Alexandre Tavares: A falência do futebol paulista

Sim, foi decretada. Sou do tempo dos clássicos no Morumbi. Duas torcidas dividiam o estádio. Às vezes uma ficava ainda em menor porcentagem e ia perdendo "gomos" na divisão com cordas.

Por Alexandre Tavares*

torcida corintiana no Pacaembu saúda entrada do time

Era colorido. O preto, o branco, o vermelho e o verde tremulavam nas arquibancadas nas lindas bandeiras de mastro. As baterias eram robustas, tocavam alto e embalavam a festa. A cerveja era gelada.

Havia até um troféu, conferido por um jornal, para a melhor torcida da tarde.

Os ônibus da CMTC saíam do centro e levavam os torcedores.

O estádio era algo mágico. A atmosfera respirava futebol. Bons tempos…

A violência urbana, que sempre existiu, obviamente não imunizava o esporte e nele se infiltrava . Os brigões e as confusões existiam tal qual hoje. Mas hoje não há mais festa.

Os estádios de São Paulo são gélidos e cinzentos. O batuque foi silenciado. As bandeiras foram confiscadas. Até o velho lanche de pernil na porta andou sumido.

E nada foi resolvido com relação à violência. É um problema social.

Não será resolvido por uma PM truculenta e que não inspira confiança, nem por um governo que age conforme seus interesses políticos, nem por um promotor que faz nome em cima disso, se elege e depois rouba merenda de crianças. Tampouco pela omissão dos clubes. Nem mesmo pela falta de conscientização dos torcedores. E menos ainda, com a inépcia de um Legislativo que até hoje não se deu conta que é necessária uma legislação rígida, específica e eficaz contra a impunidade individualizada de quem comete crimes em nome do futebol.

Sem uma discussão ampla, conjunta e cada qual assumindo a sua cota de responsabilidade, não avançaremos.

Às vésperas das finais do Campeonato Paulista não temos problema algum resolvido, nem serão resolvidos, os estádios permanecem cinzas, e o pior: teremos decisões sem a presença da torcida adversária, o que é um velório em se tratando de futebol.

Apaguem os sinalizadores e acendam as velas…

*Advogado formado na FMU e torcedor do Corinthians