Arruda Bastos: Cunha, o Al Capone dos tempos modernos

Por *Arruda Bastos

Eduardo Cunha STF

Quando o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) chamou o Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de gângster em sua declaração de voto contra a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma, no último dia 17/04, quase que instantaneamente me veio à mente a figura de um dos gângsteres mais conhecidos da história e um dos criminosos mais procurados nos EUA: Al Capone (Alphonse Gabriel "Al" Capone, 1899 – 1947).

Também conhecido como Scarface ("Cara de Cicatriz" em tradução livre), Al Capone liderou um grupo criminoso dedicado ao contrabando e à venda de bebidas, entre outras atividades ilegais, durante a lei seca que vigorou nos Estados Unidos nas décadas de 1920 e 1930. Ele contava com informantes e possuía casas de jogo, bordéis, clubes noturnos, destilarias e cervejarias. Chegou a faturar US$ 100 milhões de dólares americanos por ano durante a Lei Seca.

Al Capone, foi condenado à prisão em 1931. Ele foi considerado culpado por sonegação de impostos e condenado a 11 anos de cadeia, além de ter que pagar multa ao Estado Americano. Em 1939, sua prisão foi revista por conta do seu estado de saúde. Al Capone havia contraído sífilis, apresentava distúrbios mentais e morreu no dia 25 de janeiro de 1947.

Eliot Ness (1903 – 1957) é outro personagem ilustre dessa história que estou a narrar. Ele era agente do Tesouro Americano, e ficou famoso por seus esforços no combate ao crime organizado durante a Lei Seca em Chicago como um dos líderes da lendária equipe apelidada de “Os Intocáveis”, que se notabilizou pela decisiva participação na prisão do gângster Al Capone. O apelido de “Os Intocáveis” foi dado após diversas tentativas de suborno feitas por Capone serem rechaçadas por Ness e sua equipe. As ações do grupo ficaram imortalizadas no seriado de televisão "Os Intocáveis", recordista de audiência na época na televisão estadunidense.

Fiz toda essa introdução, primeiro, para situar os mais jovens na figura de Al Capone, já que os maduros, como eu, e que assistiram ao seriado de TV “Os Intocáveis”, já conhecem bem os personagens; e, segundo, com a finalidade de destacar a assertiva do Deputado Glauber Braga de conceder o titulo de “gângster maior” a Eduardo Cunha, o que parece razoável em razão de algumas semelhanças com a carreira de Al Capone, senão vejamos:

É sabido que Eduardo Cunha comanda um grande número de deputados federais que agem em conluio com ele em diversas ações tidas como suspeitas, inclusive a clara interferência visando a impedir o trâmite, na Câmara, do processo de cassação do seu mandato por quebra de decoro parlamentar que, de forma inexplicável, caminha a passos de tartaruga grávida, correndo um grande risco de ser arquivado. Para muitos, é o modus operandi de uma quadrilha organizada, como nos tempos de Al Capone.

Cunha também está sendo processado e já é réu em ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) com a acusação de ter recebido propina do esquema da Petrobras e de ter contas secretas no exterior, principalmente na Suíça, não declaradas, em benefício próprio e de sua família. A semelhança também se equivale ao enriquecimento ilícito do gângster famoso em questão.

O título de “O Intocável” também guarda muita similitude com o seriado de TV “Os Intocáveis”, exibido por muitos anos nas TVs americana e brasileira. No seriado, o título era dado aos “mocinhos”, comandados por Eliot Ness. No presente caso, inverte-se, e a blindagem é do nosso personagem moderno. Como exemplo, podemos citar a tramitação, já há mais de 130 dias, de um pedido de afastamento de Cunha encaminhado pelo Procurador Geral da Republica, Rodrigo Janot, ao STF e, aí como no tempo de Al Capone, não se sabe por qual motivo a ação não é julgada, levando a crer, invariavelmente, que o nosso personagem tem um poder ainda maior.

O Scarface ("Cara de Cicatriz" em tradução livre) era o codinome de Al Capone devido a uma cicatriz na face, adquirida na sua juventude em uma briga com um inimigo. Eduardo Cunha também tem uma face considerada por muitos como de um sociopata, lívido, impassivo, imperturbado, o que já o caracteriza como o Falseface (“Cara de falso” em tradução livre) ou Cynicalface (“Cara de Cínico”, novamente em tradução livre).

Meus leitores, poderia ainda escrever muitos outros parágrafos falando das possíveis semelhanças entre os personagens desta breve narrativa, entretanto, em respeito ao estômago de todos, e para não ruborizar ainda mais com essas comparações, prefiro parar por aqui, não sem antes concluir que, sem dúvida, o que falta nesses tempos bicudos de hoje é um personagem como Eliot Ness que, não podendo enquadrar o gângter Al Capone em outros crimes, o fez na sonegação de imposto de renda, o que tirou o criminoso das ruas e o levou a pagar pelos seu crimes na cadeia. Pergunto: até quando vamos esperar para que as comparações também cheguem à cadeia?

Termino meu texto com a letra de uma música do inesquecível Raul Seixas (Al Capone):

Ei! Al Capone / Vê se te emenda / Já sabem do teu furo, nego / No imposto de renda
Ei! Al Capone / Vê se te orienta / Assim desta maneira, nego / Chicago não aguenta.
Eu digo como os brasileiros: assim, desta maneira, nego, o Brasil não aguenta.


*Arruda Bastos é médico, professor universitário e um dos coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.