Livro mostra que mais de mil camponeses foram vítimas da ditadura 

O relatório final da Comissão Camponesa da Verdade, transformado em livro, revelou as brutalidades que as pessoas do campo sofreram durante a ditadura militar, com 1.196 camponeses mortos ou desaparecidos no período. O estudo da Comissão, que é composta por movimentos sociais, pesquisadores e organizações ligadas a terra, complementa o trabalho da Comissão Nacional da Verdade. O livro foi lançado na última quinta-feira (17) em reunião da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado. 

O senador João Capiberibe (PSB-AP) chamou atenção para a situação que considera "estrutural" no país. Na percepção dele, é predominante uma organização estatal voltada a reprimir movimentos de contestação à desigualdade social. Para o senador, isso se refletiria nos diversos casos de crimes, torturas e repressão policial que atingem camponeses e lideranças indígenas como relatado na obra.

“Vivemos num país em que quem mata índios, sem-terra ou posseiros é protegido pelas polícias e o Judiciário. O regime militar terminou, mas isso continua”, denuncia o senador.

A representante da Via Campesina, Rosângela Cordeiro, apresentou dados oficiais que demonstram a persistência da violência no campo. “Somente no ano passado foram 50 lideranças assassinadas”, informou.

Ela ainda pediu providências da CDH contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que durante manifestação no domingo (13) em Brasília conclamou durante discurso que os fazendeiros "pegassem em armas e matassem sem-terras".

“Uma apologia ao crime em plena Esplanada dos Ministérios. Essa criatura tem que ser notificada e perder o mandato. Essa Casa não vai fazer nada?” indagou.

A Via Campesina foi uma das entidades que auxiliou a elaboração do relatório. Rosângela chamou atenção ainda que os milhares de casos de violações aos direitos humanos cometidos durante o regime militar, relatados na obra, na verdade refletiriam uma realidade "muito mais cruel, pois muitos crimes permaneceram sem notificação".