Protestos contra impunidade de massacre em Odessa preocupa autoridades

Após dois anos do massacre na Casa dos Sindicatos incendiada em Odessa, milhares de efetivos de segurança mobilizados nessa cidade confirmam a preocupação de Kiev, originada pelo crime até agora impune.

Por Jorge Petinaud, na Agência Prensa Latina

Russos prestam homenagem aos mortos na Casa dos Sindicatos em Odessa

O próprio governador da cidade portuária, o georgiano nacionalizado ucraniano Mikhail Saakachvili, disse a meios de comunicação no domingo (1º/5) que está insatisfeito pela falta de avanços na investigação do assassinato de quase meia centena de pessoas.

Temeroso de que a impunidade dos culpados da tragédia de 2 de maio de 2014 origine protestos, Saakachvili mobilizou nesta segunda-feira (2) três mil policiais e membros da Guarda Nacional.

Por sua vez, o Tribunal Administrativo Regional local limitou as reuniões públicas anunciadas para este dia por várias associações de ativistas.

Na Rússia, a porta-voz da chancelaria, María Zakharova, alertou recentemente sobre as tensões crescentes na localidade ucraniana, 24 meses após os fatos sem uma investigação confiável.

Preocupam as notícias que circulam sobre o deslocamento à cidade de Odessa (qualificada pelo governo como "heroica" pela defesa durante a Grande Guerra Patriótica de 1941 de 1945) de "voluntários" dos batalhões fascistas Aidar, Azov e da organização política nacionalista Setor Direito, alertou Zakharova em sua mais recente coletiva de imprensa semanal.

Lamentou, a propósito do segundo aniversário da tragédia, que as autoridades ucranianas não quiseram levar a cabo uma investigação objetiva a fundo dos acontecimentos nem punir os culpados.

A porta-voz opinou que Kiev deve evitar uma nova escalada de confrontos entre setores internos e ao mesmo tempo não ocultar a verdade sobre o ocorrido em 2 de maio de 2014 na praça Kulikovoye Polie e no criminoso incêndio na Casa dos Sindicatos, onde se refugiaram ativistas diante da perseguição de elementos radicais armados.

Kiev estimou oficialmente o número de vítimas fatais em meia centena, mas organizações não governamentais e defensores de direitos humanos denunciaram mais de 500 mortos e desaparecidos.

Especialistas europeus que avaliaram a investigação admitiram o envolvimento policial da Ucrânia e a impossibilidade de punir os culpados.

Um relatório do grupo de consultas do Conselho da Europa que analisou a investigação reconheceu que a polícia a serviço dos governantes impostos em Kiev depois do golpe de Estado de 22 de fevereiro de 2014 assumiu uma atitude cúmplice no massacre.

"Levando em consideração os depoimentos que apontam que a polícia esteve envolvida nos distúrbios de 2 de maio de 2014 em Odessa", o comitê de especialistas considerou necessário que a investigação seja realizada por um organismo totalmente independente desse corpo repressivo, sugere o relatório ao qual teve acesso a imprensa.

O documento acrescenta que esta situação preocupa, e outra vez indica a necessidade de um mecanismo independente e eficaz para investigar as graves violações de direitos humanos cometidas pelas forças de repressão e pelos comandos fascistas do Setor Direito em Odessa.

Ao assinalar falta de "avanços substanciais" por parte dos investigadores designados por Kiev, o grupo consultado lamenta que as falhas detectadas na investigação impedirão punir os culpados.

Criado pelo secretário geral do Conselho da Europa, Thorbjorn Jagland, a equipe de especialistas confirmou em seu estudo sobre o massacre de Odessa que os investigadores ignoraram no processo as normas da Convenção Europeia de Direitos Humanos.

No dia 2 de maio de 2014, centenas de opositores à ruptura da ordem constitucional em Kiev em 22 de fevereiro realizaram um acampamento em Odessa e foram agredidos com diferentes tipos de armas por grupos ultranacionalistas pró-governamentais.

Centenas de manifestantes pacifistas buscaram refúgio na Casa dos Sindicatos dessa cidade, que foi incendiada com o arremesso de coquetéis molotov, enquanto muitos que tentavam fugir das chamas tentavam fugir das chamas morreram vítimas de tiros ou de pauladas, segundo mostrou a televisão.

A chancelaria da Rússia criticou a tolerância dos governos ocidentais a favor de Kiev, unido ao manto de silêncio da imprensa norte-americana e europeia em relação a este massacre.

O canal Rossiya 24 e outras emissoras mostraram o atual presidente da Rada Suprema (Parlamento unicameral ucraniano) Andrei Parubi parabenizando vários dos participantes diretos no massacre, depois de apenas 24 horas após o acontecimento.