Morre o diretor italiano Ettore Scola, aos 84 anos

O diretor italiano Ettore Scola morreu nesta terça-feira (19), aos 84 anos. Ele estava internado há três dais em Roma. Considerado o último dos grandes produtores da “comédia italiana”, dirigiu clássicos do cinema como Tão Amigos Que nós Éramos (1974), e Um Dia Inesquecível (1977).

Ettore Scola - Divulgação

Apesar de ter encerrado oficialmente sua carreira cinematográfica em 2011, em 2013 Scola apresentou no Festival de Veneza um filme-homenagem a seu amigo Federico Fellini, com imagens de arquivo, intitulado Que estranho se chamar Federico.

Numa entrevista ao jornal Il Tempo, em 2011, afirmou que dizia adeus ao cinema "sem se arrepender de nada" depois de uma carreira de mais de 50 anos e mais de 40 filmes realizados. Segundo ele, já não se sentia sincronizado com a indústria cinematográfica.

"A minha experiência no mundo da realização já não é o que costumava ser: descontraída e feliz. Hoje há lógicas de produção e distribuição com as quais não me identifico", afirmou.

Scola acreditava que já tinha dado o melhor de si e não se sentia livre para criar como antes. "A crise econômica ainda veio agravar mais a situação. Tendo em conta a minha idade, sei que fiz o que devia. Não me arrependo de nada. Trabalhei sempre com uma grande liberdade. Numa certa altura, chega o momento em que o melhor a fazer é se retirar", acrescentou.

Ettore Scola nasceu a 10 de Maio de 1931, em Trevico, Itália. Depois da Segunda Guerra Mundial foi viver em Roma, onde estudou Direito. Contudo, o gosto pela escrita criativa e pelo cinema foi mais forte e, em 1953, iniciou sua carreira na indústria cinematográfica como argumentista, depois de ter trabalhado como humorista em algumas revistas – meio onde conheceria Fellini, e é sobre esses anos que fala Que Estranho se Chamar Federico. Durante uma década, contribuiu com material para inúmeros filmes de Dino Risi e de outros realizadores, tendo colaborado frequentemente com Ruggero Maccari, destacando-se desta parceria a comédia Il Magnifico Cornuto (1964), com Claudia Cardinale.

O sucesso internacional chegou em 1974 com Tão Amigos Que Nós Éramos, retrato da sociedade italiana no pós-guerra, dedicado ao seu amigo, ator e realizador Vittorio de Sica, com Nino Manfredi, Vittorio Gassman e Stefania Sandrelli. Dois anos depois, venceu o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes, com Feios, Porcos e Maus, talvez o seu título mais conhecido.

Mas o seu grande clássico é Um dia Inesquecível (1977), protagonizado por Sophia Loren e Marcello Mastroianni, que interpretam dois vizinhos que se conhecem em 1938 durante uma visita de Hitler à Itália. Eis um exemplo de como a "comédia à italiana" é coisa redutora: sublime melodrama, história de amor impossível entre uma dona de casa e um homossexual num apartamento fechado – filmado numa das "relíquias" da arquitetura fascista de Roma – Um dia Inesquecível foi indicado para dois Óscares: Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Ator (Mastroianni). A melancolia, o amor como coisa funesta, são sentimentos de Passione d'Amore (1981), dois anos antes de um dos sucessos da sua carreira, O Baile.