Mendonça é recebido no ministério com vaias e gritos de "golpista" 

O novo ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho (DEM-PE), foi recebido com vaias e gritos de "golpista" durante sua apresentação aos servidores, nesta sexta-feira (13). Os manifestantes são contrários à fusão da pasta de Cultura com a de Educação. "O MinC é grande e não dá pra extinguir", gritavam os manifestantes que também portavam cartazes contra as mudanças.

Mendonça Filho é vaiado

De acordo com a coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, ao chegar ao auditório do Ministério da Cultura, Mendonça Filho foi recebido por um coro que entoava frases como "Cultura somos nós, nossa força e nossa voz" e "Golpe não, cultura sim".

Também houve gritos de "golpista" e "ditador" e cartazes onde se liam expressões como "Vaza Mendonça Filho" e "Não reconhecemos governo golpista".

Líder do DEM na Câmara dos Deputados e um dos incentivadores do golpe, Mendonça disse que vai preservar as políticas culturais e não pretende extinguir órgãos ligados ao MinC. Visivelmente consrangido, o ministro não conseguia completar sua fala.

Desde que a junção dos ministérios foi anunciada, setores da sociedade civil, especialmente os ligados à classe artística, criticaram fortemente a iniciativa. O Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Cultura das Capitais e Regiões Metropolitanas declarou que os esforços feitos em prol do desenvolvimento econômico ficarão "sem efeito para o conjunto da população se não considerar os aspectos culturais do desenvolvimento".

"Enquanto a maior parte do mundo caminha para pensar a cultura como estratégica para o desenvolvimento das nações, não podemos caminhar num sentido diferente. Por mais que se tenha que replanejar os investimentos no país, a Cultura precisa ser colocado num outro patamar, posto que o investimento não realizado em cultura hoje terá um alto custo para o país posteriormente. A Cultura é que nos torna realmente humanos, o que nos tira da barbárie", diz o texto do manifesto.

Na redes sociais, vários foram os que se manifestaram contrários à fusão das duas pastas. Veja algumas das reações de artistas à extinção do MinC:

Anna Muylaert (cineasta):
“Eu estou aqui absorvendo todas essas ações. Acho chocante já haver tantas decisões nesse primeiro momento. Já é bastante chocante, ainda é um governo interino. Acho difícil comentar qualquer assunto de um governo que considero ilegítimo. É prematuro fazer um julgamento porque não sei exatamente o que eles estão pensando. Cultura e educação são coisas completamente diferentes, se embolar uma com a outra, as duas saem perdendo. Acho nocivo, a princípio, um retrocesso. Esse papo de ‘artistas mamando na teta’ é um equívoco enorme, não entendo. É ofensivo. Por enquanto qualquer opinião é incompleta, mas não vejo com bons olhos.”

Dado Villa-Lobos (guitarrista da Legião Urbana):
“Voltamos a viver como há 30 anos atrás. E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas.”

Milton Hatoum (escritor):
“O fim do MinC e do McT e a nomeação de políticos irrelevantes à frente desses e de outros ministérios não me surpreendem. Cultura, educação e pesquisa científica foram rebaixados. A pantomima continua. Numa crônica de 1949, Rubem Braga escreveu: ‘Nossa vida política é, em seu jogo diário, de um nível mental espantosamente medíocre. Mental… e moral. Há uma cansativa tristeza, um tédio infinito nesse joguinho miúdo de combinação através das quais se resolve o destino da pátria’.”

Ignácio de Loyola Brandão (escritor):
“Começou mal o período interino do vice-presidente. De cara, desaparece o Minc, sem que se saiba como será. Na verdade, governos jamais ligaram muito para a cultura. Nunca esperei nada de governos, de modo que para mim o que era ruim, ruim fica. Um projetinho aqui, um programinha ali, e pronto. Se alguém souber quando houve uma política cultural merece o prêmio Nobel ou a mega sena. Nenhuma surpresa. Que o vice poeta tenha piedade.”