1º de maio: Trabalhadores denunciam retrocesso que ameaça democracia 

A conjuntura política com o trâmite do impeachment da presidenta Dilma Rousseff no Senado Federal vai marcar as atividades do primeiro de maio organizado em todo Brasil pelas centrais de trabalhadores CUT, CTB e Intersindical. Desta vez, a luta é para denunciar o golpe por trás de um eventual governo do vice-presidente Michel Temer, que ameaça direitos sociais, trabalhistas e o sistema democrático. 

Por Railídia Carvalho 

Anhangabaú contra golpe - Dino Santos

“Este será um dos 1º de Maio mais politizados da história, um 1º de Maio de resistência e defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia”, declarou o presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo. Ele denunciou que os apoiadores do golpe querem rasgar a Consolidação das Leis Trabalhistas e a Constituição.

O dirigente alertou ainda que por trás do discurso de modernização de Michel Temer e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) se esconde uma “escravidão moderna”. “Modernização do trabalho é rasgar a CLT, permitir a terceirização de forma irrefreável, vender 13º, férias”, completou Adilson. A tentativa de acabar com os direitos dos trabalhadores, representada por 55 projetos tramitando no Congresso Nacional, ganhou força com a crise política forjada pela ação jurídico-midiática de atuação seletiva.
Democracia e o papel dos sindicatos
Para o secretário geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, as atividades do primeiro de maio oferecem a oportunidade de recuperar o papel social dos sindicatos dos trabalhadores. “Seria importante que a população em geral zelasse pela democracia mudando o tipo de legislação eleitoral e participação social”, afirmou. 
 
Na opinião de Juruna a atual situação política coloca em xeque o sistema democrático no Brasil. “Coloca em xeque a lei partidária, o regulamento das eleições, o tipo de propaganda que é feito na época eleitoral”, opinou. Ele combate o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. “Não há um motivo real para justificar o impedimento”
Patrões: Golpe no povo brasileiro
“Se o patrão está do lado deles nós temos que estar do nosso lado, dos trabalhadores do povo brasileiro defendendo a democracia”, afirmou Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). O “patrão” Fiesp não só está do lado dos golpistas como tem papel central na campanha para a derrubada da presidenta Dilma, o que parece ser também o desejo da Confederação Nacional das Indústrias (CNI).
 
“Querem terceirizar tudo e não aceitam que o Brasil e os trabalhadores tenham melhorado de vida. O golpe é contra os trabalhadores, querem acabar com a carteira assinada, férias, 13º salários, acabar com os direitos dos jovens, dos negros, das mulheres também”, completou o dirigente da CUT
Ampla participação
O aumento visível da consciência política e de amplos segmentos que se posicionam em defesa da democracia é o ingrediente a mais neste primeiro de maio de 2016. As manifestações dos dias 18 e 31 de março e ainda o grandes atos que foram realizados pelo Brasil no dia 17 aponta uma crescente rejeição àqueles que comandam o desrespeito ao resultado das eleições que reelegeu Dilma por 54 milhões de votos. 
 
"A rua passou a ser uma importante trincheira. O elemento que está posto é ter muita tranquilidade, pé no chão e sensibilidade. Mesmo aqueles que discordam de parte do que a gente fala precisam ser convocados. Precisamos ter atuação ampla, porque o que se ensaia por parte da elite conservadora é um agravamento ainda maior do quadro político, apostando na instabilidade", disse.
A ideia é reunir também no primeiro de maio setores da população que não se identificam com uma organização ou entidade, entre eles artistas, acadêmicos, juristas, intelectuais e coletivos populares que condenam a ruptura democrática e defendem o fortalecimento da democracia.
Desvalorização do Salário Mínimo
 
A política de valorização do salário mínimo pode estar com os dias contados. Resultado de histórica mobilização do movimento sindical brasileiro e uma das maiores do mundo, essa iniciativa foi concretizada nos governos Lula e Dilma. A proposta de Michel Temer é acabar com “todas as indexações, seja para salários, benefícios previdenciários e tudo mais” retirando do trabalhador o seu poder de compra, afirmam especialistas.
 
Na área trabalhista, o cenário previsto de um possível governo Temer é a imposição pelos patrões de condições desfavoráveis ao trabalhador. É a prevalência do negociado sobre o legislado, que, nas palavras de Adilson, “é um sonho antigo dos capitalistas brasileiro”. Imagine essa situação em tempos de crise: Sem nenhuma garantia na legislação trabalhistas o trabalhador pode sucumbir a chantagens em nome de preservar o emprego.
“O Direito do Trabalho sintetiza a progressiva humanização e civilização das relações sociais subjacentes ao processo de produção e reprodução econômica das sociedades contemporâneas. Vem sendo escrito com as tintas vermelhas do sangue operário. Não podemos medir esforços e sacrifícios na luta já secular em sua defesa”, defendeu Adilson.
Vagner afirmou que o PMDB apresentou ao Brasil a agenda do retrocesso social e trabalhista e da retirada de direitos conquistados. “Mais grave ainda, mostra que os membros do partido desconhecem totalmente as diferenças sociais deste país de dimensões continentais, rico em recursos naturais, que está entre os dez maiores países do mundo, mas bate recordes em desigualdades”, lembrou.