Felipe Bianchi: Torcida única e a política com mão-de-ferro

Apesar do clima geralmente festivo de um feriado prolongado, domingo (29) será um dia triste para o futebol paulista. É que às 16h, o tradicional estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, receberá mais um choque-rei pelo Campeonato Brasileiro. Mas enquanto os jogadores de São Paulo e Palmeiras disputam em campo, as arquibancadas terão apenas torcedores do time da casa.

Por Felipe Bianchi*

Alexandre Moraes

Tudo porque o Ministério Público de São Paulo, seguindo as diretrizes do governo Alckmin, abandonou publicamente o combate à violência no futebol e preferiu, em uma jogada criticada até pela retrógrada Federação Paulista de Futebol, decretar clássicos com torcida única até o fim de 2016.

A posição do MP-SP conta com o protagonismo de ninguém mais, ninguém menos que ele: Alexandre de Moraes. Com passado controverso, o Secretário de Segurança Pública do 'Tucanistão' [Estado policial que ocupa, atualmente, o território de São Paulo] foi o centro das atenções em ação ocorrida no dia 15 de abril, quando viaturas policiais visitaram as sedes de torcidas como a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde.

Com a missão de exportar o modelo da mão-de-ferro paulista para todo o país, Moraes foi nomeado ministro da Justiça do governo ilegítimo de Michel Temer. Parece cair como uma luva, já que torna-se peça de uma grande e dantesca encenação.

De volta ao Morumbi: é incrível como o futebol pode explicar o mundo. O ministro, que tomou posse dando entrevista nauseante ao Estadão, afirmando que 'nenhum direito é absoluto', compartilha das obsessões de Fernando Capez, o capo (impune) da máfia da merenda, na guerra contra as torcidas organizadas e, por extensão, aos torcedores comuns e ao futebol como um todo.

Na ocasião da semifinal do Campeonato Paulista entre Santos x Palmeiras, o coletivo Futebol Mídia e Democracia publicou uma nota sobre a questão da torcida única em clássicos. Alguns trechos valem ser reproduzidos para elucidar o debate:

Na avaliação do Coletivo Futebol Mídia e Democracia, a violência na sociedade brasileira não é um problema exclusivo do futebol. Assim mesmo, há um enorme leque de ações preventivas e de combate ao problema que não implicam em afastar os torcedores do estádio. Essas soluções, no entanto, parecem não interessar ao Poder Público. Como argumentam diversos jornalistas e cronistas esportivos, a opção pela torcida única significa a falência dos órgãos responsáveis por garantir, prevenir e combater a criminalidade e os confrontos violentos relacionados ao esporte mais popular do país.

E segue:

A solução 'fácil' da torcida única não só exime as autoridades de enfrentarem o problema como também materializa o projeto de extinção de determinados setores da sociedade das arquibancadas, substituindo a nossa cultura de estádio por uma realidade fantasiosa e inexistente, na qual as classes populares não têm vez.

Vale registrar que a medida ocorre no momento em que torcidas contestam o sistema e, em especial, confrontam a figura do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB-SP). O deputado estadual que ganhou fama pela sua cruzada histórica contra as torcidas organizadas, agora ocupa os noticiários (ainda que alguns meios de comunicação tentem blindar seu partido e sua figura) por denúncias contundentes de envolvimento na chamada 'Máfia da Merenda'. Afinal, quem é o bandido?

Agora que Moraes é ministro da Justiça, Capez segue blindado e o governo ilegítimo monopoliza a violência através das polícias militares, onde nossos direitos como torcedores irão parar?

No mais, que tenhamos um ótimo choque-rei, ainda que seja apenas dentro de campo. O futebol esmorece…