professor Reginaldo Nasser encerra uma entrevista ao Vermelho sobre a conjuntura nacional e os impactos na geopolítica. A redação conversou com ele durante a série de debates realizada na USP (Universidade de São Paulo) há uma semana.

Reginaldo Nasser - Toni C.

Reginaldo Nasser se divide ente o pessimismo com o governo interino de Michel Temer e uma certa convicção em tratados e acordos firmados que não podem simplesmente serem desfeitos. Para ele, José Serra, que ocupa agora o Ministério das Relações Exteriores, é o símbolo da direita brasileira com projeção internacional e responde aos anseios dos setores mais conservadores. No entanto, não pode simplesmente implementar uma nova linha ideológica na política externa, abrindo mão de todo um trabalho desenvolvido na última década.

“Não é que não seja vontade do Serra de mudar, mas com todos estes anos de Mercosul, existe uma articulação entre grupos da sociedade nas áreas econômica, política, educacional… Não é num passe de mágica que vai mudar, mas a gente sabe que ele nunca teve simpatia pelo Mercosul, em eleições presidenciais ele sempre falava isso. Esta viagem para a Argentina é simbólica, teve a onda vermelha, agora é a onda da direita”, explica.

Para Nasser, a eleição do presidente neoliberal na Argentina, Maurício Macri, a crise política na Venezuela e o golpe no Brasil configuram uma mudança radical no continente e podem sinalizar o fim de um ciclo progressista, iniciado por Hugo Chávez há duas décadas.

O professor explica que se trata de uma articulação de grandes corporações que muda a geopolítica como um todo. “Há uma desestruturação dos países emergentes, há um grande apoio de grandes corporações internacionais e por isso estão indo além da medida. Está sendo feito muito rápido. A Naomi Klein [ jornalista e escritora] escreveu em 2000 sobre o que era a Teoria do Choque e se a gente olhar esses primeiros dias do governo Temer, não tenha dúvidas [que se trata disso]. Está atingindo várias áreas sensíveis: educação, saúde. Mas isso está acontecendo em várias partes do mundo, não podemos olhar isso acreditando que é uma questão do Brasil”.

Veja a entrevista completa em vídeo: