ONU critica ausência de mulheres em governo Temer

A representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, criticou a falta de representação feminina no ministério anunciado nesta quinta-feira (12) por Michel Temer (PMDB-SP). Depois de um corte de 32 para 22 gabinetes, o presidente que assumiu após o golpe anunciou um gabinete composto apenas por homens.

Nadine Gasman - Sérgio Almeida

Desde a ditadura militar, quando a primeira ministra foi nomeada, no início da década de 1980, esta é a primeira vez que um presidente não indica uma mulher para os gabinetes.

Para Nadine, não haver nenhuma mulher entre os 22 nomes anunciados significa que a sociedade brasileira não estará representada. “Não ter mulheres significa perder, pois metade da população não está representada, nesse governo, nessa junta executiva”, advertiu, alertando para prejuízos com a ausência de paridade.

“A possibilidade de perdas de políticas públicas, dos avanços, da [possibilidade de] ir além do que normalmente está sendo visto por só uma parte da população, é muito grande”, disse a representante durante evento no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que aderiu ao movimento HEFORSHE (“Ele por ela”, em tradução livre), que promove a participação de homens na defesa da igualdade e do empoderamento das mulheres.

De acordo com Nadine, pesquisas mostram que a presença de mulheres nos governos e nos conselhos de administração das empresas privadas de, pelo menos 30% do corpo diretivo, significa ganhos de eficiência, de rentabilidade e de melhoria do ambiente de trabalho.

Com as mudanças políticas no Brasil, ela cobrou que políticas públicas não sejam interrompidas e defendeu que a institucionalidade da agenda das mulheres, por meio da atuação de secretarias e ministérios, é um avanço mundial, sugerindo que as pastas não sejam extintas.

A representante da ONU Mulheres disse, contudo, que é cedo para fazer análises sobre o governo Temer. E citou avanços obtidos nos últimos 20 anos, como a diminuição da pobreza e o enfrentamento à violência, como a lei de combate ao assassinato de mulheres.

A meta da ONU Mulheres é trabalhar para acelerar a igualdade entre homens e mulheres, que, no ritmo atual, levaria mais de 70 anos. Com a promoção de oportunidades, a organização defende que a governança, no mundo, seja dividida igualmente entre homens e mulheres. Sem a paridade, argumenta Nadine, ações para o desenvolvimento ficam prejudicadas.

“Está demonstrado, no mundo todo, que tem que ter, em todas as instâncias de poder, representação da sociedade”, defendeu. A diversidade, segundo ela que também é médica e doutora em políticas para a saúde, garante melhorias em políticas públicas para os mais pobres.
Procurada, a assessoria do presidente interino não comentou o perfil do novo ministeriado.