"Não estamos brincando de fazer democracia", diz Maranhão

O presidente da Câmara em exercício, Waldir Maranhão (PP-MA), rebateu, na noite desta segunda-feira (9), as declarações do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e disse que não está "brincando de fazer democracia". Nesta segunda, ele decidiu anular a votação do impeachment na Câmara, apontando vícios na tramitação. Mas Calheiros resolveu ignorar a ação e anunciou que seguirá com o processo no Senado. 

Waldir Maranhão

"Tenho consciência do quanto esse momento é delicado, momento em que temos de salvar a democracia pelo debate. Não estamos, nem estaremos em momento algum, brincando de fazer democracia", afirmou.

Em um breve pronunciamento, que durou menos de três minutos, o parlamentar reafirmou a decisão de aceitar o recurso da Advocacia-Geral da União, anulando as sessões da Câmara dos dias 15, 16 e 17 de abril – esta última que culminou com a votação pela admissibilidade do processo de impeachment.

Maranhão defendeu que sua posição está de acordo com o regimento interno da Câmara e com a Constituição. Segundo ele, a anulação é necessária "para que nós possamos corrigir em tempo vícios que certamente poderão ser insanáveis no futuro" e ocorre em respeito à continuidade do processo democrático.

"Quero (…)  me dirigir a todos vocês que aqui estão, que têm o dever de levar aos lares brasileiros mundo afora, que o nosso país tem salvação pela democracia, pelo embate, pelo combate. Que o rigor das leis é que dá ao cidadão as suas garantias individuais", disse Maranhão.

Ao anunciar que não levaria em consideração a decisão do presidente da Câmara, Renan Calheiros afirmou, durante a tarde desta segunda (9), que "aceitar essa brincadeira com a democracia seria ficar pessoalmente comprometido com o atraso do processo" de impeachment.  

Pelo Twitter, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também reagiu à fala de Calheiros. "No meu dicionário, direito de defesa e devido processo legal são assuntos sérios. Brincadeira é fingir ser sério um 'impeachment' sem crime", escreveu. "Todo mundo sabe que invenção de 'pedaladas fiscais' e meia dúzia de decretos orçamentários são mero pretexto para um vergonhoso golpe. Diante de um golpe 'inevitável', há quem prefira participar ou ser cúmplice. E há quem tenha coragem. Parabéns aos que lutam", disse.

Confira abaixo a íntegra do pronunciamento de Waldir Maranhão na noite desta segunda:

"Quero fazer um comunicado ao povo brasileiro, a este Parlamento. No dia de hoje tomamos a decisão de encaminharmos ao Senado Federal um pedido de acolhimento em parte daquilo que a AGU trouxe a esta Casa, tão sorte que a nossa decisão foi com base na Constituição, com base no nosso regimento, para que nós possamos corrigir em tempo vícios que certamente poderão ser insanáveis no futuro.

Tenho consciência do quanto este momento é delicado, momento que nós temos o dever de salvarmos a democracia pelo debate. Nós não estamos, nem estaremos, em momento algum, brincando de fazer democracia.

Quero, com essas palavras, me dirigir a todos vocês que aqui estão, que têm o dever de levar aos lares brasileiros, mundo afora, que o nosso país tem salvação pela democracia, pelo embate, pelo combate. Que o rigor das leis é que dá ao cidadão as suas garantias individuais.

Sou do Estado do Maranhão e vim servir ao meu país e ao meu Estado. Estado esse que tive a oportunidade, filho de pais humildes, mas que me deram educação, e, pela escola pública, me graduei em veterinária. Pela escola pública fiz a minha pós-graduação. Tornei-me reitor por duas vezes em minha universidade. Tornei-me pró-reitor de graduação. Portanto, é com essa história, em respeito a essa história, aos mais humildes do meu país, que não podem ser marginalizados.

E a colegas, em momentos de emoção, de forma respeitosa ou não, tem o dever e o direito de expressar os seus pensamentos, tão sorte que eu deixo este comunicado. Este comunicado certamente dará a cada um de nós o divisor de águas da nossa democracia".