Moro rasga elogios ao gabinete de investigados da Lava Jato de Temer

Apesar do governo provisório de Michel Temer (PMDB) ter formado o seu gabinete com sete ministros investigados pela Lava Jato, sendo que um deles foi flagrado em conversa articulando o impeachment para barrar as investigações, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela em Curitiba, disse nesta quarta-feira (1º de junho) acreditar que Temer não interfira no andamento da operação.

Por Dayane Santos

Sérgio Moro

"Eu gostaria de aproveitar aqui o momento para cumprimentar o excelentíssimo ministro Fábio Medina Osório, ministro da Advocacia-Geral da União. Temos a confiança que o novo governo não vai de maneira nenhuma tentar obstruir os trabalhos da Justiça", afirmou Moro durante uma homenagem que recebeu da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), em Curitiba.

Moro não se conteve e completou: "Mas mais do que isso até a sua qualificação [se referindo ao ministro Osório] acreditamos que o novo governo vai mais do que isso, vai tentar alterar o quadro institucional para a melhoria desse sistema para prevenir esses quadros de corrupção sistêmica".

Aplaudido, Moro agradeceu ao apoio dos colegas e foi chamado por outros magistrados de "um ícone do judiciário".

Os rasgados elogios de Moro ao governo se opõem à realidade dos fatos revelados pelas gravações em que Jucá, o escudo de Temer, diz que o impeachment era a alternativa par barrar o que chamou de "sangria" da Lava Jato.

Além disso, reforçam as denúncias de seletividade das investigações da Lava Jato. Isso porque as maioria dos ministros investigados fazem parte da cúpula do PMDB liderada por Temer e Eduardo Cunha (RJ), este último afastado da presidência pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por obstruir as investigações da Lava Jato.

Para quem faz discurso de combatente errante da corrupção, elogiar um governo que em menos de 20 dias de existência sofreu a segunda baixa na equipe ministerial com a saída do ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, que entregou sua carta de demissão após vazar gravação em que ele critica a Operação Lava Jato, é nó mínimo contraditório.

Vale lembrar que o juiz que agora fala em "melhoria do sistema" com o comando de Temer foi o mesmo que, violando a Constituição, grampeou a Presidente da República, Dilma Rousseff, divulgou à imprensa, em 16 de março, criando um clima de convulsão social que deu condições para o afastamento da presidenta legitimamente eleita. Dizem as más líguas que ele já garantiu que tal episódio não vai se repetir. Que maldade.

No evento, Moro ainda comemorou as mudanças recentes nas execuções penais, que permite a prisão em decisão de segunda instância, atropelado o transito em julgado da Constituição.

"Tem uma importância evidentemente na chamada operação Lava Jato, mas transcende muito a operação Lava Jato", avaliou ao comentar um projeto que fez com o presidente da Ajufe, o juiz Antônio César Bochenek, que tratava de um assunto semelhante, mas que não foi adiante.

Prêmio

Além do "ícone do judiciário", a Ajufe também entregou homenagens aos participantes da força tarefa da Operação Lava Jato, tanto no MPF, quanto na Polícia Federal. Os delegados Márcio Anselmo e Érika Marena representaram os investigadores.

Marena, juntamente com outro integrante da força-tarefa, integra a ação que processa o jornalista Marcelo Auler, vítima de censura por parte da Justiça do Paraná, em razão das matérias que fez sobre os delegados envolvidos na Operação Lava Jato.