Dilma: É minha absoluta obrigação resistir contra o impeachment

A presidenta Dilma Rousseff participou nesta sexta-feira (20) da abertura do 5º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais em Belo Horizonte (MG). Ao chegar, ela foi recebida por cerca de 40 mil manifestantes que a aguardavam do lado de fora do Hotel em que acontecia o evento. Após saudar os manifestantes e ouvir as falas no Encontro fez uso da palavra e se sentindo à vontade, não conteve a emoção. "Iremos resistir. Eu agradeço a vocês a imensa energia dessa recepção", disse.

Dilma bh - Eder Bronson/Barão de Itararé

A 5ª edição do Encontro Nacional dos Blogueiros e Ativistas Digitais foi organizada pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, pelo Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais e pela Comissão Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais. A presidenta Dilma encerrou a abertura do encontro que foi aberta pelo coordenador-geral do Barão, Miro Borges. Falaram ainda no encontro, o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do governo Lula, o mineiro Patrus Ananias, e pela presidenta do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Renata Mielli.

O tão aguardado pronunciamento da presidenta Dilma ocorreu já por volta das 21 horas, mas enquanto ela falava o público aplaudia e cantavam palavras de ordem de apoio e solidariedade à presidenta afastada. Dilma ressaltou que irá lutar até o fim contra o impeachment no Senado, no Supremo e nas ruas. Ela afirmou ainda que aqueles que ocuparam seu espaço provisoriamente no Executivo querem vê-la isolada dentro do Palácio da Alvorada, onde o deputado federal Jorge Viana (PT-AC) denunciou, na última quinta-feira (19), que a presidenta estava sitiada, cercada por policiais e com dificuldades de receber visitas.

Dilma destacou que o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, continua a ditar as regras dentro da Casa. “Os jornais não conseguiram ocultar a presença dessa pessoa [Eduardo Cunha] nas decisões da Câmara”, disse a presidenta. "Ele comanda tudo o que é aprovado lá. Por isso, o Congresso e suas comissões estão parados desde o começo do ano, mas a mídia silencia", denunciou.

A presidenta mencionou a influência de Cunha também no governo ilegítimo de Temer e nas indicações ao ministério provisório, principalmente para o cargo da Justiça. Como é o caso do indicado por Temer para assumir a pasta da Justiça, Alexandre de Moraes, que foi advogado de Cunha.


Foto: Bruno Bou/Cuca da UNE

Dilma usou o caráter extremamente conservador do Congresso para explicar o agravamento da crise política, que travou o país nos últimos meses. “Cunha conseguiu colocar cerca de 230 deputados de sua confiança na Câmara, o que travou o funcionamento do país e sabotou nossas tentativas de combater a crise, gerando instabilidade Nenhuma Comissão da Câmara ou Comissão Mista (com deputados e senadores) conseguiu prosperar este ano. Só a do impeachment”, disse.

Dilma se mostrou reticente em relação a qualquer reforma da mídia enquanto a composição do Congresso se manter como a atual, extremamente conservadora. Por isso, a presidenta considera a reforma política como a prioritária para tocar as demais reformas do país. 


Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
E encerrou dizendo que tem fé numa reviravolta no processo do impeachment no Senado: “É minha absoluta obrigação resistir. Vou lutar contra isso até o fim”. E comentou a sua satisfação em poder explicar ao STF, porque ela tem usado a palavra "golpe": “Gostei muito, vou fazer um grande esclarecimento; além disso, ninguém pode impedir ninguém de falar em golpe”.

Desmontando a 'falsa polêmica' do patrocínio

Em sua fala de a abertura do 5º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais, Altamiro Borges, blogueiro e presidente do Barão de Itararé, criticou o comportamento de alguns jornalistas da grande mídia, que repercutiram a ordem de Temer suspender patrocínio da Caixa ao evento. Segundo Miro, a mídia chia quanto ao financiamento público de projetos de democratização da mídia e liberdade de expressão ao mesmo tempo que cala para o financiamento bilionário que o governo dá aos veículos hegemônicos.

Em matéria divulgada na quinta-feira (19), a Folha de S.Paulo criticou o Encontro, que começou nesta sexta-feira (20) e vai até este domingo (22), na capital mineira, e afirmou que o governo ilegítimo de Temer cancelaria o patrocínio, celebrado em contrato entre os organizadores do encontro e a Caixa Econômica antes da presidenta Dilma ser afastada.

Miro afirmou que, no caso de a Caixa ]cancelar o patrocínio, o banco será processado. “Acertamos a realização do 5º encontro em setembro do ano passado e assinamos o contrato, que não pode ser rompido. A presença de Dilma na abertura do evento já estava nos planos desde o começo, assim como a presença de mais de mil pessoas no evento, incluindo caravanas de estudantes de jornalismo que viriam do país inteiro. Tivemos que reduzir o número de participantes porque a campanha do golpe afetou diretamente a nossa captação de recursos”, explicou o jornalista antes da chegada da presidenta.