Dilma: “Cunha é pecado original do impeachment”

A uma plateia formada por ativistas dos direitos humanos, a presidenta Dilma Rousseff disse, nesta quinta (27), que o processo de impeachment em curso no Senado coloca em xeque não só o seu mandato, mas a própria democracia e uma série de direitos. Ao reiterar que o pedido de impedimento tem problemas desde sua origem, ela disse que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é o “pecado original” do impeachment.

Dilma Rousseff

Em discurso durante a Conferência Nacional de Direitos Humanos, a presidenta afirmou que Cunha recebeu o pedido de impeachment contra ela em retaliação, porque o governo e o PT não se dispuseram a ajudá-lo a se livrar dos processos a que responde. O deputado é investigado no Conselho de Ética da Câmara e é réu no Supremo Tribunal Federal por acusação de corrupção e lavagem de dinheiro.

“Esse processo tem um pecado original. O pecado original é o presidente da Câmara. Por que ele é o pecado original? O senhor presidente da Câmara queria fazer jogo escuso com o governo. ‘Votem para impedir que eu seja julgado no Conselho de Ética. Tirem os votos que o governo tem. E aí eu não entro no processo de impeachment’. O governo que aceita uma negociação dessas é um governo que entra em processo de apodrecimento. E por isso é que nós recusamos”, declarou.

Dilma disse ainda que um eventual governo de seu sucessor – no caso de o Senado decidir por seu afastamento – significará retrocessos e perda de direitos sociais e de grupos como a população LGBT.

“Quero dizer a vocês que é um processo complicado, que diz respeito à democracia do Brasil e não só ao meu mandato. O que está em questão são os direitos de vocês, sim. Nós vamos discutir o nome social. Eles não vão discutir o nome social com vocês. Eu asseguro a vocês que nós discutimos. Eles não só não discutem como jamais farão uma legislação para garantir direitos do povo LGBT”, disse.

A presidenta repetiu que não possui contas no exterior, nem usou dinheiro público para se beneficiar, que não é acusada de corrupção e nem cometeu crime de responsabilidade. Para ela, a acusação que embasa o pedido de impeachment, centrada nas chamadas pedaladas fiscais e em decretos de suplementação orçamentária, é “arranjada” e “frágil”.

“Nosso país transfere renda para quem precisa. Bolsa Família é um, seguro-desemprego é outro. Ninguém sabe quanto vou pagar de seguro-desemprego naquele mês, então faz-se uma estimativa, passada ao banco para pagar. Se for mais gente, o banco paga e depois nós pagamos o banco, e com juros. Se for o contrário, se o banco ficar com dinheiro do governo, o banco paga juros para mim. Sempre foi feito isso no Brasil, desde 1994, mas na minha vez é crime. Por que é crime? Porque não tendo crime para me acusar, inventam que é crime aquilo que não é crime”, explicou.

A presidenta voltou a falar que o processo de impedimento é uma tentativa de eleição indireta. “Queria concluir a minha fala: a democracia tem disso, o direito absoluto de reivindicar. Quero dizer ainda que eu vou lutar até o fim para garantir que a democracia seja respeitada. Esse impeachment não é um processo de impeachment, é um processo de eleição indireta. Daqueles que não tem voto para se colocar numa disputa e receber os votos do povo brasileiro, que é o único caminho correto para se chegar ao governo”, declarou.