Curso Livre Marx-Engels – a teoria como força material para a mudança

Os cursos sobre a obra de Marx e Engels que a Editora Boitempo promove, desde 2008, têm sido marcados pelo grande interesse que despertam no público. O primeiro, em 2008, teve inclusive que mudar de lugar para acolher a todos, e foi realizado no Auditório Elis Regina do Centro de Convenções Anhembi, em São Paulo; lá cabem mil pessoas e, mesmo assim, ficou apertado!

Marx e Engels - Boitempo

Os cursos sobre a obra de Marx e Engels podem ser vistos em vídeos publicados na página eletrônica da Boitempo. E, agora, em livro que a editora acaba de lançar: Curso Livre Marx-Engels: a Criação Destruidora, organizado por José Paulo Netto, com palestras do curso que ocorreu em 2013. Prosa Poesia e Arte publica aqui a apresentação escrita pela editora Ivana Jinkings.

Apresentação

A crise das políticas neoliberais requer do pensamento crítico a desmistificação da realidade social capitalista. Voltar a Marx – e a Engels – impõe-se, portanto, como tarefa fundamental.

Por Ivana Jinkings

Os escritos desses dois gigantes do pensamento universal abarcam da filosofia à economia, passando pela política e pela história, construindo um campo teórico sem precedentes na cultura ocidental. Desde as primeiras publicações de suas obras, ainda no século 19, tornou-se impossível imaginar uma reflexão de fôlego que não leve em conta o legado marxiano.

Karl Marx e Friedrich Engels nasceram durante as guerras napoleônicas, respectivamente em 1818 e 1820, ainda sob o impacto da Revolução Francesa, da irrupção do capitalismo e do monumental trabalho de Georg Wilhelm Friedrich Hegel. A obra que edificaram revolucionou o mundo das ideias e deu impulso ao mais poderoso movimento social e político que a história já conheceu. Nenhum outro conjunto de escritos ou corrente teórica alcançou a transcendência atingida por esses filósofos, que influenciaram intelectual e politicamente a constituição de organizações sociais, partidos políticos, movimentos culturais e Estados populares.

Transformaram o pensamento humano em muitos aspectos – antes de desembocar em uma proposta de conversão revolucionária do capitalismo para o socialismo, a nova teoria modificou as formas de pensar e a própria concepção do que significa a prática política. Iniciaram suas reflexões pela filosofia porque, para intelectuais alemães da época, o maior desafio era decifrar o enigma da obra hegeliana. Esse acerto de contas passou pela filosofia do direito e pela filosofia do Estado, até chegar ao que chamaram de “anatomia da sociedade civil”, no seio da qual jazia a luta de classes. O resgate da dialética de Hegel e a crítica superadora de seus elementos metafísicos trouxeram consigo a maior revolução no pensamento filosófico desde seu surgimento.

Conscientes de sua condição de intelectuais, Marx e Engels concentraram-se numa produção teórica rigorosa – densa e incomparável em curto período de tempo –, mas fizeram também uma opção de classe. E, embora não fossem proletários, assumiram essa perspectiva e tornaram-se militantes e dirigentes internacionalistas do nascente movimento operário europeu. Suas atenções se voltaram para os primeiros levantamentos e para as condições dos trabalhadores, como reação à expansão do capitalismo industrial. Sofreram repressão nos países por onde passaram; fizeram o balanço da Revolução Francesa; participaram da fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), a Primeira Internacional; acompanharam de perto a experiência da Comuna de Paris.

Quase cem anos depois da primeira revolução proletária bem-sucedida no mundo, iniciar a leitura desses autores pode parecer extemporâneo. Por que voltar a Marx e Engels em um momento destes? Faz sentido indagar o vigor com que esse legado chega ao Brasil e ao mundo nos dias que correm? Para os que buscam a transformação revolucionária do mundo, a teoria precisa ser instrumento da política, da materialização de seus ideais em projetos concretos.

Pois a teoria, segundo Marx, “converte-se em força material quando penetra nas massas”. Esperamos, pois, que a leitura deste pequeno volume ajude a pensar a história como uma permanente aventura de liberdade e de utopias, fazendo da articulação entre teoria e prática a chave da construção de um futuro que vislumbre a emancipação humana.

A Boitempo, na melhor tradição marxista, tem se notabilizado não apenas em publicar livros de excelência, mas também em organizar eventos de grande porte, como cursos, seminários, debates e conferências, com importantes pensadores do Brasil e do exterior. Desde 2008, a editora vem organizando cursos livres de introdução às obras de Marx e Engels. Foram realizados na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, e no Sesc Pinheiros. Gravações de todas as edições do curso encontram-se disponíveis gratuitamente no canal da editora no YouTube:

O livro que o leitor tem em mãos foi elaborado a partir da transcrição da quarta edição desse curso, realizada no contexto do projeto Marx: a criação destruidora, com curadoria de José Paulo Netto, em maio de 2013. Organizado em uma parceria da Boitempo com o Sesc-SP, teve o apoio das fundações Lauro Campos, Maurício Grabois e Rosa Luxemburgo, e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP).

As aulas, transcritas, foram revisadas pelos autores e preparadas para o formato escrito. Por se tratar de evento com a participação ativa do público, muitas perguntas foram feitas ao fim da aula de cada autor; neste livro, não transcrevemos as perguntas, mas as respostas a elas foram incorporadas ao texto dos autores, ao final, sempre precedidas de um subtítulo explicativo.

Seguindo o modelo de trabalho da Coleção Tinta Vermelha, os autores abriram mão de receber remuneração pela publicação de seus artigos. E a parceria com a Carta Maior foi também essencial para tornar a obra mais acessível e assim alcançar o maior número de pessoas.

A publicação do 4º Curso Livre Marx-Engels, agora em livro, representa um novo e importante passo, tendo como fio condutor a criação destruidora de Marx e de Engels no desvendamento de nosso presente e do passado, tendo em vista um futuro mais justo e igualitário. Pois se remar contra a corrente é o destino inelutável dos que anseiam por mudanças, esperamos que este volume forneça instrumentos aos que insistem em navegar para superar estes tempos de águas turva.