“Déda defenderia meu nome para prefeito”, afirma Edvaldo Nogueira

O ex-prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PCdoB) concedeu entrevista ao blog Universo Político, na última quinta-feira (19) e segundo o portal, o comunista já tem na ponta da língua o discurso do melhor projeto para a capital sergipana. "Além de mostrar o programa que pretende defender o ex-prefeito sinalizou que soube governar com os aliados".

Edvaldo Nogueira, ex-prefeito de Aracajú

Segue abaixo íntegra da entrevista concedida ao jornalista Joedson Telles, do Univeso.

O ex-prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PCdoB), já tem na ponta da língua o discurso com o qual tentará persuadir aliados de que tem o melhor projeto para Aracaju e para o próprio agrupamento. Além de mostrar o programa que pretende defender objetivando uma Aracaju melhor, Edvaldo afirma, nesta entrevista que concedeu ao Universo, na última quinta-feira (19), que quando foi prefeito soube governar com os aliados. O ex-prefeito pretende mostrar também que seu nome não tem nenhuma vinculação ao projeto de 2018. “Eu, sendo prefeito de Aracaju, vou terminar meu mandato. Não vou ser candidato. Vou terminar meus quatro anos, ficar dois anos sem mandato e só pensar em eleição em 2020. Se eu for prefeito de Aracaju, não terei candidato a deputado estadual, federal, senador e governador. Sou o pré-candidato que a minha eleição não será um pacote que já tem 2016 e 2018. Muita gente já sabe que ganhando a prefeitura já tem candidato para ser senador, governador”, afirma o ex-prefeito, alfinetando aliados e adversários. Edvaldo, inclusive, acredita que o saudoso Marcelo Déda abraçaria sua pré-candidatura. “Eu não tenho dúvida: se Déda tivesse em qualquer cargo, eu acho que ele defenderia meu nome para prefeito. Ele sabia da lealdade, de como fizemos política esse tempo todo, e ele dizia que eu era melhor prefeito do que ele foi. Eu acho que ele ficaria muito satisfeito e ele trabalharia pelo meu nome”. A entrevista:

Evidente que nem é permitido ainda fazer campanha eleitoral, mas Edvaldo Nogueira reside em Aracaju, circula. É possível sentir calor humano nas ruas?

O calor humano é grande. Eu tenho ficado muito impressionado com as manifestações que eu tenho visto na cidade, ressaltando a nossa gestão na Prefeitura de Aracaju, as obras, os serviços, a qualidade de vida que a cidade tinha, a ética com que governava a prefeitura, o zelo, a eficiência da administração, a organização da administração pública, os pagamentos em dia dos servidores. Todo esse projeto que colocamos em prática na Prefeitura de Aracaju, hoje, a população reconhece. Eu estou vivendo um momento muito feliz, porque sinto na população de Aracaju um grande reconhecimento ao nosso trabalho, e ao tempo uma grande frustração na administração de João Alves, que prometeu transformar Aracaju num céu e terminou transformando num grande purgatório. A cidade está muito abandonada, com muitos problemas agravados pela política do atual prefeito de Aracaju. Eu sinto que há na cidade uma simpatia, uma saudade, um sentimento muito positivo em relação à nossa gestão, em relação a mim como administrador público. Isso tem me dado uma felicidade imensa. Eu tenho andado nas ruas, tenho ido ao Mercado, tenho feito reuniões com amigos e com outras pessoas, participado de eventos sociais, como lançamentos de livros, shows, e tenho percebido alegria nas pessoas. E o que mais me chama atenção é que, no momento que as pessoas estão tão desacreditadas da política, eu sinto que há um carinho, um sentimento muito importante em relação a minha pessoa, e em relação ao que fizemos na Prefeitura de Aracaju.

O senhor fala em frustração da população, mas João Alves foi governador de Sergipe por três vezes e deixou inúmeras obras. O que falta para o João Alves governador se encontrar na Prefeitura de Aracaju?

Primeiro, eu acho que João Alves nunca quis ser prefeito da cidade. A prefeitura para ele era apenas uma passagem. Ele não tem cabeça de prefeito, visão de prefeito. Ele não tem o senso da resolução dos problemas cotidianos da cidade. Ele queria a prefeitura para servir de trampolim para o governo. Ele é governador. Ele nunca se sentiu prefeito da cidade. Quando pensou em ser prefeito não era para fazer uma obra, é tanto que o que ele falou na campanha eleitoral não conseguiu realizar, porque ele queria a prefeitura como trampolim para chegar ao Governo do Estado. Ele foi candidato em 2012 porque ele queria ser candidato a governador, e não queria ficar na prefeitura até 2016, e, agora, de novo vai se repetir. Ele quer a reeleição para prefeito em 2016 para ir para eleição do governo em 2018.

É possível separar as críticas feitas a João Alves do momento econômico do país? Da crise?

Claro. Agora que é um momento econômico e político delicado, mas ele já foi prefeito por dois anos num momento melhor do Brasil. A outra coisa que você pode observar é que João teve condições de criar mais recursos que ele conseguiu da maneira errada, mas ele teve. Deu o maior aumento no IPTU da história de Aracaju dos últimos 20 anos. Ele criou a taxa de iluminação pública, que desde 2000 não tinha mais com Déda na prefeitura e comigo. Aracaju era a única cidade no país que não tinha taxa de iluminação. Ele criou a taxa de iluminação pública que deu a ele um acréscimo entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões ao ano, e a cidade continua às escuras, principalmente as zonas mais periféricas. Ele vendeu a folha de pagamento dos servidores por R$ 30 milhões à Caixa Econômica Federal. Isso tudo de dois anos para cá. A crise, ele compensou com aumento de IPTU. Nós nunca aumentamos impostos na proporção que João Alves aumentou. A gente corrigia a inflação, era o IPCA médio. Ele desequilibrou as finanças quando ele só pensou na política. Ele criou 700 cargos de comissão, criou secretarias, inclusive sem necessidade, porque a Emurb fazia o trabalho. Não precisava ter Secretaria de Obras e Emurb, mas ele criou cargos para acomodar interesses políticos porque ele queria ser governador. A campanha começou no dia que ele entrou na Prefeitura de Aracaju, para ser governador em 2014. Não conseguiu ser porque Jackson superou, mas ele trabalhou para ser governador, e isso desestruturou financeiramente a prefeitura. Quando eu era prefeito, a folha de cargos de comissão era R$ 19 milhões ano. Ele passou para quase R$ 70 milhões por ano. A publicidade na nossa administração era R$ 5 milhões e ele passou para quase R$ 19 milhões. E aí desequilibrou e em outros pontos como licitação, obra parada, os recursos da Caixa que eu deixei e ele fazendo nossos projetos… Toda essa incapacidade de tocar a gestão municipal gerou essa confusão – e agora com a crise a situação vai ficando pior. Ele não pode justificar apenas com a crise o problema da prefeitura. Os problemas da Prefeitura de Aracaju foram gerados pelas medidas equivocadas que ele tomou no início da gestão. Agora, Aracaju está pagando caro por essas medidas equivocadas eleitoreiras, ou por outros interesses. Não que não tenha a crise. O Brasil está vivendo uma crise, mas não é a justificativa para todos esses erros que foram cometidos por essa gestão. Ele devia ter se planejado para a crise, devia ter criado soluções de austeridade, diminuição dos gastos para poder administrar esse momento difícil. Essa é a diferença de quem é um gestor público. Tem que antever e saber tomar medidas para passar a crise.

A culpa e do prefeito apenas ou do secretariado também?

O problema está no prefeito. Eu acho que essa ideia de transferir culpa para o secretário é uma ideia que ele tenta se eximir da culpa. Aliás, é uma característica de João Alves tentar transferir uma culpa que é dele para os outros. Quando ele era governador dizia que a culpa era de Lula. Quando assumiu a prefeitura, nos dois primeiros anos, ele disse que a culpa era minha. Depois ele disse que a culpa era de Déda, depois de Jackson. Chegou até culpar o prefeito de Socorro em relação aos transportes. Agora, ele está querendo achar que a culpa é dos secretários. Quem escolheu não foi ele? A culpa é do gestor. O gestor tem que assumir a responsabilidade. Eu fui prefeito de Aracaju e você nunca me viu colocar culpa em cima de secretário de problema da prefeitura. Acho que é errado. Se a culpa é do secretário, troque. Ele tem o poder da caneta. Essa é uma tentativa de criar uma cortina de fumaça para que as pessoas não percebam onde está a raiz do problema, que está na impossibilidade do atual prefeito de governar a cidade. Na incapacidade que ele está tendo. É algo muito grave, de fato, o que está acontecendo. A prefeitura não está tendo comando para enfrentar os problemas. Tem problemas que não se pode resolver, mas tem que ter ação, capacidade de enfrentá-los.

O fato de João Alves e Edvaldo Nogueira conhecerem a máquina municipal como gestor e ex-gestor, respectivamente, em ambos sendo candidatos, podem polarizar a disputa?

Eu acho que sim. A polarização vai ser entre os dois modelos, onde Aracaju foi a cidade da qualidade de vida, quando a Rede Globo veio aqui e fez um programa de quase 15 minutos. Aracaju nunca teve tão bem vista no cenário nacional, porque, de fato, a cidade, mesmo com seus problemas, era uma cidade que se destacava dentre as capitais do Nordeste e de até algumas cidades do Brasil. Naquele ano foi eleita a melhor cidade de qualidade de vida do país, fruto do modelo da administração, inclusive os aspectos positivos que ainda hoje a cidade tem frutos daquele momento. Não houve nada dessa administração que agregasse coisas positivas. Aracaju ainda está vivendo daquilo que nós deixamos, apesar de muita coisa ter entrado em deterioração pela ausência da atual administração. Eu acho que vai ser essa polarização, mas não quero que fique apenas essa polarização. Caso eu seja candidato, nós temos novas ideias para Aracaju, novos projetos que serão colocados em prática como colocamos o que fizemos. Eu posso dizer que tenho possibilidades de fazer as coisas na cidade de Aracaju porque eu já fiz, e o conjunto de forças e de pessoas que está junto na nossa coligação são pessoas capazes de tocar a administração junto comigo. Vai ser a polarização da situação que a cidade está, muito ruim, comparada ao que já foi, e ao mesmo tempo, se houvesse essa continuidade o futuro seria muito melhor porque teremos capacidade de enfrentar a crise. Eu sei que a prefeitura, em 2017, vai estar com mais dificuldade, mas é possível a gente trazer ideias novas, novas propostas para que Aracaju volte a ser uma cidade contemporânea do seu tempo. Esse é o nosso desafio: enfrentar os grandes problemas, recuperar o tempo perdido nesses quatro anos e avançar ainda mais no futuro da nossa cidade.

Como Edvaldo pretende convencer os aliados e conquistar apoio para a pré-candidatura a prefeito de Aracaju?

Pretendo convencer mostrando o programa que vamos defender. Mostrando que somos capazes de fazer uma gestão que foi importante para a nossa cidade. Mostrando que quando fui prefeito soube governar com os aliados, sem com isso fazer politicagem e mostrando também aos aliados que eu sou o nome que não tenho nenhuma vinculação ao projeto de 2018. Eu, sendo prefeito de Aracaju, vou terminar meu mandato. Não vou ser candidato. Não tenho pretensões de, em 2018, sair da prefeitura e deixar alguém. Vou terminar meus quatro anos, ficar dois anos sem mandato e só pensar em eleição em 2020. Se eu for prefeito de Aracaju, não terei candidato a deputado estadual, federal, senador e governador. Sou o pré-candidato que a minha eleição não será um pacote que já tem 2016 e 2018. Muita gente já sabe que ganhando a prefeitura já tem candidato para ser senador, governador. A minha candidatura permite que os partidos aliados tenham possibilidade de serem outras coisas no futuro. Eu não sou o candidato que já trago a impossibilidade de crescimento dos outros nomes da coligação. A minha candidatura representa uma renovação grande no sentido de que, em 2018, para a nossa coligação vai estar aberto para todos os partidos disputar porque eu não tenho ninguém vinculado a mim em 2018, a exceção do governador Jackson se for candidato, mas ele já disse que não é.

Já conversou sobre a eleição de Aracaju com o governador Jackson Barreto?

Conversamos antes da cirurgia que ele fez. Acho que a condução dele é muita correta. Ele vai ter um grande papel na condução desse projeto. Eu acho que Jackson tem que assumir o papel de coordenador da nossa coligação a partir do ano que vem. Foi isso que nós conversamos. Ele não tem candidato ainda, mas quer que nosso grupo tenha um candidato contrário à pré-candidatura de João Alves, uma candidatura que possa derrotar João. Eu tenho com Jackson uma ligação histórica muito grande. Jackson foi meu primeiro voto em 1982, eu era estudante e fiz campanha para ele na universidade para deputado federal, e fui um dos coordenadores dele para a Prefeitura de Aracaju em 1985. Trabalhei na prefeitura com Jackson em 85. Fomos vereadores juntos em 1988. Tivemos juntos em todas as batalhas políticas. Jackson me conhece, sabe da minha lealdade, do meu compromisso. Obviamente, ele sabe do meu compromisso com a cidade de Aracaju e da minha capacidade de unificar e atuar para resolver os problemas. Eu tenho com Jackson uma relação de muita admiração, carinho e lealdade política. Eu abri mão da minha candidatura ao Senado para o PT, para não dificultar a construção da candidatura majoritária. Acho que o papel de Jackson vai ser muito importante nessa definição de candidatura. Espero que a gente possa encontrar nesses emaranhados de candidaturas. Nesse período é natural que os partidos lancem seus pré-candidatos. O PSB com Valadares Filho, o PT com Ana Lúcia, o PMDB com Zezinho Sobral, mas acho que no final das contas teremos que encontrar um denominador comum e ter um candidato que possa ganhar a eleição, e que também, além de enfrentar com possibilidade de ganhar a eleição, seja o candidato que permita que os partidos da coligação cresçam também. Um partido não pode querer ter todos os cargos da coligação. É preciso que haja um equilíbrio de forças na nossa coligação e que a campanha para a candidatura a prefeito de Aracaju permita além de ganhar a eleição, que os outros partidos tenham espaço em 2018.

Acredita que Marcelo Déda defenderia o seu nome dentro do grupo para disputar a eleição?

Eu não tenho dúvida: se Déda tivesse em qualquer cargo, eu acho que ele defenderia meu nome para prefeito. Ele sabia da lealdade, de como fizemos política esse tempo todo, e ele dizia que eu era melhor prefeito do que ele foi. Eu acho que ele ficaria muito satisfeito e ele trabalharia pelo meu nome.

Pela sua ligação com Déda, seria uma forma de ressaltar o legado?

Somos da mesma geração, tínhamos praticamente a mesma idade, ele faria no ano que vem 56 anos, em março, e eu faço em janeiro 55 anos. Entramos juntos na universidade, depois nos encontramos no movimento estudantil. Éramos de correntes diferentes, mas quando entramos na vida política, a partir de 89, começamos a caminhar juntos. Tivemos uma trajetória de luta política juntos e depois tivemos a felicidade nos encontrarmos na Prefeitura de Aracaju, nas batalhas eleitorais e construímos essa trajetória que o povo conhece. As ideias que Déda defendia são as ideias que eu também defendo, além de outros caminhos que eu também defendo. É o resgate dessa construção que será para o futuro da cidade. Vamos resgatar o que fizemos, mas ao mesmo tempo pensar em coisas novas. O que eu quero debater se for candidato são projetos inovadores para enfrentar os problemas. Aracaju precisa dar um salto porque ficou paralisada durante esses quatro anos.

Por que Edvaldo Nogueira não aceita um debate sobre as gestões João e Edvaldo com o secretário de comunicação, Carlos Batalha?

Porque não tem sentido. O secretário é um auxiliar do prefeito. Ele não é o prefeito. O secretário de comunicação é para defender o governo. Ele é, inclusive, remunerado para isso. Ele não foi eleito. E por que eu vou debater com o secretário? Eu sempre recebi injúrias, calúnias, uma série de agressões, mas respondo com orações. A cada agressão do secretário de comunicação eu respondo com um Pai Nosso e uma Ave Maria. Eu debato com o prefeito na hora que o prefeito quiser. Eu fui prefeito e não vou debater com o secretário. Eu debato com o prefeito na hora que ele quiser. Eu não escolho veículo. Pode ser em qualquer programa, num auditório. Debater minha administração, a dele, fazer as comparações, as inquisições, discutir a cidade. Está o desafio colocado e eu tenho certeza que esse desafio virá. Se não for hoje será mais na frente. Se Deus quiser, vamos ter a oportunidade de debater e eu estou esperando essa oportunidade. Eu aceitei todas as agressões porque eu sei que terá um momento para o debate e o povo de Aracaju vai julgar.

O senhor é acusado de usar sempre uma emissora de rádio, que critica muito a gestão João Alves, para dar recados. O que pensa deste tipo de crítica?

Eu não tenho rádio e nenhum meio de comunicação. Eu não utilizo porque não tenho nenhum vínculo com nenhum jornalista numa emissora de rádio. Na semana passada, eu dei entrevista no programa de Gilmar Carvalho, na Mix FM. Falei quase duas horas. Vou ao programa de Jailton Santana, na Ilha, vou ao programa da 103 FM (George Magalhães). Essa é mais uma fantasia. As pessoas não têm argumento e levantam fantasia. Estou colocando as minhas ideias e estou debatendo coma sociedade. Eu faço o debate livre. Eu não respondo a um debate com o secretário porque acho que não devo debater com ele. Ele é um funcionário da prefeitura. Uma pessoa que está a serviço do prefeito. Eu quero debater com o prefeito não com quem está a serviço do prefeito, porque não me interessa isso e acho que não tem necessidade. Se eu tivesse secretário de comunicação, o colocaria para debater com o secretário, mas eu não tenho porque não sou prefeito.