Campanha salarial: 2016 vai exigir mais pressão das centrais

Na opinião de sindicalistas, a campanha salarial de 2016 terá um dos cenários mais difíceis dos últimos três anos. Dessa maneira, a estratégia da negociação de 2015, que priorizou o emprego e a manutenção de direitos, deve se repetir no ano corrente. As centrais de trabalhadores têm pressionado pela concretização de ações pela retomada do crescimento, situação que pode reverter o cenário negativo que aguarda as campanhas salariais e dificulta a mobilização.

Por Railídia Carvalho 

balões centrais - portal CTB
“A tendência é que as campanhas deste ano enfrentem dificuldades maiores para obter a reposição salarial e aumento real”, disse Nivaldo Santana, vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). 
 
Ele citou a realização de campanhas salariais mais amplas, com diversas categorias, e a intensificação da mobilização entre os trabalhadores como formas de enfrentar as condições adversas. “Sem grande pressão a tendência dos empresários é jogar nas costas dos trabalhadores o prejuízo”, lembrou.
Alternativas

Airton Santos, coordenador de atendimento técnico e sindical do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) afirmou que o aumento do desemprego dificulta a negociação coletiva porque enfraquece a mobilização.

“Além da base estar menor pelos que foram demitidos, você tem um medo natural dos que restaram empregados de fazer um movimento mais radical e também perderem seus empregos, que neste momento passa a ser mais importante do que o reajuste, por exemplo”, afirmou Airton.
Com dificuldades na negociação no que se refere ao aumento de salário, Nivaldo apontou como uma alternativa cláusulas não-econômicas. “Por exemplo, assegurar compromissos contra as demissões, contra o banco de horas, luta pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários”, completou o dirigente.  
Retomada do crescimento
O secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, reforçou a necessidade de uma atuação mais intensa das centrais na pressão ao governo federal pela retomada do crescimento. Ele citou a necessidade de um anúncio imediato de um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que atinja o setor da construção civil, por exemplo.
Segundo ele, as medidas que reativem a economia, se concretizadas neste semestre, podem preparar uma retomada para o final do ano. “Nesse caso, talvez essa nova situação de investimentos abra espaço para não debater só emprego na negociação mas também a manutenção da renda e até ter aumento real mas isso para o segundo semestre. Neste momento quem for para a mesa de negociação vai defender emprego.” 
Luta contra precarização
Os metalúrgicos de Betim (MG) devem concluir neste mês a campanha salarial de 2015. O longo tempo de negociação se deve à posição irredutível do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e região em encontrar alternativas à proposta do banco de horas da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Sem acordo com a entidade patronal, o sindicato realizou negociações individuais fechando acordos, incluindo com o ramo automotivo, que contemplam, neste momento, 95% dos trabalhadores de um total de 38 mil. 
Os metalúrgicos mineiros conseguiram a reposição da inflação do ano passado, que foi de 9,9%, que será incorporada retroativamente aos salários em duas vezes, e a garantia de cláusulas não-econômicas como estabilidade no emprego para quem vai se aposentar e o 1/3 de férias, além do que é garantido pela Constituição.
“Não conseguimos avançar mas asseguramos conquistas em um cenário muito difícil. É extremamente positivo recusar o banco de horas, atendendo uma reivindicação da categoria e à posição do sindicato, e não negociar qualquer flexibilização de direitos”, avaliou João Alves, presidente do sindicato de Betim.