Trilogia do Subterrâneo traz adaptação de Dostoiévski para o teatro

Depois de 10 anos sem trabalhar juntos como ator e diretor, Celso Frateschi e Roberto Lage, assinam um projeto desafiador: trazer aos palcos três histórias do escritor russo Fiódor Dostoiévski. As obras, – O sonho de um homem ridículo, O grande inquisidor e Memórias do subsolo –, serviram de base para a dupla construir três monólogos que contam momentos distintos da vida de um homem cheio de crenças que serão pouco a pouco colocadas à prova.

Trilogia do Subterrâneo - Águeda Amaral

“Com a exposição cada vez mais ampla de nossas vidas temos olhado mais para os lados e para os outros do que para nós mesmos. Os outros também sempre são apontados como causa frequente dos nossos problemas. E os textos do Dostoiévski provocam um exercício de interiorização vital, que nos provoca e nos liberta, e ao qual estamos pouco acostumados”, explica Frateschi.

A Trilogia do subterrâneo estreia nesta sexta-feira (11), às 21 horas, com O sonho de um homem ridículo, depois no dia 15 de abril, com O grande inquisidor, e, ao final, em 13 de maio, com O subsolo. As três histórias são contadas pelo mesmo narrador que é quem dá nexo à trilogia. As peças, uma vez estreadas, permanecerão em cartaz, de sexta a domingo, permitindo ao público estabelecer o diálogo entre elas.

"Dostoiévski é atemporal. É impressionante como ele ainda alcança e consegue conversar com o homem contemporâneo. É imperdível. Para mim é um grande prazer voltar a fazer esse teatro mais artesanal e investigativo, que provoca o público e não tem comprometimento com patrocinadores", ressalta Lage.

“Já se passaram 11 anos desde que apresentamos O sonho pela primeira vez. É muito tempo. Nós mudamos. Nossas perspectivas também não são as mesmas e, com certeza, essa peça traz à tona toda essa experiência. Temos um espetáculo agora de uma profundidade muito maior”, afirma Sylvia Moreira, sócia do Ágora. É ela quem assina também figurino e cenografia das peças.

Celso, que adaptou as três obras, usa um trecho de Memórias do Subsolo para dar ao público uma expectativa do que se passa no palco: “Existem nas recordações de todo homem, coisas que ele só revela aos amigos mais íntimos. Há outras que ele não revela nem mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio e assim mesmo em grande segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de revelar até a si próprio”.

Sobre o Ágora Teatro

Criado em 1999 por Celso Frateschi e Roberto Lage, o Ágora tem uma vocação rara entre os teatros que continuam a existir no país: fazer um teatro livre para o público. É por isso que atua de forma independente, sem patrocínios ou apoio de Leis de incentivo cultural.

Nos palcos, a companhia conta com trabalhos importantes apresentados durante seus mais de 16 anos, entre eles Diana, que deu início aos trabalhos do grupo em endereço próprio, Ricardo III, Potestad, Solos Férteis – um olhar feminino e O teatro nosso de cada dia.

Fora dele, o Ágora, que têm fundadores antes engajados no movimento Arte contra a barbárie, se destaca no fomento de novas ideias e discussões de políticas-públicas e outros temas que envolvam não apenas o teatro, mas as cidades. Não à toa, a companhia faz parte da diretoria do Motim – Movimento dos Teatros Independentes –, que organizou o 1º Curto-Circuito – festival que buscou a promoção do teatro por meio da apresentação de dezenas de peças de curta duração na capital paulista. Desde 2001, seguem à frente do Teatro, Celso Frateschi e Sylvia Moreira.

O teatro fica na Rua Rui Barbosa, 664, Bela Vista, na capital paulista.