Cunha é o governo Temer e ele vai se ajoelhar, diz Dilma

Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, a presidenta Dilma Rousseff voltou a denunciar que o processo de impeachment aberto contra ela teve como objetivo paralisar as investigações da Operação Lava Jato e impor um "programa que não tem legitimidade pois não teve o respaldo das urnas". Dilma disse que a política em andamento é "ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto" e "com cortes drásticos de programas sociais".

Dilma entrevista Palacio - Agência Brasil

Dilma não poupou críticas ao Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado da presidência da Câmara pelo Supremo Tribunal Federal, ao afirmar que ele "é a pessoa central do governo Temer (que ocupa a presidência provisoriamente)" e que ele terá que "se ajoelhar" diante dos termos impostos por Cunha.

"O Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura (para líder do governo na Câmara). Cunha não só manda, ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha", declarou Dilma. E acrescentou: "Vão ter de se ajoelhar".

Dilma disse, ainda que a traição de Temer não aconteceu no dia da votação do processo de admissibilidade do impeachment pelo Senado. "Não foi no dia do impeachment, foi antes, em março. Quando as coisas ficaram claríssimas", afirmou. "Você sempre acha que as pessoas têm caráter", disparou em seguida.

A presidenta também voltou a falar sobre o vazamento das gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com líderes do PMDB, como o senador e ex-ministro Romero Jucá (RR) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o ex-presidente José Sarney. "Eles (os áudios das gravações) mostram que a causa real para o meu impeachment era a tentativa de obstrução da operação Lava-Jato por parte de quem achava que, sem mudar o governo, a sangria continuaria", afirmou.

Dilma também manifestou otimismo e disse que tem condições de reverter o processo de impeachment. Disse que tem confiança no retorno à Presidência da República. "Nós podemos reverter isso. Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade, disseram que não estavam declarando (posição) pelo mérito (das acusações). Então eu acredito", ressaltou.

Dilma destacou que essa confiança se deve ao fato de que não cometeu crime de responsabilidade e qualificou o impeachment como uma tentativa de golpe contra o seu governo. "Sinto muito, sabe, sinto muito se uma das características do golpe é detestar ser chamado de golpe".

Sobre as medidas anunciadas pelo governo de Temer Dilma afirmou: "O pato tá calado, sumido. O pato está impactado. Nós vamos pagar o pato do pato, é?". Ela se referiu ao pato inflável da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) utilizado nas manifestações para pedir o seu impeachment.