Ñanduti, as cores do Paraguai

Com o olhar um pouco cansado, mas atento aos movimentos firmes que marcam o tecido a golpes certeiros, a tecelã vai dando forma ao bordado conhecido como ñanduti. Não é preciso muita atenção para perceber a beleza colorida espalhada por tendas nos centros comerciais das cidades paraguaias, porém o ñanduti tem endereço, a arte é produzida apenas nas regiões próximas à capital do país, Assunção.

Por Mariana Serafini

Ñanduti - Efe

Acredita-se que a origem do ñanduti seja a ilha de Tenerife, na Espanha, de onde mulheres partiam para a América do Sul para se casar com os colonizadores espanhóis. Com elas chegaram os bordados brancos e delicados que se tornaram uma identidade das paraguaias.

As tranças finas inicialmente eram produzidas apenas com linhas brancas e consideradas um artigo de luxo. Porém, com o tempo foi ganhando as cores vibrantes que o Paraguai exala em sua natureza, danças e costumes. E tomou conta das ruas e praças como um acessório popular.

As tecelãs do ñanduti contam que o adereço era tradicionalmente usado pelas mulheres no casamento. Algumas utilizavam uma espécie de echarpe todo trabalhado, e em outros casos o próprio vestido de noiva era completamente bordado. A tradição era que as mães ou as avós passassem anos produzindo o vestido para a noiva da família.


Inicialmente o ñanduti era produzido apenas em branco e utilizado em ocasiões especiais como casamentos
Segundo uma lenda paraguaia, o ñanduti nasceu da branca cabeleira trançada de uma mãe tecelã que, desesperada para ajudar o filho apaixonado, se sacrificou para que ele tivesse um presente especial para dar à sua amada. 

Como mandalas coloridas, existem mais de 400 desenhos diferentes e normalmente uma tecelã aprende a fazer com maestria todos eles ao longo da vida, pois a arte é ensinada de geração em geração. Muitas mulheres têm no ñanduti sua única fonte de renda, o artesanato produzido aos arredores de Assunção é distribuído por todo o país e enfeita roupas, quadros e até mesmo as garrafas térmicas usadas para o tererê.

A tecelã primeiramente desenha o bordado no tecido branco preso ao bastidor e com precisão transforma o emaranhado de linhas coloridas num trabalho tão complexo quanto uma teia de aranha. E esta referência não é apenas coincidência, a palavra “ñadú”, em guarani significa “aranha”.

A arte centenária pode ser comprada na rua, em feiras e lojas típicas em várias cidades. Ciudad Del Este, famosa pelos artigos eletrônicos a preços baixos é repleta de tendas que oferecem o Ñaduti. Bem como as praças do micro-centro de Assunção, onde o bordado é praticamente parte da paisagem.

Porém, as tecelãs temem que a tradição vá sumindo com o tempo porque os jovens já não demonstram tanto interesse pelo artesanato e as sábias da agulha e da linha estão envelhecendo. Resta torcer para que as novas gerações consigam valorizar esta arte que enche as ruas do Paraguai de cor e vida.