Partidarismo da mídia no Brasil deu peso à imprensa internacional

O editor da revista The Economist para a América Latina, o britânico Michael Reid, afirmou em entrevista à BBC Brasil em Londres, publicada nesta quinta-feira (28), que a falta de isenção da maior parte da mídia no Brasil, em relação à grave situação política vivida no país, aumentou a procura dos brasileiros pela cobertura da imprensa internacional.

The economist

A revista The Economist ganhou notoriedade recentemente quando publicou matéria de capa sobre a crise política e econômica vivida pelo Brasil. Reid, atualmente responsável pela coluna “Bello”, que tem a América Latina como tema, acredita que os brasileiros estão buscando a revista como fonte por que perceberam uma maior isenção do que a mídia doméstica. “Isso pode estar acontecendo porque levamos nosso trabalho a sério e respeitamos o país”, destacou o colunista.

Michael Reid elogiou a reação dos brasileiros contra o que chamou de “partidarismo na mídia nacional”. “A mídia brasileira está muito partidária, isso faz com que as pessoas olhem mais para publicações internacionais”, disse.

Críticas ao processo de impeachment

Embora o jornalista não entenda como tentativa de golpe o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, ele ressalta ao mesmo tempo que considera a manobra constitucional uma má ideia. “Dissemos que seu uso não é uma boa ideia. Algumas das pessoas julgando a presidente estão envolvidas em denúncias graves de corrupção e têm processos na justiça”, esclarece.

O britânico também criticou a votação no Plenário da Câmara dos Deputados no último dia 17. “O que mais me chamou a atenção foi que a causa do processo de impeachment contra a presidente (as pedaladas fiscais) não foi mencionada pela maioria dos deputados. O Congresso não fez nenhum a favor a si mesmo naquele dia para tentar conter a crise de credibilidade na política brasileira.”

O colunista também não deixou passar a falta de confiabilidade do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que dirigiu o processo de impeachment ao mesmo tempo que é investigado por corrupção. “Para quem vê de fora, Cunha tem muito ao que responder e deveria ser afastado do Parlamento até que as acusações contra ele fossem investigadas, até por uma questão de credibilidade do processo.”

Governo ilegítimo de Temer

Para Reid, um provável governo do vice-presidente do Brasil, Michel Temer, enfrentaria muitas problemas. A começar pela “falta de legitimidade”, embora o atual vice-presidente seja um nome que “agrada ao mercado”, disse o britânico, completando que receia “que um governo Temer seja marcado pela fraqueza: com vontade de reformas, mas sem força política para realizá-las”.

“Essa crise está custando caro demais para o Brasil e não pode durar outros dois anos até as eleições de 2018, e por isso defendemos novas eleições no Brasil. Temos opiniões de que as pessoas podem até discordar. Mas tomamos muito cuidado com os fatos”, conclui o jornalista britânico.