Gravações escancaram pavor de Aécio com delações da Lava Jato

Em ambos os áudios divulgados até agora das conversas de Sérgio Machado, apontado como operador do PMDB no esquema da Lava Jato, existe um ponto comum: o esquema do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Por Dayane Santos

Aecio-Neves-chega-ao-Congresso-Nacional-para-reuniao Camara dos Deputados - Gabriela Korossy/Agência Câmara

Seja na conversa com o ex-ministro de Michel Temer, Romero Jucá (PMDB-RR) quanto no áudio com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é clara a afirmação de que o tucano estava preocupado com o fato das delações citaram o seu nome.

Na gravação com Renan, ele diz que os políticos estão "com medo" dos desdobramentos da Operação Lava Jato e diz que o que Aécio o procurou para que verificasse se ainda havia informações sobre ele na delação feita pelo ex-senador Delcídio Amaral.

MACHADO – É o seguinte, o PSDB, eu tenho a informação, se convenceu de que eles é o próximo da vez.

RENAN – [concordando] Não, o Aécio disse isso lá. Que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o…

Em outro trecho, Renan conta: “Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa”.

E Machado completa: “Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan”.

A preocupação de Aécio com a delação de Delcídio do Amaral era porque o senador cassado afirmou em delação premiada que “sem dúvida” Aécio recebeu propina em um esquema de corrupção na estatal de energia Furnas. Segundo ele, o esquema era semelhante ao da Petrobras, envolvendo inclusive as mesmas empreiteiras.

Delcídio também teria dito que o tucano agiu para alterar dados bancários do Banco Rural, do esquema do mensalão, que poderiam “atingir em cheio” Aécio e seus aliados.

Nesta quarta-feira (25), por meio de nota, Renan tentou desdizer o que disse, afirmando que o “medo” do Aécio era na verdade “indignação”.

“Em relação ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), o senador Renan Calheiros se desculpa porque se expressou inadequadamente. Ele se referia a um contato do senador mineiro que expressava indignação – e não medo – com a citação do ex-senador Delcídio do Amaral”, disse Renasn

Com Jucá a conversa não foi diferente. Demonstrando preocupação com as delações premiadas, Machado diz: “Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho”.

Jucá concorda e diz que o alvo é todo mundo, inclusive o PSDB. Machado escancara: “O primeiro a ser comido vai ser o Aécio [Neves (PSDB-MG)…. O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…”.

Machado continua a falar citando um suposto esquema para a eleição de Aécio como presidente da Câmara dos Deputados, entre 2001 e 2002: “O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele [Aécio] ser presidente da Câmara?”.

Machado escancara que financiou campanhas para “eleger deputados” que garantissem, posteriormente, a eleição de Aécio como presidente da Câmara. E completa: “É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…”. E Jucá respondeu: “Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não”.

Machado continua a tecer suas considerações sobre Aécio. “O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…”

Aécio: o colecionador de citações

Por enquanto, o tucano Aécio Neves coleciona citações em delações premiadas da Lava Jato.

Os primeiros a citarem o tucano foram o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretores de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Eles afirmaram que políticos do PSDB receberam recursos desviados de empresas estatais como a Petrobras e Furnas. Entre os beneficiados estariam o ex-presidente nacional do partido Sérgio Guerra e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Outro a falar de Aécio foi o lobista Fernando Moura. Segundo ele, Aécio recebia um terço dos recursos desviados de Furnas.

O entregador de dinheiro de Youssef, Carlos Alexandre Souza Rocha, conhecido como Ceará, afirmou que Aécio era um dos destinatários do dinheiro e disse também ter ouvido de um executivo da empreiteira UTC que Aécio era o “mais chato” na cobrança de propinas.