Para justificar ajuste, Meirelles diz que quadro é pior do que previa

Para justificar o aumento do deficit primário e a adoção das "medidas duras" defendidas pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e também para se blindar contra reveses futuros, o governo Michel Temer decidiu adotar o discurso da herança maldita. Em entrevista à Bloomberg, Meirelles afirmou que a economia está em pior situação do que imaginava antes de assumir o cargo, há uma semana.

Henrique Meirelles

"Eu encontro nos números uma situação pior do que esperava. Isso é tudo diante de uma expectativa que eu tinha olhando de fora", disse ele, em seu gabinete em Brasília. Segundo o ministro, o tamanho do déficit fiscal foi o que mais surpreendeu negativamente.

Assim como fez Temer em seu primeiro pronunciamento após o golpe, o ministro utilizou a estratégia de cobrar a colaboração do povo como forma de sair da crise. Na verdade, trata-se de uma forma nova de anunciar que o povo será penalizado pelo pacote de maldades que será aplicado para cortar gastos e deverá significar mais desemprego, arrocho salarial e perda de direitos.

Segundo Meirelles, o governo interino está em melhor posição para aprovar medidas econômicas no Congresso do que seu antecessor.  "O governo mudou, assim como a disposição do Congresso e mesmo a capacidade de negociação do próprio governo mudaram".

Para ele, os brasileiros estão mais conscientes de que sacrifícios devem ser feitos. "O povo está cada vez mais preparado a tomar e apoiar medidas que resolvam a crise. Hoje mais do que há um ano, mais do que há 5 anos (…) Em 2003 o povo apoiou medidas duras de política monetária e fiscal porque o País precisou e fomos em frente. A população tem expectativa de resultado, não há dúvida".

Meirelles já anunciou que as reformas da Previdência e Trabalhista são prioridades da gestão. E, de acordo com o Valor Econômico, um funcionário do governo disse no início desta semana que a nova gestão poderá vender ativos estatais para levantar dinheiro.

Meta

A declaração ocorre no momento em que o ministro do Planejamento, Romero Jucá, anunciaria a proposta de alteração da meta fiscal para 2016. O comunicado ocorreria ainda nesta sexta (20) e a expectativa era de que a previsão de déficit primário (receitas menores que as despesas, sem contar juros da dívida pública) ficasse entre R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões.

Na próxima segunda-feira (23), Temer irá pessoalmente ao Senado para entregar ao presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), as alterações propostas. Nos últimos dias, um interlocutor de Temer confidenciou uma frase na qual o presidente interino externava preocupação. "Se não aprovar (a nova meta), daqui a pouco quem estará cometendo pedalada sou eu", teria dito Temer.

Na ocasião, o presidente interino aproveitará que as atenções estarão voltadas para o Senado e reforçará o discurso da "herança maldita", como forma de justificar os próximos passos da nova gestão e a revisão da meta, tão criticada durante o governo da presidenta eleita, Dilma Rousseff.