Crítica musical em extinção:Morre em São Paulo o jornalista Mauro Dias

Mauro Dias frequentou alguns dos principais movimentos musicais do País nas quatro últimas décadas, o que lhe deu uma condição invejável de conhecimento da música brasileira. O crítico musical morreu de cancêr, aos 66 anos, neste domingo (31), em São Paulo (SP), onde vivia. Teve quatro filhos. Mauro nasceu em Florianópolis (SP), mas foi criado em Niterói (RJ).

Mauro Dias, jornalista e crítico musical

Na década de 1970, já participava ativamente no Rio de movimentos musicais. Foi um atento e privilegiado ouvinte. O crítico continuou frequentando, em São Paulo, para onde se mudou, lugares onde se reuniam instrumentistas, cantores e compositores. Na época em que o samba e o choro reviveram uma nova fase de ascensão, Mauro Dias foi onipresente em rodas do gênero, nas décadas de 1990 e 2000.

Mauro comentava que nos anos recentes Rio e São Paulo tinham perdido a capacidade de criar movimentos musicais, enquanto Recife e Salvador passaram a cultivar isso. “O pessoal da música baiana anda tudo junto. Um canta o outro, um toca o outro. Isso fortalece o trabalha deles”, dizia.

Tudo que via e conversava nesses ambientes musicais eram expressados em seus textos, publicados, em sua maioria, no jornal O Estado de S. Paulo por cerca de 15 anos, até 2004. Tinha uma visão completa do meio, de quem vivia e circulava muito bem por este universo, entendia suas virtudes e defeitos, sabia dar devido valor a cada artista, principalmente àqueles excluídos da indústria e da mídia.

Nos últimos anos, passou a se dedicar mais a produção musical – chegou a ter uma loja de discos independentes (“Sucesso de crítica e um fracasso financeiro”, resumia o negócio) e a promover shows no Bar Brahma, no centro de São Paulo. Também produziu no saudoso Villaggio Café, no seu último endereço, no bairro paulistano de Pinheiros – lá, Mauro reunia uma turma da MPB semanalmente, para apresentar novas músicas, cantores e compositores.

Mauro Dias foi crítico raro. Ia até a fonte, onde a concepção musical se concebia, para buscar informação ao seu trabalho – um tipo de jornalismo em extinção.

Por Augusto Diniz