Arruda Bastos: O estelionato e as estripulias do presidente interino

Por *Arruda Bastos

Imprensa internacional critica governo golpita de Temer

Nos últimos meses tivemos no Brasil uma disputa ideológica e, às vezes, nem tanto, de grupos que defendiam o afastamento e a permanência da presidenta Dilma. No lado dos chamados “coxinhas”, o estandarte principal era o combate à corrupção, o apoio à operação Lava Jato e ao juiz Sergio Moro. Os empresários defendiam a não elevação dos impostos e a não aprovação de novas contribuições, como a CPMF, a Fiesp inclusive patrocinou uma campanha publicitária adotando o Pato como símbolo. Por parte dos chamados democratas o discurso era um só: a manutenção da democracia com o respeito às últimas eleições e o “não” ao golpe, haja vista que a presidenta Dilma não cometeu crime.

Para a concretização dos seus objetivos, o seguimento “coxinha” uniu políticos desgostosos com o governo, derrotados nas últimas eleições, a direita reacionária e a Rede Globo com a grande mídia. Participaram também nomes do Judiciário e o grande empresariado nacional e internacional. Por vários meses, a ladainha foi martelar, como um mantra, de forma maciça, os estandartes do seu movimento. De tanto repetir o discurso de anticorrupção e “antipetista”, uma parte da nossa população passou a apoiar o Impeachment da presidente Dilma, iludidos que tudo ia ser ajustado e que o Brasil seria outro, como por encanto.

Agora, depois da posse do vice-presidente Temer, essa mesma parcela da população e até mesmo seguimentos do empresariado começam a perceber que caíram na arapuca do estelionato de quem queria apenas chegar ao poder a qualquer custo, prometendo o que não iria fazer. As pesquisas mostram que a insatisfação cresce dia a dia e o sentimento é de um certo arrependimento de terem contribuído para a farsa golpista.

A Rede Globo e a grande mídia tentam esconder, mais uma vez, o que ocorre em nosso país e é pela imprensa internacional, redes sociais e o que resta de veículos livres e democráticos de comunicação que nossa população toma conhecimento das manifestações contra o golpe que ocorrem em todo o Brasil, bem como da insatisfação de parte dos iludidos. Como aconteceu em 1964, na campanha das “Diretas Já” e, na manipulação das informações antes da admissibilidade do Impeachment, tentam, agora, dourar a pílula das primeiras medidas do governo do presidente em exercício, Temer.

O estelionato e as estripulias são evidentes e não adianta tentar tapar o sol com uma peneira. No SUS, a orientação é diminuir o seu tamanho, entregar à população mais pobre a indigência, e aos remediados mais dificuldades financeiras, atrelando-os às empresas de plano de saúde privados. Nos programas sociais, a orientação é reduzir os investimentos no “Minha Casa Minha Vida”, já com uma diminuição inicial de mais de onze mil unidades e também a elevação das mensalidades para as famílias já beneficiadas. No “Bolsa Família” o que é tramado pela equipe econômica é a segmentação do programa, retirando um grande número de famílias do benefício. Até para o Pato da Fiesp sobrou a informação da recriação da CPMF, anteriormente abominada por políticos da oposição e grandes empresários.

No campo da corrupção, o estelionato ainda foi maior com a nomeação de um grande número de ministros citados na Lava Jato, outros com processos em diversas instâncias do Judiciário e até réus em diversos tribunais. O leque vai desde crime eleitoral, fraude em licitações e, pasmem, até desvio de merenda escolar.

A gota d’água e o tiro de misericórdia no discurso anticorrupção foi a nomeação do deputado André Moura (PSC-SE) como líder do governo na Câmara. Além de ser extremamente ligado ao sabidamente corrupto Eduardo Cunha, Moura é réu em três ações no Supremo Tribunal Federal e responde a outros três inquéritos na mesma Corte (um deles por tentativa de homicídio, outro por envolvimento na Operação Lava Jato). Já foi condenado pelo Tribunal de Contas da União quatro vezes por irregularidades na gestão de dinheiro público, multado por improbidade administrativa, proibido de concorrer à eleição em 2014 e teve duas de suas contas de campanha rejeitadas pelo Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe. Só é deputado federal porque conseguiu uma liminar que permitiu que ele fosse empossado, mesmo tendo sido declarado inelegível pela Justiça.

O estelionato e as estripulias para uma semana de gestão foram muito intensas, imaginem com a continuidade desse governo golpista. A sorte é que a nossa população começa a acordar. Nada mais atual do que a frase de Abraham Lincoln: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”. É tempo de reagir!


*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da saúde do Estado do Ceará e um dos coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.

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