Reitor denuncia racismo silencioso e pede “ideologia de positividade” 

O reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares (SP), José Vicente, afirmou n terça-feira (10) que o racismo é tratado com naturalidade pelos brasileiros. Ele participou de audiência pública da comissão especial da Câmara dos Deputados de Enfrentamento ao Homicídio de Jovens. “O que existe no Brasil é o racismo silencioso. Nós não vemos os racistas. A violência está escrita nas leis, toda a posição do pensamento social define a escravidão como razoável”, disse o reitor. 

Reitor denuncia “racismo silencioso” e cobra “ideologia de positividade” - Agência Câmara

A comissão especial analisa o projeto de lei que cria um plano nacional de combate à violência contra jovens, com duração de dez anos, a ser coordenado e executado por órgãos do governo federal responsáveis por programas ligados à juventude e à igualdade racial. A proposta foi apresentada no ano passado como resultado dos trabalhos de uma CPI que investigou o tema.

O palestrante destacou que o fator determinante para que o plano nacional seja eficaz é que o País reconheça o racismo como um agente separatório de classes. E defendeu também a construção de uma ideologia de positividade, que valorize a cultura negra e integre todos os brasileiros na construção do País.

Segundo José Vicente ainda, a pobreza está junto com os negros. “Sem combater a pobreza dificilmente vamos conseguir resguardar direitos. Nós temos um fosso de desigualdade no nosso País que não permite que esse público acesse os direitos básicos garantidos na Constituição”, declarou.

Em busca de soluções, o reitor destacou ainda a importância da sociedade empresarial para mudar o cenário dos negros no Brasil. “Eles devem intervir nessa condição, criando oportunidades. Eles são responsáveis por esse papel”.

Guerra não declarada

“A Universidade Zumbi dos Palmares é hoje a primeira e única instituição de ensino superior do Brasil e da América Latina a formar negros para ocupar funções de dirigentes e formadores de opinião, aptos a ocupar, num futuro próximo, posições destacadas nos quadros do governo e das empresas privadas”, afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que pediu a realização desse debate.

Sobre o projeto, Orlando Silva diz que “tem objetivo de aperfeiçoar o Plano Nacional de Enfrentamento ao Homicídio de Jovens e criar uma pactuação federativa para o enfrentamento desta que é uma guerra não declarada contra a população brasileira jovem e em especial negra.”

Estatísticas e fatos apurados pela CPI ao longo de quatro meses colocam o homicídio como a principal causa de morte de brasileiros entre 15 e 29 anos e definem o perfil predominante das vítimas: negros do sexo masculino, com baixa escolaridade e moradores das periferias.

Monitoramento de homicídios

José Vicente destacou a necessidade de um monitoramento constante no número de homicídios desses jovens. “É preciso ter leis duras para combater esse crime. Precisamos ter monitoramento, precisamos de informações nacionais para termos políticas para combater esse tema”.

O presidente da comissão especial, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), relatou que o plano nacional proposto inclui o monitoramento das políticas de segurança pública. “Queremos um plano com monitoramento, que deve ser anual. Que seja publicado como foi usada a força, quantos tiros, quantas balas, e satisfação do trabalhador com a rotina da segurança pública”, defendeu o parlamentar.

O deputado afirmou que a comissão vai percorrer os estados brasileiros para divulgar e dar visibilidade ao tema por meio de debates, para que cada representante possa elaborar seus planos estaduais de segurança.