Na Paraíba, Luciana conclama união do povo em defesa da democracia

Durante ato “Paraíba Pela Democracia”, realizado no Teatro Paulo Pontes, em João Pessoa, líderes partidários, artistas, representantes de movimentos sociais e sindicais fizeram um belo momento de integração e mobilização para a passeata contra o golpe que acontece nesta quarta-feira (16), em todo o país. O recado do povo paraibano foi claro: “Aqui os golpistas não passarão!”.

Luciana Santos na Paraíba - Fotos: João Paulo Seixas

O ato aconteceu na manhã desta terça-feira (15), e foi mobilizado pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB). Entre cerca de mil pessoas presentes estavam o músico Chico César e o reitor da Universidade Estadual da Paraíba, Rangel Junior. A presidenta nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos, participou do evento e elogiou a iniciativa. “No Brasil o que nós precisamos num momento como esse é de coragem!”

“Aqui os golpistas não passarão”, proclamou o governador. Ele incentivou a população a defender o mandato da presidenta Dilma Rousseff e a lutar contra o golpe e contra forças que ameacem as conquistas sociais e políticas conquistadas desde a redemocratização. “Esse é um momento histórico, não tenho dúvidas. Nós estamos abrindo as portas para muitas coisas que vão acontecer daqui por diante em defesa da democracia e da legalidade”, afirmou.

Para o governador é importante punir os que estão envolvidos em escândalos de corrupção e que atentam contra o Estado Democrático de Direito. Ele também fez referência ao papel da mídia na construção do ambiente do golpe. “Existem forças muito maiores que tentam dominar a mente coletiva de uma população. Forças que passaram 24h transmitindo um ato que não existiu no Brasil afora e que se acham no direito, mesmo sendo uma concessão pública, de não ter absolutamente nenhum tipo de regulação. Não existe democracia sem regulação.”

Muito aplaudida, Luciana disse que o ato honra a memória de paraibanos ilustres como Celso Furtado, André Vidal de Negreiros, Ariano Suassuna e Margarida Maria Alves, e reforçou o caráter estratégico da luta contra o golpe. “Aqui nós não estamos discutindo partidos políticos, nem governos, nós estamos discutindo um projeto político de país, estamos discutindo as conquistas, o legado de luta dos trabalhadores.” E continuou: “Nós somos um país de lutadores, de homens e mulheres libertários, que lutam pela democracia e pela liberdade”.

De acordo com a presidenta do PCdoB, o momento político é complexo, mas é preciso ficar claro que parte dessa crise se deve ao fato de que as elites brasileiras não se conformam com a ascensão dos trabalhadores, com a inclusão social promovida pelos governos Lula e Dilma, e com o enfrentamento desigualdade regional, entre outros fatores. “Eles não suportam ver a ascensão de mais de 40 milhões de brasileiros que saíram de abaixo da linha de pobreza, a política de ajuste de salário mínimo, a infraestrutura para enfrentar a estiagem que nós estamos assistindo no semiárido nordestino com a transposição e com a transnordestina e com todas as intervenções que dizem respeito à convivência com a seca nesse país.” Conclamando os paraibanos a ocupar as ruas do estado nesta quarta-feira. 

Luciana enfatizou o papel do debate de ideias na luta em curso para barrar a tentativa da oposição de impor uma agenda de retrocesso e para construir uma alternativa de retomada do crescimento nacional com redução de juros e maior distribuição de renda. “Precisamos superar o rentismo, garantir que homens e mulheres deste país tenham vez e voz. Por isso, vamos às ruas, mostrar a força do povo paraibano, nordestino, brasileiro! Vamos às ruas para mostrar que nós queremos um Brasil livre, sem retrocesso, e que sabemos defender a democracia, que é o maior bem.”

Representando o PCdoB de Pernambuco, Luciano Siqueira relatou que nos discursos, os argumentos foram bastantes consistentes, houve muita emoção e unidade combativa.

O ato marcou lançamento de um manifesto contra o golpe que conta com a assinatura de Elizabeth Teixeira, liderança das Ligas Camponesas e viúva do líder camponês João Pedro Teixeira, morto pelas forças que deram o golpe de 1964, pelo compositor Chico César, o poeta Sérgio de Castro Pinto, o presidente da Academia Paraibana de Letras, Damião Ramos Cavalcanti, o ator e diretor Luiz Carlos Vasconcelos; o presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba, deputado Adriano Galdino; do presidente da Associação Paraibana de Imprensa, João Pinto; do ex-deputado e líder das Ligas Camponesas Assis Lemos; entre outros deputados, vereadores, políticos e representantes da sociedade civil.

Segue a íntegra do Manifesto:

A PARAÍBA PELA DEMOCRACIA: GOLPE NUNCA MAIS!

Neste grave momento da vida brasileira, em que nosso país está sendo vítima de uma profunda crise institucional, que ameaça os pilares da vida republicana e do Estado Democrático de Direito; a sociedade paraibana, aqui amplamente representada, dirige-se à Nação para reafirmar seu compromisso histórico com as lutas de nosso povo pela construção e defesa de um país justo e democrático, bem como sua firme disposição de repelir a violação dos princípios constitucionais, da legalidade democrática e da soberania da vontade política de nosso povo.

Depois de décadas de arbítrio, obscurantismo e brutalidade, a democracia em nosso país vem sendo arduamente conquistada, mantida e aperfeiçoada pela luta de muitos brasileiros. Nosso país e nosso continente conhecem bem as sempre trágicas consequências decorrentes de conspirações, aventuras e golpes fundados na ruptura da institucionalidade democrática. Sofremos na própria carne os efeitos nefastos da intolerância e da barbárie que emergem, sem controle, desses desatinos obcecados mesquinhamente pela posse absoluta do poder.

Sabemos que há insatisfação de muitos segmentos da sociedade com o atual governo federal, e pode-se ou não concordar com muitas das críticas que estão sendo a ele dirigidas. Tudo isso faz parte do debate democrático pelos rumos do Brasil. Há, contudo, como é notório, uma escalada irresponsável de pressões sobre o resultado da eleição presidencial de 2014, que se vale de toda sorte de manipulações – sobretudo da informação e das normas legais.

Com perplexidade e indignação, temos assistido, nas últimas semanas, a um espetáculo de horrores, promovido por parlamentares questionados na justiça, e por setores inconsequentes de oposição, que, como uma tropa de assalto, esbulham a instituição legislativa e envergonham a Nação.

Não se trata, portanto, de defender políticas de governo, mas de lutar pela preservação dos valores republicanos. Somos, em uníssono e firmemente, pelo

respeito à institucionalidade democrática derivada da Vontade Popular, fundamentada na Constituição Federal. Não pode haver atalhos nem jeitinhos para o exercício legítimo do poder.

É hora dos homens e mulheres comprometidos com o Brasil se levantarem e dizerem não às movimentações sorrateiras e interesseiras daqueles que colocam seus projetos pessoais e de pequenos grupos acima dos interesses maiores do Estado Democrático de Direito, da República e da Nação. O Brasil precisa de estabilidade política para sair da crise. Tramar um impeachment desprovido de fundamento cabal agrava a crise, em vez de superá-la.

Paraibanos que somos, corre em nosso sangue a poesia de Augusto dos Anjos, o ânimo criador de Ariano Suassuna, a coragem de Margarida Maria Alves, a lucidez de Celso Furtado. Acreditamos no Brasil, nos brasileiros e na Paraíba.

Temos confiança no futuro e compromisso profundo com a democracia como direito, como conquista e como valor universal.

Golpe nunca mais!