Hacker ajudou direita a eleger mexicano e a atacar esquerda na AL

O hacker Andrés Sepúlveda, que cumpre pena de 10 anos de prisão por espionagem e outros crimes virtuais na Colômbia, afirma ter passado quase dez anos manipulando eleições em diversos países na América Latina através do uso de táticas de "guerra suja virtual".

Enrique Peña Nieto, eleito presidente do México com auxílio de Sepúlveda

Em reportagem publicada pela revista norte-americana Bloomberg Businessweek, Sepúlveda diz que entre seus feitos estão a vitória do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, nas eleições realizadas em 2012 no país, além de ataques virtuais a Hugo Chávez, Nicolás Maduro e Diosdado Cabello, então presidente da Assembleia Nacional venezuelana, em 2012.

“Trabalhei com presidentes, personalidades públicas com muito poder e fiz muitas coisas de que ao fim de forma alguma me arrependo, porque fiz tudo com convicção plena e com um objetivo claro: acabar com as ditaduras e os governos socialistas na América Latina”, declarou o colombiano à publicação norte-americana.

Sepúlveda, 31 anos, diz ter viajado durante oito anos pela América Latina manipulando eleições em pelo menos nove países: Nicarágua, Panamá, Honduras, El Salvador, Colômbia, México, Costa Rica, Guatemala e Venezuela.

Sua carreira teria começado em 2005, iniciando com trabalhos como violar bases de dados de sobre doações políticas e invadir sites de candidatos concorrentes. Com o tempo ele passou a chefiar equipes de hackers que realizavam espionagem, roubo de dados e difamação, cobrando entre 12 mil e 20 mil dólares ao mês. Sepúlveda afirma que seu trabalho era protegido por uma rede de intermediários e assessores e que acredita que muitos dos candidatos que ajudou nem sabem de sua existência.

Um deles seria Peña Nieto, cuja chegada à Presidência do México em 2012 se deveria a Sepúlveda, que diz ter recebido 600 mil dólares para roubar estratégias de campanhas dos candidatos rivais, manipular redes sociais para criar e alimentar ondas de entusiasmo por Peña Nieto e desprezo pelos concorrentes, e instalar programas espiões em computadores de trabalhadores de outras campanhas.

Consultadas pela Bloomberg, as assessorias do presidente mexicano e de seu partido, o PRI (Partido Revolucionário Institucional, de centro-direita), dizem não ter conhecimento de que o hacker tenha prestado serviços para a campanha presidencial ou qualquer outra campanha do partido.

Também em 2012, movido por sua aversão a Chávez, segundo a revista, Sepúlveda contratou o grupo Anonymous para ajudá-lo a prejudicar o então presidente venezuelano em sua tentativa de se reeleger. A equipe do hacker publicou um vídeo em que mostra a invasão do email do chavista Diosdado Cabello, então presidente da Assembleia Nacional venezuelana.

O time de Sepúlveda também invadiu o site oficial de Chávez, mas não conseguiu impedir a vitória do venezuelano nas eleições. Após a morte de Chávez, porém, a equipe se voltou contra Nicolás Maduro, invadindo sua conta no Twitter e postando mensagens sobre uma suposta fraude eleitoral às vésperas da vitória de Maduro nas eleições presidenciais em 2013.

Outros trabalhos

O hacker colombiano afirma que seu mentor e supervisor durante a maior parte de sua carreira foi o venezuelano Juan José Rendón, consultor político que vive hoje em Miami e que seria o principal estrategista de campanha de candidatos da direita latino-americana. Rendón foi consultado pela Bloomberg e “refutou categoricamente” as declarações de Sepúlveda, admitindo já o ter contratado, mas somente para trabalhar em “desenvolvimento de sites” para seus candidatos.

Além de México e Venezuela, o hacker diz ter trabalhado na Colômbia na equipe de Álvaro Uribe em sua reeleição como presidente, em 2006, e na campanha de Óscar Iván Zuluaga à Presidência em 2014, quando foi derrotado pelo atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos; em Honduras, na campanha de Porfirio Lobo Sosa, eleito presidente em 2009; na Nicarágua, em campanha contra Daniel Ortega em 2011, quando ele foi reeleito presidente; na Costa Rica, na campanha de Johnny Araya, que perdeu as eleições presidenciais em 2014; e no mesmo ano no Panamá, na campanha do candidato presidencial derrotado Juan Carlos Navarro.

Condenado a 10 anos de prisão na Colômbia por espionagem, roubo de dados, conspiração para delinquir e outros crimes, Andrés Sepúlveda cumpre pena em uma instalação de segurança máxima nos arredores de Bogotá, e vive sob intensa proteção policial por ser alvo de constantes tentativas de assassinato por parte de ex-aliados, diz a revista. Como parte de um acordo com a Promotoria colombiana, o hacker diz ter um computador e acesso monitorado à internet para ajudar a Justiça a rastrear as movimentações dos carteis de droga no país.

Fonte: Opera Mundi