Do neoliberalismo à cidadania, o Equador visto por Rafael Correa

Objeto de estudo e admiração nos países de língua hispânica, o livro Equador: da noite neoliberal à Revolução Cidadã, do presidente Rafael Correa, chegou recentemente ao Brasil. A obra escrita entre 1993 e 2005 é o primeira do chefe de Estado e traz uma coletânea de artigos sobre os paradigmas de desenvolvimento e política econômica aplicadas em seu país nas últimas décadas.

Por Mariana Serafini

livro de Rafael Correa é editado no Brasil - La Info

O livro de Correa chega ao Brasil sob a tradução do cientista político Emir Sader por meio da editora Boitempo. Apesar de ser um recorte da história econômica do Equador, a obra reflete muito da realidade latino-americana e, obviamente, brasileira. O presidente percorre a trajetória de seu país desde o período colônia, aos tempos de independência, com ênfase no modelo primário-exportador, como no Brasil foi o período do Café, no Equador o cacau e depois a banana, sob a hegemonia britânica. Não à toa o título original é Ecuador – de Banana Republic a La No República.

Segundo o autor, o livro se nutre da reflexão desenvolvida na academia em torno da questão da submissão do Estado e da sociedade equatorianas aos imperativos do dogma neoliberal. “Os artigos tentam fazer um exercício de memória, em um tempo em que se proclama até mesmo a obsolescência da história e se celebra orgiasticamente o espetáculo que proveem os meios hegemônicos sobre a política, sobre a sociedade, sobre a cultura, enfim, sobre a vida”, afirma.

O presidente fala sobre a “longa e triste noite neoliberal” da globalização financeira e o retrocesso que levou os países latino-americanos à dependência das commodities e à subordinação aos ciclos da economia internacional. Com uma narrativa simples, deixa explícitas as semelhanças dos povos que foram submetidos à logica do capitalismo.

Assim como o Brasil, o Equador também sofreu as consequências da submissão ao imperialismo e ao modelo econômico que endividou o país nos bancos internacionais. Alta inflação, corrosão dos rendimentos das classes assalariadas e paralisia industrial, marcam a historia de ambos os países.

“A história do Equador é também a história da América Latina. E se hoje o que une os latino-americanos é o porvir, temos de recordar que compartilhamos uma história de despojo, orquestrada por oligarquias internas e externas, defensoras dos interesses do capital, com o beneplácito de organismos internacionais que desprezam a soberania de Estados e reduzem o interesse geral ao simulacro da democracia liberal", diz o presidente, na apresentação da obra.

Divulgação/Boitempo

Ao publicar suas reflexões, Correa pretende contribuir com o desenvolvimento “daqueles que não tiveram nenhum papel no obscuro roteiro escrito pelos testas de ferro nacionais e internacionais”. A obra evidencia que as semelhanças no período de opressão nos países do Sul não são uma coincidência, e sim um plano muito bem orquestrado que levou tanto o Brasil, como o Equador, dormir o sono da longa noite neoliberal.

Depois de dez anos da publicação no Equador, a obra chega às prateleiras das livrarias e aos sites especializados no Brasil. Infelizmente, uma reflexão bastante atual.