Jovens diretoras: seis filmes dirigidos por mulheres

Não poderia ser de outra forma, Prosa, Poesia e Arte desta semana é especial sobre mulheres. A força, a determinação e ousadia femininas para se inserir em mercados tradicionalmente ocupados por homens.

Por Mariana Serafini

E agora aonde vamos? - Divulgação

O Brasil vive um grande momento da produção cinematográfica, porém, as mulheres ainda estão à margem deste processo. Em 2015, menos de 15% dos filmes nacionais foram dirigidos por mulheres, revelou a Ancine em um relatório publicado em janeiro deste ano.

Este cenário está longe de ser novidade, na verdade, é apenas uma repetição de anos anteriores. O Ministério da Cultura tem um edital direcionado às diretoras, roteiristas, produtoras. Trata-se do Carmen Santos Cinema de Mulheres, lançado em 2013, ele busca apoiar a produção de curas e longas-metragem assinados e dirigidos por mulheres.

Diante deste cenário, Posa, Poesia e Arte traz uma seleção de seis ótimos filmes, todos dirigidos por mulheres. Dos seis, três são nacionais, e dois lançados em 2015.

Veja a lista completa:

Olmo e a Gaivota – Petra Costa

A direta de Elena surpreendeu novamente a levantar um debate que já deveria ter sido vencido pela sociedade, mas ainda é um tabu: a gravidez. Olmo e a Gaivota é um misto de ficção e realidade que às vezes até confunde. Petra Costa e Lea Glob filmam a rotina de um casal que em breve terá um bebê.

 

Olivia Corsini e Serge Nicolaï atuam juntos na peça A Gaivota, de Anton Tchekov, mas quando o diretor da companhia anuncia que farão uma turnê por Nova York, ela precisa dar a notícia de que sua gravidez estará num estagio avançado e não poderá seguir no projeto. O filme se passa, basicamente, no apartamento do casal, onde Olivia precisa cuidar de si, se preparar para receber o filho e lidara com todas as questões que passam pela cabeça de uma jovem grávida.

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Bicho de Sete Cabeças – Laís Bodanzky

O drama brasileiro dirigido por Laís Bodanzky é baseado no livro autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno, Canos Malditos. Protagonizado por Rodrigo Santoro, que dá vida a Neto, um jovem como qualquer outro que, devido à histeria de seu pai, é internado em um hospital psiquiátrico por fumar maconha.

Além de denunciar os abusos cometidos pelo sistema manicomial no Brasil, o filme aborda a questão das drogas e a relação entre pais e filhos. A obra recebeu diversos prêmios e indicações. Foi a mais premiada no Festival de Brasília à época, em 2000 e do Festival do Recife. 

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Que Horas Ela Volta – Anna Muylaert

Aclamado pelo público e pela crítica, o filme de Anna Muylaert foi o escolhido ano passado para representar o Brasil no Oscar, porém, não foi indicado. A história da empregada doméstica Val mostra o país pela perspectiva de quem vive na cozinha. Mas a diretora, em entrevista, disse que ela mesma “cresceu na sala de estar”.

A questão de classe é o mote do filme mas de forma muito sensível outras questões são esmiuçadas, além da truncada relação entre patrões e empregados. Há quem diga que a cena de Val na piscina é a melhor. Talvez seja, mas a frase comparando as praias da Austrália às do Recife é impagável.

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A Culpa é do Fidel – Julie Gavras

Julie Gavras mostra em A Culpa é do Fidel a que veio, fica claro que a diretora tem personalidade suficiente para não se apoiar no sobrenome do pai, o também cineasta, Costa-Gavras. O filme escancara as “confusões infantis” de Anna de la Mesa, a pequena de 9 anos que leva uma vida tranquila, mas com algumas regras, com seus pais em Paris.

Os pais de Anna tem amigos “estranhos e barbudos”, e segundo a babá, “assim são os comunistas”. Sob a perspectiva de uma criança, o filme traz os conflitos intimistas da esquerda e as questões ideológicas que permeiam a vida da militância. Depois da vitória de Salvador Allende, no Chile, em 1970, a vida da família de Anna muda por completo devido ao engajamento político dos pais: mudança para um apartamento menor, visita dos amigos barbudos, trocas constantes de empregadas. Anna se vê desafiada a encarar o mundo de uma nova forma.

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E agora, aonde vamos? – Nadine Labaki

Se falarmos que esta obra de Nadine Labaki se trata de um conflito entre muçulmanos e católicos fica fácil imaginar o cenário clichê e os estereótipos religiosos saltando aos olhos do espectador. Pois o que a diretora libanesa faz é exatamente o oposto.

Sensível e genial, E agora, aonde vamos? aborda o conflito pelo viés da força e da importância da mulher na sociedade árabe. Não poderia ser mais divertido e impressionante. Enquanto os homens se deixam levar pelas notícias do rádio que chegam ao vilarejo, as mulheres lutam para desviar o foco da guerra e mostrar que as duas comunidades sempre viveram em harmonia. Mas os mecanismos usados para isso são surpreendentes.

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Tomboy – Céline Sciamma

A obra da diretora francesa Céline Sciamma mostra que o cinema francês só perde em ter poucas mulheres na linha de frente. Tomboy aborda a questão da construção de gênero pelo viés da infância. Laure, é uma garota de dez anos que gosta de ter os cabelos curtos e se vestir com “roupas de menino”. Por este motivo, a conhecer a nova vizinhança, é confundida com um garoto, mas resolve encarar isso como uma “nova realidade” e passa a se “fingir de menino” para os novos amigos.

Em casa, Laure continua “sendo menina”. Obviamente que a “mentira” não leva muito tempo para ser desvendada e a pequena precisa lidar com isso e tentar reverter o quadro para não perder os amigos que acabou de conquistar sendo Michkaël. Os pais são fundamentais neste processo.

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