Temer não vê problema em governar com investigados

Em uma entrevista ao Jornal Nacional, nesta terça (3), o vice-presidente Michel Temer – que continua a negociar cargos para um eventual governo pós-golpe – admitiu que não vê constrangimento em nomear políticos investigados pela Operação Lava Jato, caso assuma a Presidência. Para ele, as acusações de corrupção não são "fator impeditivo" para integrar sua hipotética equipe. O vice que articula para ser titular também voltou atrás na proposta inicial de redução de ministérios.

Temer e Cunha

Porta-voz de uma oposição que prega a moralidade, o próprio Temer já foi citado por delatores da Lava Jato. E cogita, para compor uma eventual gestão, os nomes do senador Romero Jucá e do ex-deputado federal Henrique Eduardo Alves, dois peemedebistas investigados pelo Supremo Tribunal Federal. Geddel Vieira Lima, também citado nas delações da operação, foi sondado pelo vice para ocupar a Secretaria de Governo.

"Num plano mais geral, o que eu posso dizer é que a investigação ainda é o que é, uma investigação. Então, não sei se isto é um fator impeditivo de uma eventual nomeação", afirmou Temer, quando questionado sobre o assunto pelo repórter Gerson Camarotti.

A declaração pode ter frustrado alguns dos que foram às ruas defender a bandeira do combate à corrupção e terminaram engrossando o coro da oposição que defende o golpe.

Recuo na austeridade prometida

O vice também voltou atrás em alguns posicionamentos. Ele, que que até alguns dias utilizava o discurso da austeridade, anunciando a redução no número de ministérios dos atuais 32 para cerca de 20, na entrevista, reviu sua meta.

"Como há muita acusação de que eu estaria contrariando os direitos sociais, a dificuldade reside aí. Temo eliminar ministérios da área social. Imaginei reduzir para 26, 27, não mais que isso", declarou.

Matéria do jornal O Globo, contudo, informa que o recuo, na verdade, será ainda maior. “Não sei se terei condições de diminuir o número de ministérios (…) Acho que cortarei no máximo uns três ministérios”, teria dito o vice.

Na entrevista a Camarotti, ele falou ainda sobre a possibilidade de, em um eventual governo, ter como vice o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a quer teria que, em caso de ausência, delegar o governo, Temer afirmou que só avaliará isso, “se vier a assumir."

O peemedebista também comentou os pontos apresentados pelo PSDB como condição para aceitar compor um eventual governo pós-golpe. Temer disse concordar com propostas como a realização de uma reforma política e a adoção de um sistema parlamentarista no País, apesar de o país todo ter presenciado o rebaixamento do Congresso, durante a votação do impeachment na Câmara, no último dia 17.