Marília Chaves Peixoto, pioneira da ciência no Brasil

Marília Chaves Peixoto (1921-1961), engenheira, matemática e professora, é uma referência mundial na Matemática. Ao lado Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha (1829-1864), também matemático, maranhanse, é o referencial quando o tema é Sistemas Dinâmicos. Neste dia 5 de janeiro completam-se 55 anos da morte de Marília, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasília de Ciências.

Marília Chaves Peixoto

O nome da gaúcha, fronteiriça, nascida em 24 de fevereiro de 1921, foi resgatado em artigo científico pelo matemático João Batista Nascimento, da Universidade Federal do Pará (UFPA), em função do carioca Artur Ávila Cordeiro de Melo ter conquistado, em agosto de2013, a Medalha Fields, tida como o prêmio Nobel da Matemática – criada em 1936.

Na introdução de seu texto "Primeiras Doutoras em Matemática no Brasil",  o professor Nascimento afirma que "no decorrer da história da matemática, discriminação da mulher tem sido profundamente arraigada, havendo um fator preponderante: qualquer obstrução no desenvolvimento matemático afasta das profissões de Exata e Tecnologia, seja qual for a versão social disto de cada época, quando tais ocupações proporcionam as melhores rendas e, portanto, essas obstruções ocorrem por múltiplas ações. Logo, trata-se de problemática profunda que faz este ser diminuto buquê de rosas, almejando que sirva literalmente de motivo na construção de outros florais".

No artigo de Nascimento, Marília e Souzinha são estabelecidos como “pais da Medalha Fields Brasileira”, já que, entre outros detalhes importantes, a cientista gaúcha é a primeira brasileira eleita para a Academia Brasileira de Ciências.

O articulista faz comparativos com a área de ensino, especialmente da matemática e dos temas inerentes a ela. Critica o sistema, que pouco informa à sociedade, exige em demasia e não estimula a base de formação. “Para ensino, formação docente para escola básica, fora raríssimas exceções, nada disto temos para oferecer, tende ser tratados por lixo acadêmico, serve numericamente para engrossar orçamento, cuja perspectiva profissional são os piores salários de todos com nível superior. Tem mais: o visível no horizonte é encontrar uma escola pública dominada pelo pior das “politicagens” e absurdamente refratária ao que possa prestar como educação para o povo. Isso quando a má formação já não o ¨preparou¨ para esse advento” – argumenta o articulista.

Quem foi a cientista

Marília Magalhães Chaves, nascida em 24 de fevereiro de 1921, em Sant’Ana do Livramento, ainda jovem foi para o Rio de Janeiro. Em 1939 matriculou-se na Escola Nacional de Engenharia, tendo como colegas Maurício Peixoto, com que viria a se casar, e Leopoldo Nachbin. Foi aluna ouvinte no curso de Matemática da Faculdade Nacional de Filosofia, enquanto fazia o curso de Engenharia, concluído em 1943, e atuava como monitora na Escola Nacional de Engenharia.

Sempre distinta nos estudos, ao casar-se com Maurício Peixoto foi sua estimuladora e parceira, sendo ele um dos mais importantes matemáticos brasileiros. O casamento ocorreu em 1946, após a colação de grau, e  tiveram dois filhos: Marta e Ricardo.

Aluna destacada na graduação, em 1948, obteve o grau de doutora em Ciências e foi aprovada em concurso para livre-docente docente na Escola Politécnica. Marília e  seu marido Maurício, também brilhante pesquisador, trabalharam e dirigiram o Gabinete de Mecânica daquela instituição. Seus trabalhos em conjunto sobre funções convexas tiveram repercussão internacional e, em 1951, a professora foi eleita para a Academia Brasileira de Ciências, sendo efetivamente a primeira mulher brasileira a ingressar nos quadros daquela instituição, sendo precedida apenas  por Marie Curie, em 1926, na categoria de associada estrangeira.

Em 1959, publicou nos Anais da Academia Brasileira de Ciência, em conjunto com Maurício, o trabalho “Structuralstability in the plane with enlarged boundary conditions”. O teorema Peixoto, como ficou conhecido, trata da caracterização dos sistemas estruturalmente estáveis em variedades bidimensionais. Marília faleceu, prematuramente, no dia 5 de janeiro de 1961.