Cunha manobra e adia instalação de comissão do pedido de impeachment

Em mais uma manobra, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), resolveu adiar para a tarde desta terça (8) o prazo para a indicação de nomes para a comissão especial que analisará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Parlamentares da base do governo criticaram a decisão.

Eduardo Cunha anuncia rompimento com o governo Dilma - Agência Brasil

A sessão está prevista para as 14 horas, mas, na previsão de Cunha, a Ordem do Dia só deve começar por volta de 17h30.

Os líderes do governo, José Guimarães (PT-CE); do PCdoB, Jandira Feghalli (RJ); e do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), criticaram a decisão do presidente da Câmara que, segundo eles, juntou-se à oposição e quebrou acordo de que a lista de integrantes seria montada por consenso.

Segundo os três líderes, a oposição não concordou com as indicações feitas pela base do governo e quer elaborar uma lista paralela de integrantes. Os adversários do governo e ala oposicionista do PMDB teriam ficado insatisfeitos com as indicações feitas pelo líder peemedebista de pessoas que seriam majoritariamente contrárias ao impeachment.

De acordo com Cunha, no entanto, o adiamento se deve não só porque partidos da oposição articulam a apresentação de uma chapa alternativa para disputar a composição da comissão, mas também por falta de quórum nesta segunda-feira. Segundo Cunha, uma nova chapa obrigaria a Câmara a providenciar cabines e uma nova estrutura para a votação.

José Guimarães disse que os partidos da base vão discutir hoje possíveis medidas jurídicas e políticas para serem tomadas. “Eles querem compor maioria sem ter maioria. Não aceitamos esse tipo de manobra”, afirmou.

Quebra de acordo

Jandira Feghali criticou Cunha por adiar a sessão. Segundo ela, essa decisão quebra o acordo sobre as indicações, que deveriam ser consensuais. Para ela, o adiamento visa dar mais prazo para a oposição formar a “chapa avulsa” – paralela às indicações dos líderes dos partidos para que deputados pemedebistas anti-Dilma possam integrar a Comissão.

A parlamentar também avaliou que o adiamento poderia atrapalhar a votação da representação contra o presidente da Câmara no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, também marcada para amanhã à tarde. A Comissão de Ética tentará, pela terceira vez, votar o relatório que pede a cassação do mandato de Cunha. Há três semanas, aliados do presidente da Câmara conseguem protelar a análise do relatório no colegiado por meio de manobras.

Leonardo Picciani também criticou o adiamento. “Nós começamos de forma ruim. O acordo era a definição de uma chapa única, mas parte da oposição voltou atrás. O ideal é que haja previsibilidade. O PMDB vai manter os nomes”, declarou.

Segundo Picciani, a possível lista paralela de integrantes a ser anunciada pela oposição pode inviabilizar a instalação da comissão especial sobre o impeachment. “Essa manobra tem consequências mais graves. Pode fazer com que a comissão não se instale. Pode ser que uma chapa seja eleita e, depois, indefinidamente, recuse as indicações da outra chapa.”

"Isso arrebenta com qualquer possibilidade de relação aqui dentro. É inaceitável. Não é mínimo do campo democrático. O processo já começa supercontaminado. Acho que tem o dedo dos tucanos para criar problema", afirmou o líder do PT, Sibá Machado. "Tem uma guerra e vamos para ela do jeito que ela vier".

De acordo com o Valor Econômico, Rede e PSOL também discordaram da decisão do presidente da Câmara. O prazo para indicações de representantes, que já havia sido adiado das 14h para as 18h de hoje

"Golpe em cima do golpe"

A deputada federal Luciana Santos (PE), presidenta nacional do PCdoB, disse ao Vermelho que, além de não ter autoridade moral para comandar um pedido de impeachment, o presidente da Câmara agora promove mais uma manobra, “porque percebeu que a correlação de forças é favorável ao governo”.

Classificando a medida como “um acinte”, ela informou que a bancada governista terá que “exercitar os argumentos regimentais” para impedir que haja o que ela chamou de “uma tentativa de dar um golpe em cima do golpe”.

Segundo ela, Eduardo Cunha age para tentar criar um ambiente que seja favorável à oposição. “E ainda tem a intenção de, no bojo de tudo isso, querer livrar a cara dele no Conselho de Ética”, opinou.

"Sem limites"

Para o também deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), vice-líder do governo, Cunha tenta atropelar os partidos. “O presidente da Câmara Eduardo Cunha perdeu completamente o limite. Não é razoável que ele queira impor a sua vontade. Ele não pode se juntar com a oposição e impor uma comissão. Ele não pode querer impor, junto com a oposição, quem é a comissão especial que vai avaliar um processo tão sério quanto esse”, afirmou. 


De acordo com Orlando, a permissão dada por Cunha para a indicação de chapas avulsas, alternativas às oficiais das bancadas, para integrar a comissão, é um mecanismo criado para que as dissidências dos partidos da base se juntem à oposição e imponham uma correlação de forças que, na sua opinião, é “artificial”.

“A democracia da Casa sempre se pautou pelo respeito aos partidos, e pelo respeito aos líderes partidários. Essa é a tradição da Casa. Você não pode atropelar os partidos. Eu considero que o presidente Cunha passou de todos os limites. Mostrou que não tem a menor condição de seguir presidente da Casa”, disse.

 

Atualizada às 18h20, para acréscimo de informações