Hacker ajudou direita a eleger mexicano e a atacar esquerda na AL
O hacker Andrés Sepúlveda, que cumpre pena de 10 anos de prisão por espionagem e outros crimes virtuais na Colômbia, afirma ter passado quase dez anos manipulando eleições em diversos países na América Latina através do uso de táticas de "guerra suja virtual".
Publicado 04/04/2016 18:31
Em reportagem publicada pela revista norte-americana Bloomberg Businessweek, Sepúlveda diz que entre seus feitos estão a vitória do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, nas eleições realizadas em 2012 no país, além de ataques virtuais a Hugo Chávez, Nicolás Maduro e Diosdado Cabello, então presidente da Assembleia Nacional venezuelana, em 2012.
“Trabalhei com presidentes, personalidades públicas com muito poder e fiz muitas coisas de que ao fim de forma alguma me arrependo, porque fiz tudo com convicção plena e com um objetivo claro: acabar com as ditaduras e os governos socialistas na América Latina”, declarou o colombiano à publicação norte-americana.
Sepúlveda, 31 anos, diz ter viajado durante oito anos pela América Latina manipulando eleições em pelo menos nove países: Nicarágua, Panamá, Honduras, El Salvador, Colômbia, México, Costa Rica, Guatemala e Venezuela.
Sua carreira teria começado em 2005, iniciando com trabalhos como violar bases de dados de sobre doações políticas e invadir sites de candidatos concorrentes. Com o tempo ele passou a chefiar equipes de hackers que realizavam espionagem, roubo de dados e difamação, cobrando entre 12 mil e 20 mil dólares ao mês. Sepúlveda afirma que seu trabalho era protegido por uma rede de intermediários e assessores e que acredita que muitos dos candidatos que ajudou nem sabem de sua existência.
Um deles seria Peña Nieto, cuja chegada à Presidência do México em 2012 se deveria a Sepúlveda, que diz ter recebido 600 mil dólares para roubar estratégias de campanhas dos candidatos rivais, manipular redes sociais para criar e alimentar ondas de entusiasmo por Peña Nieto e desprezo pelos concorrentes, e instalar programas espiões em computadores de trabalhadores de outras campanhas.
Consultadas pela Bloomberg, as assessorias do presidente mexicano e de seu partido, o PRI (Partido Revolucionário Institucional, de centro-direita), dizem não ter conhecimento de que o hacker tenha prestado serviços para a campanha presidencial ou qualquer outra campanha do partido.
Também em 2012, movido por sua aversão a Chávez, segundo a revista, Sepúlveda contratou o grupo Anonymous para ajudá-lo a prejudicar o então presidente venezuelano em sua tentativa de se reeleger. A equipe do hacker publicou um vídeo em que mostra a invasão do email do chavista Diosdado Cabello, então presidente da Assembleia Nacional venezuelana.
O time de Sepúlveda também invadiu o site oficial de Chávez, mas não conseguiu impedir a vitória do venezuelano nas eleições. Após a morte de Chávez, porém, a equipe se voltou contra Nicolás Maduro, invadindo sua conta no Twitter e postando mensagens sobre uma suposta fraude eleitoral às vésperas da vitória de Maduro nas eleições presidenciais em 2013.
Outros trabalhos
O hacker colombiano afirma que seu mentor e supervisor durante a maior parte de sua carreira foi o venezuelano Juan José Rendón, consultor político que vive hoje em Miami e que seria o principal estrategista de campanha de candidatos da direita latino-americana. Rendón foi consultado pela Bloomberg e “refutou categoricamente” as declarações de Sepúlveda, admitindo já o ter contratado, mas somente para trabalhar em “desenvolvimento de sites” para seus candidatos.
Além de México e Venezuela, o hacker diz ter trabalhado na Colômbia na equipe de Álvaro Uribe em sua reeleição como presidente, em 2006, e na campanha de Óscar Iván Zuluaga à Presidência em 2014, quando foi derrotado pelo atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos; em Honduras, na campanha de Porfirio Lobo Sosa, eleito presidente em 2009; na Nicarágua, em campanha contra Daniel Ortega em 2011, quando ele foi reeleito presidente; na Costa Rica, na campanha de Johnny Araya, que perdeu as eleições presidenciais em 2014; e no mesmo ano no Panamá, na campanha do candidato presidencial derrotado Juan Carlos Navarro.
Condenado a 10 anos de prisão na Colômbia por espionagem, roubo de dados, conspiração para delinquir e outros crimes, Andrés Sepúlveda cumpre pena em uma instalação de segurança máxima nos arredores de Bogotá, e vive sob intensa proteção policial por ser alvo de constantes tentativas de assassinato por parte de ex-aliados, diz a revista. Como parte de um acordo com a Promotoria colombiana, o hacker diz ter um computador e acesso monitorado à internet para ajudar a Justiça a rastrear as movimentações dos carteis de droga no país.
Fonte: Opera Mundi