Felipe Iturrieta: O fim do Tiki-Taka?

Já quando o genial Ronaldinho Gaúcho deixava o Barcelona, iniciava-se o período de domínio do que ficou conhecido como "futebol tiki-taka". A ideia de que a posse da bola é o caminho mais seguro à vitória foi adotada por diversas equipes, seguindo os sucessos de Barcelona e seleção Espanhola.

Por Felipe Iturrieta*

Torcida do Atlético de Madrid em seu estádio

A adoção deste estilo de jogo foi divisiva: há os que dizem que tornou o futebol entediante e os que afirmam que nunca antes se viram espetáculos como os que hoje nos oferecem Bayern de Munique e Barcelona, por exemplo (apesar do próprio Guardiola, que treinou ambas equipes, tentar distanciar-se do termo).

Seja como for, as principais equipes europeias gastaram fortunas montando equipes repletas de estrelas – algumas com o objetivo de praticar o tiki-taka, outras com o objetivo de criar uma solução para vencer as equipes que praticam o tiki-taka. Devo confessar que, após assistir certas partidas que poderiam (deveriam!) ter sido épicas, mas foram praticamente 90 minutos de jogo-treino com passes de lado e altas cavadas, cheguei a perder de vista a paixão que sempre tive pelo futebol. Era como se o futebol europeu em geral tivesse chegado a um beco sem saída: não havia chance para as equipes menores, e nos grandes duelos não há o espetáculo que se espera quando tantos milhões foram investidos: as equipes "se estudam" durante a maior parte do jogo e buscam a posse de bola. Às vezes parecem esquecer que o objetivo do jogo é marcar gols.

Felizmente, esse ano nos trouxe duas belas surpresas. Na verdade, para quem acompanha o futebol espanhol, não deveria ser nenhuma surpresa que o Atlético de Madrid tenha lutado até o fim pelo título nacional e que tenha chegado à final da competição continental, mesmo tendo um time muito menos estrelado que seus rivais. A verticalidade da equipe impressiona em tempos de tiki-taka; os contra-ataques letais, os precisos passes de longa distância e a solidez tática são fatores fundamentais junto à velocidade com que transformam uma bola roubada em perigo ao gol adversário. Pode-se dizer que esses também são os grandes trunfos da outra equipe que surpreendeu a todos esta temporada: Leicester City – com um orçamento muito inferior a gigantes como Manchester United ou Chelsea, venceu o campeonato inglês apenas no segundo ano após ter alcançado à primeira divisão.

E sabe o que mais essas equipes têm em comum, além da recusa a curvar-se ao tiki-taka? Algo que não se pode comprar com milhões ou conquistar comprando jogadores engomadinhos ou técnicos-diva: uma torcida apaixonada. A própria humildade dessas equipes em relação aos rivais bilionários gera em seus torcedores um orgulho e uma fidelidade que se traduzem em energia durante as partidas. Ainda bem que a garra está vencendo a posse de bola redundante. Ainda bem que as equipes modestas estão mostrando que é possível montar um grupo vencedor sem gastar as quantias obscenas que seus adversários gastam. Parabéns ao Leicester e boa sorte ao Atlético de Madrid!