Celso Sabadin: Osvaldão é filme obrigatório sobre líder do Araguaia

Entre as várias funções e facetas do cinema, uma das mais fascinantes é a de ajudar a reescrever a história. Neste sentido, dezenas de documentários brasileiros já vêm, há tempos, formando e reformando um amplo painel da nossa história recente, principalmente em relação à ditadura aqui instalada em 1964.

Por Celso Sabadin

Osvaldão - Divulgação

A abertura de documentos até então mantidos em sigilo e os trabalhos da Comissão da Verdade em muito contribuíram e contribuem para desenterrar – às vezes literalmente – capítulos deste passado de chumbo que necessita vir à tona, para que nunca mais aconteça.

Mais um destes capítulos chega agora aos cinemas. Trata-se do documentário Osvaldão, sobre a trajetória de Osvaldo Orlando da Costa, um dos principais líderes da Guerrilha do Araguaia. Produzido de forma independente através de financiamento coletivo via internet, Osvaldão é fundamentado por um rico material de arquivo, e atualizado com depoimentos de parentes e pessoas que conviveram com o biografado. Uma biografia, diga-se, que também poderia render um ótimo trabalho ficcional. Com quase dois metros de altura, negro e campeão de boxe, Osvaldo nasceu em família de orientação esquerdista, e ainda bastante jovem obteve uma bolsa de para estudar na então Tchecoslováquia. Ali, aprendeu a falar o idioma local fluentemente (pelo menos pra mim, pois não entendo uma palavra de checo), chegando a participar com destaque de um documentário que mostra a atuação de estudantes estrangeiros naquele país. Ao estourar o golpe de 64, Osvaldo retorna ao Brasil, entra para a luta armada e desenvolve um trabalho de força e resistência no Araguaia. Foi temido pelos militares e seu nome virou lenda na região. Moradores contam mitos, dizendo que Osvaldão se desviava das balas e se transformava em pedra e cupinzeiro. O que ajuda bastante na construção cinematográfica de um personagem por si só já bastante atrativo.

Osvaldão é dirigido por quatro diretores que compõem o Coletivo Gameleira: Vandré Fernandes (produtor de Camponeses do Araguaia, de 2011), Ana Petta (produtora de Repare Bem, de 2013), Fabio Bardella (integrou as equipes de produção dos longas As melhores coisas do mundo e VIP’S) e André Michiles (codiretor de Olhares Cruzados e Através).

Independente inclusive em sua distribuição, o filme levou dois anos para ser realizado. Teve gravações no Rio de Janeiro, Pará, Tocantins e Minas Gerais, e é mais um daqueles que entra na galeria de filmes que deveriam ser exibidos em escolas de todo o país. Com debates. Para que nunca mais nenhum desavisado venha falar em volta da ditadura.

Fonte: Planeta Tela