Professores fazem ato em SP contra o impeachment

A Sala dos Estudantes, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, extrapolou sua lotação na manhã desta quarta-feira (16), durante o ato público “Professores contra o impeachment”, organizado pelo movimento “Impeachment, Legalidade e Democracia”.

ato no largo de são francisco

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e a primeira-dama, Ana Estela Haddad, estiveram no ato, que teve a adesão de educadores como Marilena Chauí, Paulo Arantes, Leda Paulani, André Singer, Maria Vitória Benevides, Miguel Nicolelis, Roberto Schwarz, Luiz Gonzaga Belluzo, Luiz Carlos Bresser-Pereira, entre outros. O secretário de Direitos Humanos da capital paulista, Eduardo Suplicy, também estava na plateia. Os docentes representam USP, Unicamp, UFRJ e FGV.

O documento “Impeachment, Legalidade e Democracia”, lançado durante o ato, tem mais de sete mil assinaturas e questiona a legalidade do pedido de impeachment elaborado contra a presidenta Dilma Rousseff. “Na última vez que a democracia nos foi arrancada, levaram junto vidas de muitas pessoas”, afirma o documento divulgado pela Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp).

Os professores ressaltavam, em suas falas, que o ato não tinha a finalidade de apoiar o governo, mas combater “ideias golpistas”. Os discursos foram contundentes e os oradores utilizaram expressões como “orquestração de neoliberais”, como afirmou Bresser-Pereira. Nas palavras de Beluzzo, a medida “vai na contramão de todo o esforço que a sociedade brasileira fez para construir uma sociedade mais justa e igualitária”.

A professora de Filosofia da USP, Marilena Chauí, criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Há quinze dias, o FHC deu uma entrevista dizendo que o mercado é favorável ao impeachment. Eu acho fantástico um sociólogo desse tamanho dizer ‘mercado’ como se fosse um ente próximo. Quem quer é a elite e a classe média fascista, que operam apenas para garantir a manutenção de uma sociedade da desigualdade.”

“Em lugar de fazer a defesa de Dilma, os professores optam por um documento apartidário que se preocupa com o mal que a interrupção da democracia pode provocar em nosso país”, alertou Roberto Shwarz.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor da FGV, afirmou que “o liberalismo representa as elites, que não aceitam a democracia” e que, por conta disso, “lutar pela democracia, nos dias de hoje, não é uma retórica, mas uma realidade”.

Os professores anunciaram que estarão no grande ato desta quarta-feira (16), às 17h, em São Paulo, contra o golpe.

Confira o manifesto dos professores:

Nós, professores universitários abaixo assinados, vimos a público para reafirmar que o impeachment, instituto reservado para circunstâncias extremas, é um instrumento criado para proteger a democracia. Por isso, ele não pode jamais ser utilizado para ameaçá-la ou enfraquecê-la, sob pena de incomensurável retrocesso político e institucional.

Por julgar que o processo de impeachment iniciado na semana passada pelo presidente da Câmara dos Deputados serviria a propósitos ilegítimos, em outras ocasiões muitos de nós nos pronunciamos contrariamente à sua deflagração.

Com ele em curso, defendemos que o processo não pode ser ainda mais maculado por ações ou gestos oportunistas por parte de quaisquer atores políticos envolvidos. Papéis institucionais não podem, nem por um instante, ser confundidos com interesses políticos pessoais, nem com agendas partidárias de ocasião que desprezem o interesse da sociedade como um todo.

O processo de impeachment tampouco pode tramitar sem que o procedimento a ser seguido seja inteiramente conhecido pela sociedade brasileira, passo a passo. Um novo teste para a democracia consistirá, assim, em protegê-lo de lances obscuros ou de manobras duvidosas, cabendo ao Supremo Tribunal Federal aclarar e acompanhar, em respeito à Constituição, todas as etapas e minúcias envolvidas.

É inegável que vivemos uma profunda crise, mas acreditamos que a melhor forma de enfrentá-la é com o aprofundamento da democracia e da transparência, com respeito irrestrito à legalidade. Somente assim poderemos extrair algo de positivo deste episódio. Manobras, chicanas e chantagens ao longo do caminho só agravarão a dramática situação atual.

O que está em jogo agora são a democracia, o Estado de Direito e a República, nada menos. Acompanharemos tudo com olhos vigilantes e esperamos que, ao final do processo, a presidente da República possa terminar seu mandato.