Ações de empoderamento negro ganham cada vez mais as ruas do país

Eles estão cansados dos rótulos impostos pela grande mídia e dos séculos de imposição do padrão social de “embranquecimento”. Eles possuem as mais variadas idades, profissões e são de diversas regiões do país. Cada vez mais, a população negra vem saindo às ruas, para demonstrar orgulho das suas origens e denunciando as tentativas de rebaixamento, impostas pelas ações do racismo e preconceito institucional.

Por Laís Gouveia

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Ás ruas de Brasília foram tomadas por mulheres negras de todo o país e delegações vindas da América Latina e África. A Marcha da Mulher Negra, que ocorreu nesta quarta-feira (18) e reuniu cerca de 10 mil pessoas, teve como intuito o papel de buscar uma reparação histórica do seu protagonismo e dar visibilidade as suas movimentações, tendo em vista que, a mulher negra, ocupa as principais estatísticas de subempregos, feminicídios e baixa escolaridade, reflexos do histórico descaso promovidos nos últimos séculos.

“O Brasil é crespo!”

A 1ª Marcha do Orgulho Negro, que ocorreu em São Paulo em julho deste ano, levou a importância da identidade negra para as ruas na Avenida Paulista.

Participante da manifestação, Maria do Carmo, professora, afirmou que é preciso um processo de aceitação das origens para criar o empoderamento, “Não alisar seu cabelo e aceitar como ele é, naturalmente é ir contra o padrão que a sociedade nos impõe”.

Na página do Facebook do “Orgulho do Cabelo Crespo” os organizadores da marcha publicaram uma mensagem sobre o sucesso o evento.

“Logo que realizamos a 1ª Marcha do Orgulho Crespo, fomos procuradas por diversas pessoas do Brasil todo, que queriam levar o evento para as suas cidades. Desde então, temos trabalhado com algumas dessas articuladoras para que o movimento tenha coerência com a proposta original e se fortaleça no âmbito nacional"


Apenas no mês de novembro, ocorreram marchas do orgulho crespo em Feira de Santana, Porto Alegre e no próximo dia 29 a manifestação será em Brasília. 

Dia de Combate à Intolerância Religiosa

Lutando contra o preconceito intrínseco na sociedade perante as religiões de matrizes africanas, foi estabelecido em 1997, o dia 21 de janeiro como o “Dia de Combate à intolerância Religiosa”. Todos os anos, várias manifestações culturais ocorrem no sentido de denunciar a desinformação e perseguições aos praticantes da Ubanda e Candomblé. Recentemente, um episódio chamou a tenção da sociedade. A menina Kaylane, de apenas 11 anos de idade, caminhava na rua após participar de uma festa de Candomblé no Rio de Janeiro, quando foi atacada com pedradas. A criança se feriu na cabeça.

Na época, a deputada estadual Leci Brandão comentou o episódio. “Uma menina de 11 anos que poderia ter sido morta por usar branco e acreditar em um orixá. Eu, Leci Brandão, ando de branco toda sexta-feira, dia de Oxalá, todos os meus trabalhos musicais, desde 1985, fazem saudações para um Orixá na última faixa e na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) faço a defesa da religião de matriz africana, pois meu mandato cumpre também o papel de desfazer preconceitos e dar voz as minorias”, afirma.

Intolerância Religiosa é crime

Apesar das tímidas punições dos atos de racismo que ocorrem no país, desde 1989, o ato de discriminação, preconceito de raça, cor, etnia, religião são considerados crimes no Brasil. A Lei nº 7.716, pune o infrator com reclusão de dois a cinco anos e multa.