A coragem do deputado Valtenir 

Ele costumava dizer que tinha escolhido os rumos do “Direito”, pois queria “fazer justiça” no caso de seu pai, o qual já se arrastava por mais de 20 anos sem que os assassinos cumprissem suas respectivas penas.

Valtenir - Miranda Muniz

• Miranda Muniz

Conheci o deputado federal Valtenir Pereira quando entrei, através de concurso público, no Ministério Público do Trabalho (MPT). Convivi intensamente com ele por cerca de 2 anos.

Éramos colegas de trabalho e de futebol, nas peladas de finais de semanas. Um zagueiro implacável, mas que não “dava chute na canela”.

Na época, conheci sua história e a história de seu pai Valdevino, agricultor familiar que fora covardemente assassinado na comunidade de São Lourenço de Fátima (hoje no município de Juscimeira).

Depois ele foi aprovado num concurso para Defensor Público e nos "abandonando”…

Ele costumava dizer que tinha escolhido os rumos do “Direito”, pois queria “fazer justiça” no caso de seu pai, o qual já se arrastava por mais de 20 anos sem que os assassinos cumprissem suas respectivas penas.

Me confidenciou das dificuldades de sua infância e adolescência e de sua mãe, Dona Lúcia (uma mulher que tem a ternura de um anjo), que teve que aguentar uma barra pensada para criar ele e seus outros irmãos (Valdenir, Lucilânia e Wantuir).

Mesmo nunca tendo votado nele, pois sou comunista e voto nos candidatos do PCdoB, passei a admirá-lo, pela coragem e determinação. Nunca neguei “aconselhá-lo” na política, quando recorria a mim querendo uma opinião.

Na Defensoria exerceu com denodo a defesa dos carentes, garantindo, na Justiça, inúmeros procedimentos médicos e remédios para quem não podia pagar.

Foi eleito o vereador mais votado na chapa do PT. Depois, ingressou no PSB e foi eleito deputado federal por 2 vezes consecutivas.

Abandonou o PSB e foi para o PROS, onde novamente se elegeu. Migrou para o PMB e, mais recentemente, ao PMDB.

Agora, nesse processo do impedimento foi indicado pelo PMDB para integrar a Comissão processante. Mesmo sendo novato, não vacilou e aceitou o desafio.

Foi duramente “bombardeado” para aderir ao golpe, com direito a divulgação nas redes sociais de uma conversa telefônica feita, sem sua autorização, por um “suposto” amigo e eleitor e ataques fascistas contra sua honra e liberdade de opinião e voto, através de pichações na sede do Diretório Estadual do PMDB.

Mesmo assim resistiu bravamente e, na Comissão, cravou um voto contra o Golpe e em defesa da Democracia, com um brilhante embasamento jurídico.

Decisão que considero extremamente coerente, tanto com seu passado como também pelos compromissos democráticos e populares que o mesmo sempre praticou.

Agora, no próximo domingo, ele deve confirmar seu voto contra o Golpe, mesmo com toda pressão e ameaças que continua sendo submetido. Mesma atitude que também deverá tomar o deputado Carlos Bezerra, honrando seu histórico de luta em favor da liberdade, da democracia e dos direitos dos menos favorecidos.

Por tudo isso, o deputado Valtenir Pereira cresceu muito em meu conceito e, certamente, no conceito dos setores populares que defendem e lutam pela garantia do Estado Democrático de Direito.

• Miranda Muniz –
agrônomo, bacharel em direito, oficial de justiça federal, dirigente da CTB-MT e presidente do PCdoB/Cuiabá.