Cláudio Ferreira Lima: O gigante não dobrará os joelhos

Por *Cláudio Ferreira Lima

Manifestação contra o golpe no dia 18 de março de 2016

Immanuel Wallerstein, sociólogo norte-americano, ensina que: “Todo sistema social sobrevive recompensando os que o gerenciam. Todos os sistemas históricos conhecidos também tiveram de manter grandes massas de população com baixas recompensas sociais e materiais, porém sob controle”. (Capitalismo histórico e civilização capitalista. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001, p. 127-128).

A questão no capitalismo é “como oferecer para os gerentes uma recompensa sempre crescente e conciliar isso com a entrega de uma pequena parte do bolo, junto com esperanças reformistas, às massas”. E a solução: a concessão da participação política e do caminho da redistribuição imposta pelo Estado, como as políticas sociais. (Op. cit., p. 129-130).

Da mesma forma, Wallerstein mostra que, no plano geopolítico, o jogo de posições não tem base nacional; o que há é um sistema interestatal hierarquizado em que as potências hegemônicas comandam o processo.

Assim, a fatia do bolo das massas deve conter-se em determinados limites, e, no tocante aos países não hegemônicos, não se pode tomar decisões próprias em questões estratégicas como energia e formação de blocos econômicos. O governo que infringir tais regras será forte candidato à deposição.

Aí vem a forma de deposição, tanto mais facilitada quanto haja flanco aberto, como, por exemplo, o da sempre presente, aqui e alhures, corrupção. Vejamos agora o caso do Brasil.

Digamos que a presidente não é afeita ao diálogo com o Congresso, tomou decisões equivocadas na economia, perdeu a governabilidade etc. Mas ocorre que a Lava Jato, contaminando a economia e a política e bloqueando as iniciativas governamentais, tem funcionado como trama bem urdida para apeá-la do poder.

Ora, se era para apurar corrupção, por que o vazamento seletivo, trombeteado pela imprensa em datas certas, ferindo inclusive a Constituição? Por que uma campanha goebelliana, que não só levou a classe média para a rua como demonizou o PT, Lula e a presidente e semeou ódio por toda parte, mesmo em escolas de ensino infantil?

Para coroar tudo isso, o que se viu, conforme Paulo Sérgio Pinheiro, foi “uma busca sôfrega de um fato ou de uma interpretação jurídica para justificar o impeachment” (Folha de S.Paulo, Ilustríssima, 10/4/2016).

Mas, por mais irrespondíveis os argumentos, é inútil contraditar. As forças são tremendamente desiguais. O nível de consciência política entre nós, não importa a classe social, é muito baixo, de modo que acaba prevalecendo a lógica implacável do sistema, descrita com clareza por Wallerstein.

Enganam-se, porém, os que puxam os cordões: o gigante não dobrará os joelhos, porque os verdadeiros filhos seus não fugirão à luta e saberão achar os meios lícitos para recolocar o Brasil no lugar que lhe cabe como nação capaz de fazer as suas próprias escolhas.

*Cláudio Ferreira Lima é economista

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