Ignácio Ramonet: Cuba influi como nunca na América Latina

O escritor hispano-francês Ignácio Ramonet afirmou que a Revolução Cubana e seu líder, Fidel Castro, exercem – como nunca antes – grande influência na América Latina. Para ele, isso expli

Ramonet falou a um numeroso grupo de estudantes na Universidad de las Ciências Informáticas (UCI), na Cidade do México, onde apresentou a edição cubana do seu mais recente livro: “Cem horas com Fidel”. “Nunca antes o movimento social latino-americano reivindicou de maneira tão flagrante sua amizade e solidariedade com a revolução cubana e com Fidel (Castro)”, disse o intelectual, um dos coordenadores do Fórum Social Mundial de Porto Alegre.

 

Ele explicou que o volume, que em sua primeira edição na Espanha saiu com o título “Fidel Castro: biografia a duas vozes”, sai à luz em um momento importante para a nação caribenha e seus amigos no mundo, “porque dão força às campanhas, às calúnias”. Ele insistiu em que jamais o projeto político instaurado em Cuba desde 1959 havia tido tanta influência no continente como hoje, com relações construtivas com vários movimentos, partidos e os que chamou de “governos democraticamente de esquerda”. Para ele, aí estão a Argentina, Uruguai, Chile, Brasil e Panamá, e “quem sabe no México, na Nicarágua ou no Peru”, afirmou em alusão implícita a eventual vitória eleitoral de Andrés Manuel López Obrador, Daniel Ortega ou Ollanta Humala, respectivamente.

 

O diretor da revista mensal Le Monde Diplomatique, que recebeu na UCI o reconhecimento “Homens de Futuro”, o mais importante que outorga esse centro de estudos especializados, expôs as razões que o motivaram a escrever o livro. “Não o fez para defender a revolução cubana, o fez para defender a verdade”, apontou ao qualificar de injustas as calúnias e mentiras contra o chefe de Estado, como as que foram divulgadas recentemente pela revista estadunidense Forbes. A publicação, que Fidel Castro chamou de difamação, afirmou que o líder cubano possui uma milionária fortuna pessoal.

 

De acordo com o intelectual, diferentemente da juventude cubana, a européia e norte-americana se “conectam” pouco com a realidade da nação, precisamente por serem vítimas das campanhas. Ramonet revelou que depois de participar em 2002 do Fórum Social Mundial no Brasil, contou a Fidel Castro sua preocupação porque as novas gerações opostas à globalização neoliberal não tinham pelo país o sentimento de solidariedade de sua geração. “Contra os inimigos de Cuba, há pouco que fazer porque estão fossilizados, mas uma grande massa de pessoas de boa fé, solidárias que não tem argumentos para defender a verdade sobre a revolução merece estar informada”, disse.

 

Daí nasce a necessidade de “Cem horas com Fidel”, para impedir que as campanhas anti-cubanas alienem os destinatários fundamentais de seu livro. O escritor comentou que de Fidel Castro se fala muito no mundo, mas nunca lhe é dada a palavra, e esse – afirmou – é o maior mérito de sua obra.

 

Por outro lado, o diretor do Le Monde Diplomatique negou no México que seu livro sobre o líder cubano seja uma obra encarregada pelo governo da ilha. “Não fui contratado pelo governo. Para mim foi uma aposta intelectual antes de qualquer outra coisa”, disse o jornalista francês de origem espanhola ao apresentar aos seus colegas cubanos e estrangeiros a obra que gerou tanta polêmica.

 

Em coletiva de imprensa, Ramonet disse que Fidel nunca pediu para conhecer com antecipação as perguntas que lhe seriam feitas nem leu o resultado final, um volume de 26 capítulos em mais de 700 páginas e que acaba de ser publicado na Espanha. “A edição do México está saindo agora”, disse anunciando que também será publicada na Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Japão, Estados Unidos, Canadá, Argentina, Brasil, Colômbia, Venezuela e outros países do continente.

 

Pensamento revolucionário cubano

 

“Cem horas com Fidel” é o conteúdo de longas conversas mantidas entre o presidente cubano e o intelectual de esquerda entre princípios de 2003 e meados de 2005, e foi editado em Cuba pela Oficina de Publicaciones Del Consejo de Estado.

 

Ramonet disse que o livro é dedicado às novas gerações de jovens “que não tiveram a oportunidade de conhecer o pensamento” do líder cubano que é rotulado pelos grandes meios de comunicação. “Lhe deram mais caráter de livro de história que de biografia ou entrevista jornalística. É um livro político”, disse explicando que se propôs a não abordar a vida sentimental do chefe de Estado, que está perto de completar 80 anos de idade, 47 deles no poder.

 

Este livro é político, de combate, de batalha de idéias na frente exterior, disse Ramonet, que apontou que o público gostou da publicação na Espanha, porque lêem um pensamento que desconheciam e que não tem a ver com a “caricatura caluniosa” que a imprensa deu ao presidente cubano.

 

Ramonet, que anunciou que não cobrará direitos de autoria pela edição cubana, afirmou que as últimas entrevistas com Fidel no processo de elaboração foram em setembro de 2005. Ele reconheceu que o presidente autorizou a cópia de fragmentos de seus discursos posteriores, sobre tudo um pronunciado na Universidad de La Havana no qual falou da corrupção em Cuba.

 

Para Fidel, o livro reforça a batalha de idéias pelas verdades e justiça, em um texto que “não tem fraude, nem mentira, nem desonestidade”, o que tem feito com que tentem repudiar Ramonet, principalmente diante da repercussão positiva que tem recebido a obra.

 

Da Redação

Com agências.